Acordei cedo na manhã seguinte. Mas, estava um frio terrível, e a cama estava tão quentinha. Decidi dormir mais um pouco. Estava me sentindo bem, como se estivesse leve e confortável.
Quando decidi levantar, já eram quase oito horas. Troquei de roupa, e fui ao banheiro. Novamente improvisei uma escova de dentes com o dedo. Lavei o rosto na água fria, ajeitei o cabelo e desci.
A casa estava silenciosa. Fui até a sala, e não tinha ninguém, nem na cozinha. Fui até a varanda dos fundos, nada. Voltei para dentro e sentei no sofá, da sala principal. Fiquei ali pensando se Kurt ainda estava dormindo, ou o que estava fazendo. Até que decidi subir e procurá-lo. Topei com Courtney no corredor, saindo do quarto dele, com uma jaqueta na mão.— Ele não tem jeito — ela disse, sacudindo a cabeça — Guarde bem suas roupas, antes que ele pegue.
A porta do quarto estava aberta, de onde eu estava dava para ver que ele estava deitado, mas só via as pernas dele.
— Ele está bem?
— Ou ele está fazendo seu drama matinal ou está drogado. Sinceramente, eu não ligo. É só ignorar que o show acaba.
— Ah.
Frances estava no carrinho de bebê, em frente ao quarto dela. Courtney foi até lá e veio empurrando o carrinho:
— Eu tenho um compromisso, estou atrasada. A gente se vê mais tarde, tudo bem?
— Tá bom, até mais.
Ela pegou o carrinho e desceu. Eu olhei para trás, para ver se ela tinha ido mesmo, e tinha. Fui até o quarto do Kurt e entrei depressa. O quarto tinha um cheiro horrível. Ele estava deitado de lado, imóvel, com a boca aberta, babando, os olhos vidrados em alguma coisa. Havia vômito na cama e quando me aproximei, vi que ele estava todo mijado.
Tapei a boca com a mão, chocada demais. Toquei seu ombro.— Kurt? Ah, meu Deus... Kurt?
Sacudi seu ombro, e em resposta ouvi apenas um murmúrio. Eu não podia deixá-lo naquele estado, deitado em vômito e em xixi. Olhei em volta, depois para ele, pensando no que eu podia fazer. Tinha que tirá-lo dali.
— Ok, eu consigo.
Sacudi seu ombro de novo:
— Kurt?
Ele olhou para mim por um momento, depois voltou a encarar o nada. Peguei-o por baixo dos braços, e o levantei, fazendo ele sentar. Ele olhou para a cama e para suas pernas, e deve ter entendido que tinha que sair dali. Jogou as pernas para fora da cama, devagar, e se agarrou em meus braços. Levantei ele, e praticamente o arrastei até uma poltrona no canto do quarto. Olhei ele sentado.
— Temos que trocar suas roupas. — falei.
Acho que ele não entendia o que eu dizia, estava aéreo, dopado. Fui até a cômoda perto da janela, peguei uma camisa limpa e uma calça de moletom. Quando passei pela cama, indo até ele na poltrona, vi uma seringa, uma colher e um isqueiro na mesa de cabeceira.
Meu coração apertou, senti vontade de chorar, mas mantive a postura. Engoli as lágrimas e coloquei as roupas no chão, ao lado da poltrona. Com cuidado, tirei sua camisa. Ele era tão magro e pálido, era lindo.— Olha, desculpa, mas eu tenho que fazer isso. — falei, puxando sua calça de dormir.
Com muito custo, consegui tirar. Ele não estava usando cueca. Fiquei com vergonha, mas continuei o que estava fazendo. Enfiei a calça limpa pelos seus pés, e levantei até os joelhos. Então, levantei ele, que se agarrou nos meus ombros, então pude subir a calça até sua cintura. Pronto.
Não consegui vestir a camisa nele, então deixei para lá, e levantei ele novamente, para levá-lo até meu quarto. Ele não movia as pernas.— Não tem jeito, vou ter que te carregar.
Fiquei com medo de não conseguir, mas ele não era muito pesado, era pequeno e magro. Consegui pegar ele nos braços, mas não foi fácil levá-lo até o outro quarto. Quando enfim o coloquei na minha cama, meus braços queimavam e minhas costas doíam. Deitei ele de lado, ajeitei sua cabeça no travesseiro e o cobri com a colcha. Ele fechou os olhos e continuou quieto.
Eu sentei do seu lado, e enfiei as pernas debaixo da colcha. Não havia muito o que fazer, a não ser esperar o efeito da heroína passar.
***Eu havia encostado a cabeça na cabeceira da cama, e acabei cochilando. Acordei assustada, sem saber quanto tempo havia passado. Kurt ainda dormia ao meu lado, na mesma posição que deixei. Coloquei o dedo embaixo do seu nariz, para ver se estava respirando. Estava.
— O que tá fazendo...? — ele murmurou, ainda de olhos fechados.
— Nada.
— Relaxa, Mad.
Então, ele abriu os olhos, e ergueu o corpo, se apoiando nos cotovelos. Olhou em volta, com os olhos cerrados:
— Por que estamos na sua cama?
— Você meio que sujou a sua, então eu trouxe você pra cá.
Ele pareceu meio sem jeito. Deitou novamente, de barriga para cima, encarando o teto. Ficamos calados por um momento.
— Obrigado, por cuidar de mim. — ele agradeceu, sem me olhar.
Não sabia o que responder, então fiquei calada.
— Seria demais eu pedir para você fazer um café pra mim?
— Não, tudo bem. — assenti.
— Eu faria, mas não vou conseguir levantar dessa cama.
— Eu faço, sem problema. Já volto.
Levantei da cama, e antes de sair pela porta, olhei para trás, para ele. Ele estava me olhando também.
Desci depressa até a cozinha. Vi a cafeteria no armário, ao lado da pia. Peguei a pequena jarra de vidro, joguei o resto de café velho na pia, e lavei. Coloquei de volta, e liguei a cafeteira na tomada. Comecei a procurar onde estava o pó de café. E no fim, encontrei em um pote, na porta de cima do armário. Abri a tampa da cafeteira, coloquei a água, e coloquei o pó no lugar certinho. Então, sentei à mesa e fiquei esperando.
Aquela cena horrível não saía da minha cabeça, nunca me deparei com alguém naquele estado antes. Foi muito impactante. Fechei os olhos e tentei pensar em outras coisas. Pensei no Kurt segurando minha mão, naquela quadra abandonada. Acho que eu nunca ia esquecer isso.
A cafeteira apitou, me trazendo de volta à realidade. Levantei, peguei uma xícara no armário, e servi o café. Subi para o quarto, sem pressa, com cuidado para não derramar o café. Kurt ainda estava deitado, olhando o teto.— Prontinho. — anunciei.
— Pode me ajudar?
— Claro.
Deixei a xícara no chão e sentei na cama. Peguei-o debaixo dos braços e o levantei, ajudando-o a encostar na cabeceira da cama. Peguei a xícara e o entreguei. Fiquei olhando ele assoprar e tomar o primeiro gole. Sua mão tremia um pouco.
— Como está se sentindo? — perguntei.
— Já estive melhor — ele viu que eu parecia preocupada, então sacudiu a cabeça — Mas, está tudo bem. Sério.
Não me convenceu muito, mas fiquei quieta. Fiquei vendo ele tomar o café, e quando terminou, me entregou a xícara. Eu levantei e a coloquei num cantinho em cima do raque. Quando voltei para a cama, ele já estava deitado, de olhos fechados. Eu sentei ao seu lado, como antes.
— Queria muito te dar um abraço agora — ele disse, meio letárgico — Você pode ficar aqui comigo? Não quero ficar sozinho.
— Claro. — me ajeitei na cama, encostando a cabeça na cabeceira.

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In Bloom
FanfictionApós receber um presente de uma jovem excêntrica, a vida de Harley Madson mudou para sempre. Três caras começaram a fazer parte de sua vida, um é seu amigo, outro odeia ela, outro gosta até demais dela.