Capítulo 4

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 Eu e Kurt ficamos conversando no sofá a manhã inteira. Ele era engraçado, carinhoso, e falava coisas intensas. A conversa rendeu por horas, até que senti vontade ir ao banheiro, então o deixei ali e subi as escadas.
Entrei no banheiro, tranquei a porta e sentei no vaso. Sozinha ali, pude pensar em algo que martelava na minha mente: como eu fui parar ali?
Repensei todo o dia anterior, tudo o que fiz e a ultima coisa que fiz. Eu tinha dormido e acordado ali, só isso. Pensei se havia algo de diferente que eu havia feito... Mas é claro! Sara, a novata. Ela me deu um anel sinistro, e ela sabia o quanto eu gostava do Kurt. Era ela, ela devia ter feito alguma feitiçaria ou algo do tipo. Mas, como ela conseguiu isso? Será que ela era algum tipo de bruxa?

— Não pode ser. — falei, incrédula.

A minha hipótese era ridícula. Fazia sentido, mas era impossível.
Levantei do vaso, dei descarga e fui lavar as mãos. Olhei meu rosto pálido no espelho. Prendi o cabelo em um coque, então saí dali.
Desci e não encontrei Kurt no sofá. Fui pelo corredor e parei em frente a porta da cozinha.Vi ele sentado de costas para a porta, estava lendo alguma revistinha e bebendo algo. Ele começou a falar sozinho:

— Excesso de gordura na cintura... Cinco letras...

Estava jogando palavras cruzadas.

— Pneus. — falei.

— Valeu. — ele agradeceu, ainda com a atenção na revistinha.

Entrei na cozinha, puxei uma cadeira e sentei, de frente para ele.

— Coloquei uma pizza para assar, tá com fome?

— Muita.

Ele largou a revistinha em cima da mesa, então olhou para mim:

— Se falar meu nome, não existo mais. O que sou?

— O silêncio.

— Espertinha. Então, você estudava Administração. O curso é bom?

— Para falar a verdade, é chato.

— E qual curso você quer de verdade?

— Sabe que eu ainda não sei?

— Ah, mas ainda tem tempo, tem a vida toda pela frente. Tenho certeza que vai achar algo que te faça feliz.

— E você, gosta de ser músico?

Ele hesitou por um momento, então olhou para algum canto da cozinha e assentiu:

— É, gosto. Vou olhar a pizza.

Fiquei vendo ele se levantar e ir até o fogão.

— Prontinho. — ele anunciou, tirando-a do forno.

Ele trouxe a pizza para a mesa, partiu, e pegou duas latinhas de refrigerante na geladeira. Era uma pizza de calabresa, com muito queijo, estava uma delícia. Quando vi já tinha comido dois pedaços.

— Estou amando que, ficar em silêncio com você não é desconfortável. — ele disse, de boca cheia.

— Sério?

— Sim, me sinto à vontade.

Senti uma pontada de alegria ao ouvir isso. Fiquei feliz sabendo que ele se sentia assim.
Ele terminou de mastigar seu último pedaço, engoliu e limpou a boca em um guardanapo:

—Olha, não quero ser mal educado e te deixar sozinha pela casa, mas tô morto. Vou dormir um pouquinho, você se importa?

— Não, tudo bem.

— Se precisar de alguma coisa, pode me acordar.

— Ok.

— Tá, eu vou nessa.

In BloomOnde histórias criam vida. Descubra agora