Capítulo 1

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Se isso der certo, bom, se não der eu tenho uma lista de pessoas que me induziram a isso kkkkkk

Vai ter multiverso sim!

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19 ANOS ANTES

Dayse parou a Pick-up Chevy 1966, azul clara, com a lataria enferrujada em alguns pontos, que herdou do avô após o seu falecimento, ela odiava aquele carro o mesmo tanto que odiava a si mesma, mas já estava acostumada a ter que empurrar a marcha duas vezes para ela realmente ficar em ponto morto. A garota respirou fundo e fechou os olhos, estava exausta de chorar, nos últimos dias foi tudo o que fez, na verdade seus olhos continuavam embaçados pelas lágrimas insistentes quando ela parou em frente a clínica familiar.

Uma chuva leve caía lá fora, deixando o dia cinza e frio demais, mas mesmo assim os chuviscos gelados não impediam que o pequeno grupo de manifestantes em frente a clínica se dispersasse. A garota de olhos negros e cabelos pretos presos em uma trança que caía sobre os seus ombros, olhou para o pequeno grupo de homens e mulheres e criou coragem para passar por eles. Os manifestantes se resumiam a pessoas mais velhas, que Dayse acreditou ter no mínimo cinquenta e cinco anos, eles seguravam cartazes com dizeres do tipo "monstros", "Jesus vai voltar", "assassinos de bebês". Toda aquela manifestação fez o estômago da garota revirar, mas não tinha nada lá dentro, o sanduíche com pasta de amendoim que ela comeu de café da manhã foi pelo esgoto cinco minutos depois de ser ingerido.

A menina coloco a palma da mão contra o nariz e respirou fundo, sentindo o aroma da própria pele, ela não sabia de fato se isso funcionava, mas cresceu com a avó falando que isso sanava enjoos. No fundo, Dayse sabia que a avó falava isso para de certa forma burlar seu cérebro, já que não tinha dinheiro para o remédio.

A garota criou coragem, não queria repetir a sua história e sabia que se aquilo continuasse dentro dela, ela iria repetir esse ciclo infinito. Dayse abriu a porta da pick-up, apertou a jaqueta de moletom contra o seu corpo e puxou o capuz, baixou a cabeça e seguiu determinada até a porta da clínica sob xingamentos dos manifestantes.

Dayse olhou ao redor assim que a porta fechou atrás de si. O ambiente era limpa, com paredes de um azul clarinho, cadeiras pretas demarcavam a recepção que tinha uma tv ligada presa na parede. A garota foi até o balcão, onde uma mulher gorda de bochechas incrivelmente rosadas se escondia atrás da tela de um computador.

- Com licença – a voz doce e envergonhada da garota chamou a atenção da recepcionista que levantou o olhar encarando Dayse – bom dia... eu... – seu cérebro trabalhava acelerado tentando formular uma sentença plausível, mas como seria a maneira certa de falar que estava ali para realizar um aborto?

- Pois não? – A recepcionista perguntou um pouco impaciente.

Na verdade, ela sabia exatamente o que a garota estava fazendo ali, sabia o que todas as meninas e mulheres iriam fazer ali, mas no fundo ela se divertia de forma sádica com o sofrimento delas em tentar explicar o que queriam. Afinal, o nome clínica familiar foi apenas um nome bonito que o governo encontrou para amenizar o peso de uma palavra perante a sociedade que se recusava a aceita-la.

- Eu... eu estou grávida – as palavras pareciam se agarrar na garganta de Dayse que puxava as mangas puídas do moletom de segunda mão – e eu... não quero o bebê.

- Menores de dezesseis anos precisam estar acompanhadas de um responsável – a mulher falou olhando para a garota que parecia jovem demais.

- Eu tenho dezesseis.

- Documento – a mulher esticou a mão, desconfiada das palavras da jovem - Humrum... – a recepcionista falou mascando um chiclete após avaliar a carteira de motorista da garota.

Three Of UsOnde histórias criam vida. Descubra agora