LIAM SAVÓIA
Acordei lentamente, a dor pulsando em cada fibra do meu corpo. As lembranças do acidente vinham em flashes confusos e caóticos, misturando-se com o som distante dos monitores médicos e o cheiro esterilizado do hospital. Pisquei, tentando ajustar meus olhos à luz fraca do quarto. Quando finalmente consegui focar, vi Rebeka sentada em uma cadeira ao lado da minha cama. Ela parecia cansada, mas ao mesmo tempo havia uma determinação tranquila em seu olhar.
— Rebeka... — minha voz saiu rouca e fraca, mas ela imediatamente se inclinou para frente, segurando minha mão com delicadeza.
— Liam, graças a Deus você acordou — disse ela, seu rosto se iluminando com um sorriso aliviado. — Como se sente?
— Como se tivesse sido atropelado por um trem — tentei sorrir, mas a dor tornou o esforço quase impossível. — O que aconteceu?
Ela me contou sobre o acidente, as circunstâncias nebulosas, e como me encontraram e trouxeram para o hospital. Enquanto ouvia, um sentimento de gratidão por estar vivo se misturava com a preocupação pelo que ainda poderia estar por vir.
— Há algo mais que preciso te contar, Liam— disse Rebeka, sua voz suave, mas carregada de emoção. — Durante o tempo em que você esteve desacordado, fiz alguns exames. E.. eu.. eu..Estou grávida.
As palavras dela me atingiram como um choque elétrico. Grávida? Depois de tudo o que passamos, depois de todas as traições e mágoas, essa notícia era ao mesmo tempo um milagre e uma complicação.
— Grávida? — repeti, tentando processar a informação. — Você tem certeza?
— Sim, os exames confirmaram. Estamos esperando um bebê.
Olhei para o rosto dela, buscando alguma resposta, algum sinal de como eu deveria me sentir. Havia relutância em meu coração, mas ao mesmo tempo uma centelha de felicidade começou a crescer. Um filho. Uma nova chance.
— Isso... isso é incrível, Rebeka — disse finalmente, apertando sua mão com mais força. — Irei protegê-los.
Ela sorriu, as lágrimas brilhando em seus olhos. Por um momento, tudo parecia perfeito, como se todas as nossas dores e lutas pudessem finalmente encontrar um propósito maior. No entanto, a realidade logo se impôs.
— Eu preciso ir até a recepção pegar alguns exames que fiz. Volto logo, Liam. — disse Rebeka, levantando-se e me dando um beijo suave na testa antes de sair do quarto. Esse ato me deixou confuso, mas relevei.
Fiquei olhando para a porta por um momento, refletindo sobre tudo o que havia acontecido e o que ainda estava por vir. Mas minha tranquilidade foi rapidamente interrompida quando a porta se abriu novamente, revelando Tatiana.
Ela entrou sem hesitação, seu olhar predatório e determinado.
— Liam, amor, finalmente você está acordado — disse ela, aproximando-se rapidamente. Antes que eu pudesse reagir, ela tentou me beijar, mas consegui afastá-la com um movimento brusco.
— Tatiana, pare com isso! — disse, minha voz carregada de exasperação e raiva. — Esqueceu que você mesma terminou tudo comigo? Não entendo porque isso agora.
— Liam.. eu te amo!
— Um amor fraco, que fraquejou na primeira dificuldade, pra mim não é amor!
Tatiana recuou, mas seu olhar se tornou frio e perigoso.
— Você acha que pode simplesmente se livrar de mim assim? — sua voz estava cheia de veneno. — Fizemos tanto juntos, e agora você me rejeita por causa daquela mulher?
— Chega, Tatiana. Isso acabou. Eu estou casado com a Rebeka! Queira você ou não, agora tenho que dar minha atenção à ela. Aliás, agora teremos um filho! Eu acho..
Os olhos de Tatiana se estreitaram, um brilho cruel surgindo neles.
— Ah, então ela está grávida? Isso é uma piada cruel do destino. Porque saiba, Liam, que farei de tudo para acabar com esse bebê. Assim como acabaram com o nosso.
Senti um frio gelado percorrer minha espinha. O que ela estava dizendo? Tatiana tinha perdido um filho?
— Do que você está falando? — perguntei, tentando entender a dimensão da que ela estava falando.
— Eu não te contei porque sabia como reagiria! Mas sim, eu tinha um bebê seu dentro de mim. – ela disse, pondo as mãos em sua barriga sem curvatura nenhuma – Eu estava esperando um filho nosso, Liam! E tudo se acabou no dia de seu noivado, eu tive que aborta-lo para não ser morto.
— Do que.. o que está falando?
— Você sabe que bebês bastardos são mortos no nascimento. Não conseguiria ver um filho nosso morrer, Liam, então eu fiz o que achava certo.
— Tatiana... – falo – Saia!
— Liam... – lágrimas descem pelo rosto de Tatiana. Rebeka entrou no quarto, seus olhos buscando os meus com uma mistura de confusão e preocupação. No mesmo instante, o choro de Tatiana ecoou pelas paredes, revelando a dolorosa verdade que ela acabara de confessar: ela tinha matado um bebê meu. Rebeka, sem entender o contexto, me olhou com uma expressão interrogativa.
— O que está acontecendo aqui, Liam? — perguntou ela, sua voz carregada de tensão.
Antes que eu pudesse responder, Tatiana levantou-se rapidamente, o rosto ainda molhado de lágrimas. Ela se aproximou de Rebeka, a ameaça latente em cada passo.
— Fique fora disso, Rebeka. Você não sabe do que eu sou capaz — sussurrou Tatiana, sua voz fria como gelo.
Rebeka deu um passo para trás, chocada, mas sem se deixar intimidar.
— Tatiana, saia — ordenei, minha voz firme.
Ela me lançou um último olhar, cheio de ressentimento, antes de sair do quarto, batendo a porta atrás de si.
O silêncio que se seguiu foi pesado. Rebeka ainda me olhava, esperando explicações.
— Tatiana abortou um bebê meu — confessei, minha voz baixa, quase um murmúrio.
Rebeka ofegou, surpresa e, por um momento, eu vi a dor em seus olhos. Mas ela rapidamente a substituiu por uma máscara de calma controlada.
— E agora? O que isso significa para nós? — perguntou ela, cruzando os braços, a defensiva evidente em sua postura.
Eu suspirei, passando a mão pelo cabelo em um gesto de frustração.
— Rebeka, eu não te amo, e nem à Tatiana. Nunca amei. Mas... eu não posso ignorar o que aconteceu. E agora, há outra vida envolvida. — disse, apontando levemente para a barriga de Rebeka.
Ela olhou para baixo, instintivamente protegendo o ventre com as mãos.
— Eu proponho que fiquemos em paz por enquanto, pelo feto que você carrega. Não a amo, mas também estou aprendendo a não odiá-la tanto — continuei, minha voz firme mas cheia de um apelo sincero.
Rebeka ficou em silêncio, seus olhos estudando os meus, procurando alguma verdade ou esperança. Finalmente, ela suspirou, descruzando os braços.
— Tudo bem, Liam. Pelo nosso filho, eu aceito. Mas saiba que isso não apaga o passado. Vamos dar um passo de cada vez — respondeu ela, sua voz suave, mas decidida. Os olhos dela diziam outra, uma coisa que ela ocultava atrás dessa face determinada, e eu irei descobrir.
Eu assenti, sentindo um peso ser parcialmente aliviado dos meus ombros. Havia muito trabalho pela frente, muitos ferimentos a curar, mas pelo menos, por enquanto, tínhamos um entendimento.
E talvez, apenas talvez, isso fosse o começo de algo melhor para todos nós.
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Subordinada à Ele - Série Milionários 02
RomanceVol2 - Homens Milionários - Segundo Livro. Liam Savóia, um homem misterioso e com objetivos bem obscuros para si próprio. Cresceu em um lar acolhedor, e agora, sendo o chefe da organização mais importante da Rússia, ele mostra sua verdadeira face. M...