Capítulo 20

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Ele queria desviar o assunto. Queria pedir para voltarem para a cama e discutirem isso depois. Queria dizer como ela estava linda em sua camisa aberta. Queria ser um babaca abusivo e contornar a situação fazendo ela parecer culpada. Mas ele não faria isso, ele não era assim.

-eu... isso... – ele começou um pouco sem folego. Fernando não imaginava que teria tanto pânico naquele momento.

- por favor... – ela interrompeu logo, a voz firme e tremula ao mesmo tempo. – por favor, muito cuidado com o que vai me responder, Fernando...

- ela está viva, sim. – o advogado respondeu logo, preferindo se livrar desse peso do que prosseguir na mentira.

Maraisa levou a mão para a boca como se segurasse o choro. Ou o vomito, já que a essa altura ela devia estar nauseada só de olhar para ele. A foto na mesa dele agora era só uma prova do que tinha feito.

- eu posso explicar...

- pode explicar? Como vai me explicar? – ela perguntou pasma.

O nojo no olhar dela rasgava a sua alma em duas. Fernando nunca se sentiu tão sujo como naquele momento.

- é casado? – foi a próxima pergunta dela.

- não. – ele respondeu prontamente.

- e viúvo também não é... meu Deus... – Maraisa se levantou da cadeira, fechando a camisa ao redor do corpo enquanto se abraçava e caminhava até a janela. – quem é você?

- eu sou o mesmo homem de horas atrás... eu sou o mesmo homem. – ele falou levemente desesperado. – olha para mim, por favor.

Quando ela se voltou para ele, desejou não ver. A lagrimas escorriam livremente pelo rosto bonito.

- mente para o seu filho dizendo que a mãe dele está morta... mas foi a mãe dele que lhe ofereceu um sorvete um dia desses bem ali na esquina... – ela falou em sussurro sofrido.

Ela esperava uma reação, alguma surpresa, mas Fernando apenas ficou mudo. Sua mãe sempre dizia que o escudo de um mentiroso era o silencio, e a arma era continuar se justificando.

- você já sabia que ela estava por aqui...

- você não entende, Maraisa... é tão complicado.

- como eu poderia entender se nunca me deixou perguntar sobre ela, tocar no nome dela! – Maraisa gritou finalmente, soltando a raiva que borbulhava. – é a mãe do seu filho! É a mulher com quem foi casado! Que tipo de consideração eu poderia esperar de um homem que trata assim!

- você não faz ideia de quem a Aline é! – ele gritou de volta.

- eu também não faço ideia de quem você é... eu achava que estava entendendo... achava que você era um homem traumatizado com a perda da esposa e um filho pequeno para criar... mas agora? Agora eu quero ir para casa.

Fernando se aproximou mas ela se afastou mais, encolhendo o corpo. Medo.

- Maraisa...

- por favor. – ela pediu novamente.

- eu não vou te machucar.

-a sua arrogância, seu preconceito do começo... eu relevei. Mas isso? Isso é enorme, Fernando. Falar para todo mundo que ela morreu, isso é grave. Você já me machucou.

Flashback on:

"Era estranho chegar tão tarde em casa e não estarem rindo. As aventuras noturnas eram tão agradáveis entre os dos, bebidas, boa comida e muita risada. Hoje não. hoje Aline tinha tido um sangramento. O medico alertou para o risco de aborto. Fernando ficou desesperado e Camila parecia anestesiada. A relação deles estava tão instável, mas naquela noite pareceu que nada tinha mudado. Isso até saírem do hospital e ficarem mudos novamente. Fernando colocou a bolsa dela sobre o sofá e caminhou até a escada, pronto para subir para o quarto de hospedes e dormir.

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