Capítulo 5

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Depois que Maraisa saiu de sua casa, Fernando desabou no sofá. Ele não deveria ter falado daquele jeito, não deveria ter segurado no seu braço daquele jeito. Se sentia um monstro. Olhou as escadas que davam para o quarto de seu filho.

" me surpreende que você saiba onde seu filho dorme".

Aquilo doeu, mas era verdade nua e crua. Rosa tinha razão, a verdade nos olhos da morena era visceral. Levantou do sofá devagar, subiu as escadas como se o peso de mundo estivesse em seus ombros. Antônio dormia tranquilo com um pato de pelúcia agarrado em seu braço. Fernando sorriu. Aquele pato resistia desde a maternidade. O advogado se ajoelhou ao lado da cama, passando a mão delicadamente pelo cabelo escuro e macio. Seu filho estava enorme e cada dia que passava Fernando o via mais e mais de longe.

Não queria mais isso. Não podia mais fazer assim.

- pai? – a voz miúda achou sua atenção.

- estou aqui, meu filho.

- está na hora de acordar?

- não, pode voltar a dormir. – Fernando respondeu calmo.

Perdeu a noção de tempo enquanto observava seu filho dormir. No dia seguinte fez toda a programação. Fez café da manhã, arrumou a mesa para comerem juntos. De fato Antônio estava bem mais alegre e não parava de falar da babá. Maraisa... era só esse nome que saia da boca de seu filho. " A Maraisa ia adorar o shopping, pai". "será que a Maraisa gosta de dinossauros?" "A Maraisa é a melhor babá do mundo". Se antes Fernando se corroía pelo comportamento, hoje tinha vontade de se dar um tiro.

Só quando seu filho se envolveu em uma discussão com uma menina no parquinho que Fernando tomou atitude para si mesmo. Fernando estava distraído lendo um email no celular quando ouviu seu filho falar mais alto, quando olhou para onde ele estava, viu ele resmungando e empurrando uma garotinha que deveria ter a mesma idade. Rapidamente o advogado foi ate eles. Se ajoelhando para entender melhor.

- ei, ei, ei o que está acontecendo aqui?

- ele me empurrou, tio! – a menina reclamou de braços cruzados.

- ela queria pegar meu dinossauro. – Antônio retrucou se agarrando mais ainda ao brinquedo.

- isso não justifica seu comportamento, Antônio. Peça desculpas agora. – Fernando falou serio.

O menino suspirou e pediu desculpas, mas a menina não quis ouvir mais, voltou a brincar com outro grupo de crianças. Fernando voltou o menino para si, o segurando pelos ombros.

- escute, o que você fez foi muito errado. – Fernando falou calmo, mas bem serio. – não se deve gritar com uma garota, muito menos bater nela. Não se encosta o dedo em uma mulher.

A essa altura ele não sabia se estava dando bronca no seu filho ou em si mesmo.

Por isso na segunda, quando Murilo perguntou se poderia sair mais cedo para estudar para uma prova da faculdade, Fernando viu sua oportunidade de se redimir. O advogado então ofereceu sua casa para o rapaz estudar e passar a noite, em troca levaria Maraisa para casa, tendo Murilo para ficar de olho em seu filho nesse meio tempo.

- eu não entro no seu carro nem morta. – foi a resposta de Maraisa. – onde está Murilo?

- estudando para uma prova no meu escritório. – Fernando falou serio. – vamos, antes que fique tarde.

- vou de ônibus. – ela falou rapidamente, caminhando para o elevador.

- espera! – Fernando se colocou entre a babá e aporta de metal. – eu sei que tem todo direito para não querer passar 5 minutos comigo, sei que nada que eu disser vai ser o suficiente, por isso só peço desculpas. E me deixa dar essa carona.

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