Capítulo 31

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eu posso saber que historia é essa de adiar a audiência? O que está acontecendo? – foi a primeira coisa que ela perguntou. E de um modo bem rude.

- os meus advogados devem ter informado aos seus. Antônio está doente, não que você se importe.

- isso é uma farsa, Fernando. Quer me enrolar.

- Aline, é a saúde do meu filho, eu não mentiria sobre isso.

- então faz o que é melhor para todo mundo, me dá o dinheiro e eu abro mão da guarda.

A atenção dele foi desviada da ligação por uma movimentação agitada de enfermeiros para dentro da ala restrita da UTI. O coração de Fernando parou, uma sensação angustiante.

Ele desligou o telefone na cara de Aline no mesmo instante. Invadiu a área junto com um enfermeiro e encontrou uma movimentação no box de Antônio. Maraisa estava do lado de fora sendo aparada por um enfermeiro. Ela chorava em desespero.

- o que está acontecendo? – Fernando falou agitado.

- eu não sei! Eu não sei! – Maraisa falou no mesmo tom. – eu estava com ele, estávamos jogando no celular, de repente ele ficou sonolento, mas ao mesmo tempo seu corpo começou a tremer e ele começou a vomitar.

Antônio tinha convulsionado. Seu corpo estava tão estressado, perdendo tantos componentes, que suas funções estavam começando a ficar comprometidas. Pelo resto do dia ele ficou sozinho, fazendo exames, dopando, se recuperando.

Uma criança. Maraisa e Fernando não puderam ficar com ele, o acesso só foi feito no começo da noite. Eles não tinham muito o que dizer um ao outro, o olhar falava, a companhia dava o apoio necessário.

Era tarde da noite, Fernando não tinha sono. Não conseguia tirar os olhos de Antônio. Maraisa estava igual. Um de frente para o outro, a cama entre eles. Fernando tinha a cabeça apoiada no colchão. Acariciava a mão do filho e se preocupava. A carne parecia sumir, e a mão pequena ficava puro osso, como o resto de seu corpo.

Ele olhou para Maraisa e suspirou.

- você tem que dormir. – ele falou.

- não consigo. – ela respondeu sem desviar o olhar do menino. – eu fico esperando... fico esperando aquelas cenas de mais cedo se repetirem...

Fernando segurou a mão dela, apertando em conforto.

- não vai acontecer... eles estabilizaram..

- Fernando... sem um rim... Antonio não vai aguentar muito nessa maquina.

- eu não vou deixar você perder a fé. Não vou. – ele falou firme.

Ela secou uma lagrima insistente, finalmente o olhando.

- você disse que Antônio queria que você me pedisse em casamento...

Fernando sorriu sem jeito.

- é, assim você nunca mais dormiria longe dele.

Quando ela não sorriu e quando não continuou a conversa, Fernando a olhou novamente. Ela estava seria.

- você não ia me pedir em casamento, mas eu estou pedindo. – ela sussurrou.

- como?

- vamos nos casar, consegue chamar um juiz de paz? Nos casamos aqui mesmo, na frente do Antônio, perguntamos para a medica se podemos chamar a Maiara e Vicente como testemunhas... – ela começou a falar sem parar, sua emoção e angustia engolindo sua voz.

Fernando se levantou da cadeira depressa, se ajoelhando logo na frente dela, que permanecia sentada, mas falando sem parar, nervosa demais para prestar atenção nele. Fernando segurou o rosto dela entre as mãos, a forçando olhar para ele.

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