Capítulo 32

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Aline cruzou os braços e esperou, mas quando Fernando demorou para falar, ela tomou a frente da discussão.

- deixa eu adivinhar, veio um dia antes da sentença para me dar o dinheiro finalmente.

- esquece isso, Aline. Esquece. – ele falou cansado. – eu imagino que assistente social tenha te atualizado sobre tudo que aconteceu com Antônio.

A mulher suspirou, fechando a cara.

- sim. Ela me disse.

- então sabe que ele está muito doente, mesmo que você consiga a guarda não vai sair do hospital tão cedo.

Ela não sabia onde Antônio queria chegar.

- se não quer falar sobre dinheiro, então por que veio?

- Antônio está morrendo, Aline.

Ele não podia dizer que esperava um olhar de compaixão, um arrependimento ou algo do gênero. O universo sabia. Aline não era mãe, ela não poderia sentir a dor que ele e Maraisa sentiam. E ele aceitava isso.

- eu sinto muito, deve estar sendo difícil para você e sua esposa.

- como sabe que me casei? – ele perguntou surpreso.

- advogados são fofoqueiros, você deveria saber disso. – ela brincou para descontrair do clima pesado. – felicidades, de verdade.

Ela odiava conversa seria, ainda mais quando dizia a respeito a uma criança pela qual ela não tinha nenhuma responsabilidade.

- Antônio precisa de um rim. – Fernando soltou em um só suspiro, como se arrancasse o band-aid de uma vez só.

Aline entendeu, e para não rir em choque, ela decidiu manter a boca fechada.

- ele está morrendo e precisa de um rim...  ele está há semanas na fila e não aparece nada, eu não sou compatível, minha esposa também não. nossos amigos até tentaram, mas nenhum bate. A minha ultima esperança é você.

Aline deu um passo para trás, fechou os olhos como se assim fosse entender mais rápido. Ele não podia estar lhe pedindo algo assim, podia?

- Fernando, o que..

- só faz o teste. – ele falou rapidamente quando percebeu que ele iria recuar. – só... Aline, eu sei que não sente nada por esse menino, e eu respeito você, mas eu sinto, é meu filho... por favor.

- Fernando, isso é...

Nessa horas percebia que não podia ter mandado Luan dar uma volta. Quem seria seu porto seguro finalmente, olhando para ele.

- eu não vou fazer.

Fernando respirou fundo e olhou para baixo, levando a mão até o bolso da calça para retirar a carteira. Ele abriu, jogou no chão cartões de credito, debito, dinheiro. Tirou seu relógio caro e estendeu para ela. Aline o olhava calada, o expressão levemente perturbada.

- Vamos falar seu idioma então, o que é que você quer? Quanto quer? Te pago pela guarda e pelo rim. Eu não tenho nada a perder, Aline, me tira tudo se quiser, só me dá a chance de salvar o meu filho.

Algo quebro dentro da mulher. Devagar, Aline se ajoelhou aos pés de Fernando para pegar todos os cartões e notas que o homem tinha jogado. Se colocou de pé e puxou a mão dele, entregando tudo de volta. Ele olhou para aquilo confuso.

- não. – ela falou novamente.

- Aline... – ele a alertou para pensar melhor.

- Fernando isso não, tudo tem limite!

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