Maraisa chegou pontualmente a casa de Antônio graças ao Murilo. Nenhum dos dois tocou no assunto de sexta muito menos na carona que Fernando tinha dado no começo da semana. A morena se dirigiu para a cozinha para guardar a bolsa quando foi abordada por Rosa.
- como vai, menina? – ela perguntou carinhosa como sempre.
- vou bem, apenas cansada com a faculdade.
- Antônio já almoçou e esta te esperando para fazer uma atividade da escola.
- esta bem.
Antes que Maraisa pudesse subir, Rosa a chamou novamente. A governanta olhava uma lista de lembretes que sempre andava em seu bolso. Algo sobre idade e sempre esquecer das coisas.
- senhor Mocó pediu para avisar que quinta a senhorita terá que ficar ate mais tarde. Ele tem um jantar de negócios importante.
- quinta? – Maraisa perguntou tentando segurar a frustação.
- sim, e pelo aviso de ultima hora o pagamento da hora extra será ótimo.
Lembrando de como Maiara tinha falado que não estava vendendo muito bem na loja e que provavelmente seu salario viria apertado, Maraisa não teve como não falar não. suspirou e sorriu.
- claro, senhora Rosa. Pode pedir pra confirmar.
Ao chegar no quarto de Antônio, se deparou com o menino olhando para folha em branco. Junto a folha vários lápis de colorir. Ele parecia tão concentrado como se isso fosse fazer o desenho aparecer no papel. O menino nem ao menos percebeu que ela estava ali, ou pelo menos deu muito pouca importância.
- esta tudo bem, querido?- perguntou a morena, sentando-se ao seu lado na pequena cadeira.
- tenho que desenhar minha família... meu pai, minha mãe, meus avós... colocar o nome deles numa arvore.
- uma arvore genealógica?
- isso. – o menino falou, finalmente olhando para ela. – mas não sei como era minha mãe... nem sei o nome dela.
Um verdadeiro alarme soou na cabeça de Maraisa. O contrato gritava em sua mente. "não falar sobre a mãe" , "não comentar sobre a senhora mocó".
- seu... seu pai nunca falou dela para você?
O menino balançou a cabeça em negativa. Maraisa suava tentando achar a melhor saída para esse problema. Não queria descer com Antônio até Rosa para perguntar sobre a mãe dele, a governanta deixou bem claro que era um assunto proibido. Mas como poderia ser proibido para o menino? Ele não tinha direito de saber nem o nome da própria mãe?
- e seus avós?
- só conheço dois.
- os pais do seu pai?
- isso!
- então por que não desenhamos você e seu pai e depois os seus avós.. e quando seu pai chegar você mesmo pergunta para ele da sua mãe, tenho certeza que ele vai responder. – Maraisa falou sem certeza nenhuma na voz, mas Antônio não percebeu.
Passaram até metade da tarde desenhando juntos, uma misturada de cores que Maraisa nunca tinha visto. Enquanto observava o menino, a duvida pairava em sua mente. Nada sobre a mãe, nem mesmo o nome. Isso era tão estranho, em que circunstancias essa mulher se foi que nada poderia ser dito sobre ela. Cada vez que ela se enfiava mais nessa família, mais coisas diziam que ela deveria se afastar, mas olhando para Antônio, para seus olhos inocentes, seu sorriso fácil... tudo isso fazia ela ficar.
Quando ele terminou o desenho, Maraisa resolveu descer com ele para fazerem um lanche e assistirem um filme na sala. A morena fez pipoca e preparou um suco de laranja enquanto Rosa dava orientações para o cozinheiro sobre o jantar. Duas vezes por semana Ricardo vinha para deixar algumas comidas prontas. Fernando era o cúmulo de menino mimado, Maraisa pensou, rindo por dentro. Será que o grande advogado sabia fazer um arroz?
Antônio escolheu o filme, Maraisa arrumou a mesinha de centro. O desenho era bom, mas a morena estava tão cansada que tirou um cochilo entre uma cena e outra. Antes que pudesse evitar, Antônio estava no seu colo, também dormindo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ATÉ O AMANHECER
Hayran KurguUm homem que desgosta de todas as mulheres do mundo e uma mulher que tem a pureza no coração tem seus caminhos entrelaçados por algo maior. A estudante de direito Maraisa Henrique se vê na missão de levar um pouco de vida para a casa do grande advog...