Arte da Trégua • tobirama senju

Prólogo

O campo de batalha estava silencioso, envolto em uma neblina espessa que ocultava os horrores da guerra que havia terminado poucas horas antes. O fim do inverno estava se aproximando, mas as temperaturas ainda estavam extremamente baixas. Yoshito Uchiha e sua esposa, Nina, caminhavam cuidadosamente entre os corpos e destroços, em busca de sobreviventes de seu clã. O casal recém-casado ainda estava se ajustando à nova realidade de sua rotina, mas como dois ninjas habilidosos,  o dever os chamava.

— Este não era exatamente o meu sonho para a nossa lua de mel.— Yoshito sussurrou, estressado. Nina ensaiou um sorriso com o mau humor do esposo.

Enquanto vasculhavam o terreno, Nina ouviu um som fraco, quase imperceptível, que parecia um choro. Ela parou abruptamente, segurando o braço de Yoshito.

— Você ouviu isso? — perguntou ela, com os olhos arregalados de preocupação.

Yoshito assentiu, concentrando-se no som distante. Eles seguiram a direção do choro, seus passos ficando mais rápidos e ansiosos dessa vez. Atrás de uma formação de rochas, encontraram uma cena que jamais esqueceriam e que mudaria a vida de ambos para sempre. Uma mulher jovem estava deitada no chão, sem vida. Ao lado dela, envolta em um fino cobertor sujo de sangue, havia uma recém-nascida, chorando e se debatendo. A visão partiu o coração de Nina, que imediatamente se ajoelhou ao lado do bebê, que continuava inconsolável e tremendo de frio.

— Yoshito, precisamos ajudá-la — disse Nina, a voz tremendo de emoção enquanto pegava a pequena nos braços. Sua pele era um tom mais escuro do que a de Nina, e seus olhos, castanhos e brilhantes. — Olhe para ela, tão indefesa.

Yoshito, que inicialmente estava hesitante, se aproximou devagar. Seus olhos percorreram o corpo da mulher morta, reconhecendo os sinais da batalha. Ele sabia que levar aquela criança significava assumir um grande risco, mas ao olhar nos olhos brilhantes da recém-nascida, algo dentro dele mudou.

— Nina... — ele bufou. — Não podemos simplesmente levá-la. E se alguém vier atrás? Não devemos nos envolver em problemas... — murmurou, ainda lutando contra seus próprios sentimentos e olhando de um lado para o outro. Tudo o que encontrava era um cenário caótico e o cheiro de podre invadindo suas narinas.

Nina, no entanto, estava decidida. Ela acariciou o rosto da bebê, limpando suavemente o sangue seco de sua pele.

— Yoshito, esta criança foi trazida até nós pelo destino. Eu sempre soube que não poderia ter filhos, mas agora... olhe para ela.— Ela balançou a criança nos braços e sorriu, retirando o tecido sujo de cima do rosto do bebê para ver melhor.— Ela precisa de nós, e nós precisamos dela.

Havia uma determinação nos olhos de Nina que Yoshito não podia ignorar. Ele sabia que sua esposa estava certa e não desistiria daquela ideia. O destino tinha colocado aquela criança em seus caminhos por uma razão. Ele suspirou profundamente e se agachou ao lado de Nina, olhando diretamente para a pequena. A bebê parou de chorar e olhou para ele com olhos grandes e curiosos. Aquele olhar puro e inocente tocou o coração de Yoshito de uma maneira que ele nunca havia sentido antes.

— Akari — disse ele finalmente, com um sorriso suave. — Vamos chamá-la de Akari. A luz que brilha mesmo na escuridão.

Nina sorriu, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Ela sabia que Yoshito havia aceitado a criança como sua.

— Akari. Que nome lindo!

Eles levantaram-se, Akari agora segura nos braços de Nina, e começaram a caminhar de volta para casa.

A partir daquele momento, Akari Uchiha se tornou parte de suas vidas. Uma nova esperança em meio às cinzas da guerra, um símbolo de renascimento e a promessa de um futuro repleto de amor, mesmo em meio ao caos.