Dezesseis anos depois
O sol brilhava radiante sobre a recém-fundada Aldeia da Folha. Yoshito Uchiha, agora um homem mais maduro, exalava impaciência enquanto descansava ao lado de sua esposa, Nina. Vestidos com suas melhores roupas, observavam sua filha, uma jovem de dezesseis anos com um talento excepcional para a pintura.
Akari, com seu avental manchado de tinta e os cabelos presos no alto da cabeça, dedicava-se aos últimos retoques de sua obra. Seus olhos castanhos claros brilharam com reprovação quando Yoshito expressou sua impaciência.
— Já está acabando? — questionou ele, mal conseguindo conter sua irritação diante da espera.
— Pai, só tenha um pouco mais de calma, por favor! Se ficar se mexendo assim, sairá com a boca torta. — provocou Akari, lançando um olhar divertido para seu pai enquanto misturava as tintas.
Nina, riu da brincadeira entre pai e filha, apreciando a dinâmica familiar que haviam construído ao longo dos anos. Alguns minutos depois, Akari abriu um largo sorriso e fez um sinal positivo com as mãos, enquanto seu pai soltava um suspiro de alívio e sua mãe celebrava o fim da obra.
— Venham ver! — ela os chamou, e eles se levantaram, prontos para contemplar a obra.
— Minha filha, como você é talentosa! — exclamou Yoshito, os olhos brilhando com orgulho. — Me deixou até mais forte, veja! E retratou as flores ao nosso redor de uma maneira tão única...
Eles permaneceram ali, em silêncio por um momento, admirando juntos a obra.
— Realmente magnífico, Akari.— concordou Nina, com admiração evidente em sua voz.
Com um sorriso radiante, Akari recebeu o reconhecimento caloroso de seus pais. Em um gesto de carinho, eles a abraçaram, celebrando juntos. Enquanto aguardavam que o quadro secasse, decidiram aproveitar o momento em família com um piquenique. Sentados sobre uma manta estendida na grama verdejante, Yoshito, Nina e Akari compartilhavam alimentos e risadas, desfrutavam da tranquilidade que a nova vida na Aldeia da Folha oferecia. Embora uma atmosfera de tensão ainda pairasse sobre o território, devido às antigas rivalidades entre os clãs Uchiha e Senju, tudo era muito diferente agora. Era como se naqueles dias, todos pudessem viver em paz.
— Estarei na reunião entre as autoridades dos Senju e dos Uchihas amanhã — anunciou Yoshito, sua expressão séria refletindo a importância do evento. — Espero que tudo corra bem.
Nina assentiu, compartilhando o otimismo de seu marido.
— Tenho confiança de que tudo irá bem. Hashirama tem mostrado ser alguém aberto ao diálogo e à paz.
— O problema não é Hashirama. — Yoshito franziu a testa, preocupado. — É Tobirama, o irmão mais novo dele. Suas opiniões e atitudes são mais rígidas, o que pode complicar as negociações.
Nina franziu a testa também, compreendendo a preocupação de Yoshito.
— Vamos apenas esperar que ele também esteja disposto a ouvir e dialogar com respeito.
— Eu acho que respeito e diálogo são duas coisas que ele não conhece... — a mais nova torceu o nariz.
Nina censurou a filha com um olhar desconfiado.
— Mas todos podem mudar, minha filha. — argumentou, de maneira doce, como sempre fazia.— Quem sabe com todos vivendo aqui na Folha ele não esteja um pouco diferente...
Desde jovem, Akari ouvira inúmeras histórias sobre Tobirama Senju, o irmão mais novo do líder do clã Senju. No seio do clã Uchiha, seu nome era pronunciado com uma mistura de medo e repulsa, e cada relato sobre ele era carregado de horror. Era comum ouvir que Tobirama era o pior ser humano a estar vivo, um homem cujo coração era tão frio quanto a neve – e que era por este fato que o homem tinha os cabelos da mesma cor que elas! –. Contavam-se histórias de sua crueldade implacável no campo de batalha devido a sua aversão aos Uchihas. Diziam que ele enxergava os Uchihas como nada além de adversários a serem eliminados, sem compaixão ou misericórdia. Enquanto crescia, Akari aprendeu a temer e a odiar Tobirama Senju como todos os outros Uchihas. Ela tinha o visto pessoalmente apenas duas vezes, e sempre de longe, e acreditava que aquilo era um alívio. Torcia para que tudo continuasse assim.
Ao retornarem para casa, a família Uchiha foi surpreendida pela presença de Madara Uchiha, o líder do clã. Akari olhou para ele com admiração, como todas as moças do clã também faziam. Para elas, Madara era mais do que um simples líder - ele era um herói, uma figura que personificava a força e a determinação dos Uchihas. Akari o observou discretamente, os cabelos negros caindo sobre a pele pálida, os ombros largos e o corpo forte coberto pelo quimono negro que usava. Para ela não haviam dúvidas de que ele era não apenas um líder, mas também um homem de grande beleza. "O homem mais bonito do mundo", como sempre pensou, desde que o vira falar com tanta clareza e determinação para os outros membros de seu clã.
— Que honra encontrá-lo aqui, Yoshito. — Madara os cumprimentou, e os três o reverenciaram com respeito. — E acompanhado de sua bela família.
Seu elogio, embora simples, fez o coração de Akari palpitar com orgulho. Ela sentiu uma leve tontura apenas em ouvir a voz do homem.
— A honra é toda nossa. — Yoshito disse, a expressão séria e respeitosa. — Não esperávamos tamanha sorte em o encontrar.
— Estava apenas passando para verificar com estão as coisas ao redor de nossas casas. — explicou, a voz saindo calma e firme. Então, os seus olhos pararam em Akira, e no que ela carregava em suas mãos. — Que belo quadro.
Madara olhou para a moça com interesse, seu olhar percorrendo o quadro que ela segurava com cuidado. A jovem sentiu o peso daqueles olhos sobre ela, e estremeceu de nervosismo. Não conseguiu dizer nada, pois parecia que suas palavras haviam desaparecido de sua boca. No geral, as mulheres do clã Uchiha não se dirigiam ao líder, somente quando solicitado pelo próprio, e ela não esperava que aquilo fosse acontecer justamente naquele instante.
— Akari tem um talento excepcional para a pintura. — Yoshito gabou-se, com uma mão apoiada no ombro da filha. — Estamos muito orgulhosos dela. Além de uma excelente pintora, é também uma ninja muito dedicada em seus treinamentos...
— Pai... — Akari sentiu o corpo estremecer de vergonha, e tentou o conter. Madara, no entanto, ensaiou um sorriso em seu rosto sério.
— É um dom notável, Akari. — disse, olhando para ela.— Continue cultivando suas habilidades. Elas serão úteis em nosso novo lar.
— Obrigada, senhor Madara.— agradeceu, sem olhar para ele diretamente.
Madara assentiu em aprovação antes de se voltar para Yoshito.
— Verei você amanhã na reunião. — despediu-se, e olhou para as mulheres: — Tenham uma boa noite.
Os dois homens se despediram com um aceno de cabeça respeitoso, antes de Madara se retirar, seguindo seu próprio caminho. Chegando em casa, o clima era tranquilo. Os dias de folga eram raros para Yoshito e também para as mulheres, que tinham também suas obrigações. Nina seguiu para a cozinha para organizar as coisas, enquanto Akari se dirigia para o quarto, ainda sentindo as pernas bambas com os elogios de Madara. Ela mal podia esperar para contar para sua melhor amiga, Miyu Uchiha, sobre o encontro. Sabia que ela custaria acreditar! A jovem ainda sentia o coração palpitar apenas em relembrar as palavras do homem. Cantarolando, Akari pendurou o quadro na sala de sua casa. Se o líder do clã havia dito que o quadro era belo, então era! Não havia motivos para o esconder.
— Uau, realmente combinou bastante aqui. — Sua mãe elogiou, secando as mãos no avental que usava, quando apareceu na sala. — Agora precisamos de um quadro seu, para também pendurar.
— Mas quem pintaria?
— Posso pedir ao seu pai. — Ironizou, e as duas caíram na risada, pois Yoshito tinha diversas habilidades, mas a arte não estava nem perto de ser uma delas. — Você pode me ajudar cortando os legumes para o jantar?
— Claro! — Akari assentiu, e seguiu com a mãe para a cozinha.
Após auxiliar sua mãe, se lavar e jantar, finalmente, chegou a hora de Akari se recolher para a cama. Deitada, ela refletiu sobre o dia que passara, repetindo ainda mais as palavras de Madara Uchiha em sua própria mente. O homem que ela mais admirava, depois de seu pai, a elogiando! Parecia um sonho e ela não queria acordar. Akari estava acostumada com a atenção, sendo chamada de "ilegítima" e "agregada" por algumas pessoas do clã desde a infância. No entanto, ela sentia uma imensa felicidade ao perceber que, para Madara, isso não importava; e que ele lhe havia dado uma atenção tão carinhosa e positiva. Em meio aos seus pensamentos e sentimentos de gratidão, Akari adormeceu profundamente naquela noite, embalada pela sensação de cansaço. Ela se entregou ao sono sem reservas, sem imaginar que, ao acordar na manhã seguinte, sua vida não seria mais a mesma. Nunca mais.
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Arte da Trégua • tobirama senju
FanfictionAkari foi resgatada em um campo de batalha por uma família do clã Uchiha, crescendo alinhada aos valores e ideais do clã. Desde cedo, ela foi testemunha do ódio profundo e da rivalidade mortal que existia entre os Uchihas e os Senjus. Anos depois...