Meninos Brincando de Soldados

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Akari acordou cedo naquela manhã fria de inverno, a luz suave do amanhecer começando a iluminar o quarto. O primeiro amanhecer do ano trouxera uma neve tímida consigo. Ela se levantou devagar, abraçando o casaco de lã ao redor do corpo enquanto caminhava até a pequena cômoda onde guardava suas roupas. Miyu havia generosamente oferecido sua casa para que Akari ficasse até encontrar um lugar próprio, e ela olhou para ao redor do quarto, agradecendo silenciosamente pelo local, antes de escolher sua roupa para os compromissos do dia. Abriu a cômoda e puxou várias peças, analisando cada uma com cuidado. Primeiro, escolheu um quimono, o tecido pesado e quente o suficiente para o clima gelado e combinou a vestimenta com uma faixa obi dourada. Após prender os cabelo castanhos em um coque simples, se olhou no espelho, ajustando as mangas e certificando-se de que tudo estava impecável.

Após se vestir, ela saiu silenciosamente do quarto, encontrando Miyu já acordada e preparando chá na cozinha. Os dois filhos da mulher estavam cansados, dormindo por cima da comida, e o esposo parecia contemplativo. Miyu sorriu ao vê-la.

— Está linda, Akari. — comentou Miyu, servindo uma xícara de chá quente a mais na mesa. Kazuhiko Uchiha cumprimentou Akari, e os filhos fizeram o mesmo. — Vamos ao templo ao leste hoje?

Akari assentiu inicialmente, mas depois hesitou. Seus pensamentos estavam em outro lugar.

— Miyu, se não se importarem, acho que seguir ao templo ao oeste. — disse Akari suavemente. — É mais longe, mas foi onde meu pai, minha mãe e eu fomos quando chegamos aqui pela primeira vez.

Miyu olhou para ela com preocupação.

— Tem certeza? O caminho pode estar difícil com toda essa neve...

— Tenho. — Akari respondeu com firmeza. — Não se preocupe, eu não me enrolo mais.

Miyu assentiu, respeitando a decisão da amiga.

— Pelo jeito está bem diferente da mocinha que se afogou nadando em uma cachoeira na primavera...

— Eu adoro essa história. — Kazuhiko brincou, com um sorriso divertido.

— Vão zombar de mim em pleno feriado? — Akari brincou, enquanto bebericava o chá.

O café da manhã continuou em um tom descontraído, com risadas e histórias compartilhadas. Após a refeição, Akari se preparou para caminhar até o templo. Ela pegou uma espada e a prendeu ao lado do quimono, apenas por precaução. Com um último olhar para seus amigos, ela saiu para enfrentar o frio.

A neve caía levemente ao seu redor enquanto ela caminhava, o som abafado dos seus passos na neve sendo o único barulho em metros a frente. Akari permitiu que suas memórias a envolvessem, os pensamentos de seu pais preenchendo sua mente. Ela apenas agradecia a oportunidade de ter ido tão amada e acolhida, mesmo sendo uma filha do coração. Se lembrou de todos os de momentos felizes, da força e sabedoria que seus pais lhe haviam passado, e da determinação que sempre guiou sua família. Se lembrou claramente do dia em que chegaram à Aldeia da Folha, após o acordo entre Hashirama Senju e Madara Uchiha, e do ânimo que Yoshito expressava. A visão da aldeia recém-formada era ainda fresca em sua memória: as construções em crescimento, os rostos novos e esperançosos, e a promessa de um futuro pacífico.

No entanto, o nome de Madara Uchiha ainda a fazia estremecer, mesmo depois de tanto tempo. As memórias daquele tempo eram tensas e era um passado que, se ela pudesse, esconderia para sempre. Enquanto caminhava, Akari não podia evitar pensar em como foi difícil sair da Folha daquele jeito. Ela sempre amou a Aldeia, a comunidade, e o futuro que todos estavam construindo. Respirou fundo, pensando em como sua vida tinha mudado desde então.

Ao avistar o templo ao longe, suas estruturas antigas se destacando contra toda aquela neve do topo da montanha, ela suspirou. Com passos suaves, atravessou o portão e seguiu o caminho pavimentado que levava ao salão principal do templo. Chegando ao salão principal, fez uma reverência respeitosa antes de entrar. O interior do templo estava iluminado suavemente pela luz que passava pelas janelas de papel e o aroma suave de incenso queimando invadia o ar. Akari se permitiu respirar fundo, e algumas lágrimas de nostalgia encheram seus olhos. Quanto tempo! Ela encontrou um canto tranquilo, afastado dos poucos visitantes que estavam ali naquela manhã tão gelada, e se ajoelhando em um tatame macio, a jovem fechou os olhos e começou suas preces silenciosas. Agradeceu por sua vida, por tudo o que lhe acontecera, coisas boas e ruins, e também citou todas as pessoas importantes para si, além de seus desejos para o novo ano. Após terminar suas orações e ritos, ela seguiu para o lado de fora, aproveitando para desfrutar da paisagem ao redor.

Arte da Trégua  • tobirama senjuOnde histórias criam vida. Descubra agora