Neve de Primavera

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Para Tobirama Senju, não era nada fácil conviver com os Uchihas. Apesar dos esforços contínuos para manter a paz entre os clãs e a promessa de um futuro mais unido, ele ainda sentia uma profunda desconfiança em relação a eles. Era algo enraizado, difícil de superar, apesar de toda a racionalidade que ele tentava impor sobre suas emoções. Nos últimos dois dias, sua cabeça estava cheia de preocupações. Além das responsabilidades e tensões normais, havia algo mais, algo que ele não conseguia tirar da mente: a mulher misteriosa que ele havia salvado da cachoeira. Desde o incidente, Tobirama tentou encontrá-la em todos os lugares que ia. Não comentou com ninguém sobre o incidente; mas ainda procurava o rosto da moça na multidão em todos os lugares que ia, mesmo que inconscientemente. 

Sentado em seu quarto, ele examinava seus papiros, mas sua mente constantemente voltava ao rosto da jovem mulher. Sua pele bronzeada, os cabelos castanhos cortados logo abaixo das orelhas, e o olhar de pânico quando ela despertou e o viu. Ele não conseguia esquecer o terror nos olhos dela quando sussurrou seu nome, como se o conhecimento de sua identidade fosse algo terrível. Tobirama suspirou, fechando os olhos por um momento, tentando afastar as distrações. Como se o desejo houvesse batido no céu e voltado, Hashirama apareceu na porta entreaberta.

— Entre, por favor. — disse, erguendo os olhos para o irmão. Hashirama entrou, um sorriso caloroso no rosto.

— Já marquei com Madara o dia para conhecermos a pintora Uchiha. — disse ele, com entusiasmo. — Ela trará alguns quadros para que possamos ver seu trabalho.

— Trazer aqui?

— Sim, você tem alguma objeção quanto a isso?

Tobirama possuía inúmeras, mas apenas bufou, sabendo que o irmão era irredutível naquela aproximação entre clãs.

— Você é o Hokage, deve saber o que está fazendo.

Hashirama suspirou e olhou para o irmão com pesar.

— Tobirama, talvez você precise rever ser tão radical com tudo. Nem tudo é preto e branco como você vê.

— Radical? — O mais novo ergueu uma sobrancelha. — Eu sou cauteloso, Hashirama. Existe uma diferença. Nossa história com os Uchihas não é algo que podemos ignorar de um dia para o outro.

— Entendo sua preocupação, mas essa aliança é crucial para a paz da aldeia. — Hashirama retrucou, mantendo a calma. — Precisamos aprender a confiar uns nos outros.

— Confiar? — Tobirama quase riu, mas manteve o tom sério. — Os Uchihas sempre foram instáveis. Escute bem o que estou dizendo: Se não ficarmos vigilantes, poderemos pagar um preço alto.

— Eu não sou ingênuo, Tobirama. — respondeu firmemente. — Mas acredito no potencial das pessoas para mudarem. Essa pintora, por exemplo, está contribuindo para algo positivo, não está?

— Você a conhece?

— Não. — O Hokage respondeu, piscando.

— E já vai a trazer para dentro da sua casa?

— Ela vem com o Madara e...

— A história só piora ainda mais. —Tobirama cruzou os braços, tentando conter sua frustração. — Eu vejo o mundo de forma prática, irmão. Preciso garantir a segurança da aldeia. Se isso significa ser radical para você, então que seja.

— E eu vejo o mundo com esperança. — Hashirama replicou, suavemente. — Esperança de que possamos superar nossos conflitos e construir algo melhor. E é por isso que o destino nos uniu como irmãos... Só precisamos equilibrar nossas perspectivas.

— Equilíbrio, sim, mas sem baixar a guarda. — Tobirama afirmou, os olhos fixos nos de Hashirama. — Concordo em receber a pintora aqui, mas não esperem que eu baixe minha guarda completamente.

Arte da Trégua  • tobirama senjuOnde histórias criam vida. Descubra agora