capítulo vinte

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VINNIE

Me mexo na cama não sentindo mais o calor de Zahra e quando finalmente abro os olhos, percebo que ela realmente não está mais lá.

Me levanto, esfregando o rosto e checo o horário no relógio que marca 4:00 da manhã.

Porque caralhos ela não está na cama?

Saio do quarto, andando pelo corredor escuro da casa, mas o abajur aceso no quarto de hóspedes chama minha atenção e eu paro na porta, vendo Zahra e Rachel deitadas juntas, dormindo, com o rosto tão vermelho que provavelmente choraram bastante antes de pegarem no sono.

Ela me trocou pela minha irmã. Que ótimo.

Entro no quarto e cubro as duas, apagando a luz e fechando a porta quando saio.

Desço até a cozinha e encho um copo de água, enquanto abro uma das gavetas e tiro os analgésicos da caixa.

O tanto de bebida e drogas que ingeri ontem estão começando a pesar em minha cabeça. O que me faz lembrar que depois que eu oficialmente me tornar capitão, não vou poder agir tão imprudente assim.

Só de pensar nisso meu peito aperta, porque como vou relaxar agora? O que vai me dar o alívio que a bebida e as drogas me dão?

Transar com uma garota diferente a cada festa que vou, não me satisfaz o suficiente. Só momentaneamente.

E estou cansado disso.

Jogo três comprimidos na boca e bebo a água, engolindo tudo.

Lavo o copo, apago as luzes e subo para o quarto de Riggie.

Está vazio, mas sei que ele já está aqui porque Rachel disse que o buscaria no meio da noite, para nossos tios não terem tanto trabalho ao acordar com dois bebês.

Paro em frente a cômoda com algumas de suas roupinhas e pego o quadro com nossa foto de família.

Estou no pescoço do meu pai e minha irmã está abraçada a minha mãe, que tem a cabeça encostada no peito do meu pai. Parecemos felizes e unidos.

Era o que éramos.

Quando tiramos essa foto eu estava prestes a fazer nove anos e mal imaginava o que me esperava. O acidente. O bullying na escola. Anos depois, o abuso de Rachel.

Tudo foi me fodendo aos poucos e quando percebi, já estava usando de diversos métodos pra aliviar minha tensão, raiva e tristeza.

Comecei o futebol americano aos 14 anos, aquilo foi a melhor coisa que me aconteceu desde a morte dos meus pais. Foi o que me deu vida novamente.

Quando Rachel sofreu nas mãos do professor, aos meus dezessete anos, entrando no segundo ano do ensino médio, eu dei uma surra nele algumas semanas depois de descobrir.

Mas ninguém acreditava em nós. Acharam que era apenas mais uma merda que eu estava fazendo, querendo foder a vida dos outros pelo fato da minha já estar ferrada.

As vezes ainda me culpo. Talvez, se eu não tivesse uma reputação tão ruim, teriam acreditado em mim, teriam acreditado em Rachel. Mas não foi o que aconteceu.

E isso me deixou ainda mais puto.

Eu fui expulso do time depois que a noticia se espalhou e fui muito mal visto até sair da escola. De fato, a UCLA me aceitou graças ao meu tio. Mas combinamos que nada mais me faria estourar. Porque agora já não seria somente problema meu, mas dele.

Rachel não sabe, mas até hoje eu o observo. Estava esperando ter ainda mais ódio porque imaginei que ele teria uma família linda, como todo infeliz tem depois de não ser preso.

Impuros - Vinnie hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora