Sexta, Faire l'amour avec moi

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Eros não voltou pro internato depois de ontem. Mandei mais de 30 mensagens e ele nem ao menos respondeu. Não consegui prestar atenção nas aulas, Matt e Mike me perguntaram se alguma coisa tinha acontecido, mas não soube o que responder. As horas passaram e eu fiquei enfiado no nosso dormitório assistindo qualquer merda que me aparecia na tv. São quinze pras seis agora, no televisor tá passando o noticiário mas eu nem estou prestando atenção, o celular tá ligado no whatsapp do Eros, esperando que ele responda. Não sei descrever o que eu estou sentindo no momento, ansiedade? Angústia?

Medo?

Talvez seja isso. Eu tô apavorado. É simplesmente impossível ignorar os sinais agora.

Eros não é humano.

E o que quer que ele seja, provavelmente não vai ficar feliz de saber que eu sei. Além do que, ele mesmo admitiu estar por trás dos assassinatos recentes ontem, não sei o que pensar disso. Eros disse que fez aquilo contra os “pecadores”, seja lá o que ele define por essa palavra. Então o saldo é: Eu tô namorando um serial killer com poderes que sumiu do nada logo após eu o pressionar sobre sua identidade.

Eu tô muito fodido, e dessa vez não é da forma gostosa.

E se eu for a próxima vítima? E se esse for o modus operandi dele? Ganhar a confiança da vítima e então atacar? Acho que eu vou acabar como um esqueleto carbonizado também, mas por que se dar ao trabalho de transar e sair comigo? Isso é demais pra minha cabeça, eu não sou nenhum pecador, sou só um cara normal com uma vida normal que decidiu se aventurar!

Ouço batidas na porta e meu coração dispara. Não sei o que fazer, e se for ele? Cada passo é como se estivesse pisando em facas, minha mão fica colada ao metal frio da maçaneta pelo que parece uma eternidade, até eu juntar forças do fundo do meu ser e abrir a porta.

Os cabelos com que me deparo não são o rosa que eu esperava, mas sim os fios negros do Terence, ou melhor, da Ava. Ela tá completamente diferente dessa vez, usando uma camisa preta e vermelha de mangas longas listrada, uma saia vermelha que passa dos joelhos, meias altas listradas no mesmo padrão e sapatilhas, ela tá usando uma maquiagem discreta e uma presilha no cabelo.

—A-Ah Oi Will.—Ela tá forçando a voz pra ficar mais fina que o tom natural.

—Oi Ava, quer entrar?

—C-Claro.

Ela parece mais tímida que o normal. Ava se senta no sofá ao meu lado, nunca olhando pra mim. Depois que nós a resgatamos os médicos não encontraram nenhum ferimento, no caminho de volta pra cá ela não me dirigiu a palavra em momento algum.

—O Eros não tá?

—Ele não voltou desde ontem.

—Ah…—Ava respira fundo, e desvia o olhar pra janela, vendo o sol começar a se pôr no horizonte.—Eu queria me desculpar, com você, com ele, com todo mundo que eu machuquei, o que eu fiz não foi certo.

—Você estava passando pelos seus próprios problemas também, não se preocupe tanto.

—Problemas que eu causei, eu conheci aquele homem num fórum online, ele foi a primeira pessoa pra quem eu disse que era trans, achei que podia confiar nele…—Lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto.—Meus pais são muito religiosos, jamais me aceitariam, ele usou isso pra me chantagear.

—Isso tem acontecido desde o ano passado? Por que não falou pra ninguém?

—Eu não podia! Meus pais são tudo pra mim, não posso ficar sem eles!

O noticiário troca pra uma notícia urgente, outro corpo foi encontrado, dessa vez foi possível identificar a “vítima”. Estava ali, estampada na tela, a foto daquele homem, ele tá morto. Ava cobre a boca, tão estupefata quanto eu. Eros fez mais uma vítima, mas dessa vez não me sinto mal por ela, talvez ele realmente só tenha matado pessoas ruins? Tomara que ele também não me considere uma pessoa ruim.

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