Hora de Agir

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Segurei firmemente o volante quando finalmente estacionei. Estamos na minha casa, mas não me sinto tão bem vindo agora.

—Tá tudo bem Will?

—Sim, é só que... eu não sei o que esperar.

Senti o calor da sua mão na minha e a apertei levemente, buscando seu apoio.

—Não se preocupe tanto, eu tô aqui com você, aconteça o que acontecer.

Sorri com seu apoio terno, e beijei seus lábios. Eros retribuiu sem perversão, era apenas um beijo apaixonado, transmitindo todo o seu afeto.

Cada passo pelo caminho de pedra até a porta da frente de casa deixava minhas pernas bambas. Não sei como a minha mãe vai reagir quando vir ele, mas algo me diz que ela não vai ficar muito feliz, isso se ela já não tiver sentido a presença dele.

Bati meus dedos contra o carvalho ainda com o coração na mão e esperei que ela abrisse, o que não demorou.

Minha mãe sorriu ao me ver, mas a felicidade morreu assim que seus olhos pararam no Eros parado ao meu lado...

Minha mãe sorriu ao me ver, mas a felicidade morreu assim que seus olhos pararam no Eros parado ao meu lado

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Estávamos os três sentados à mesa, um silêncio tenso dominava o local. Minha mãe parecia saber exatamente o motivo da minha visita, então acho que explicações não são necessárias.

—A quanto tempo você...

—Um dia, eu só tenho uma pergunta: por que? Por que você escondeu a verdade de mim por tanto tempo?

—E o que você esperava que eu fizesse? Você era só uma criança, merecia ter uma vida normal.—Posso ver as lágrimas se formando em seus olhos.

—Em que mundo a minha vida é "normal" agora? Tinha uma bomba dentro da minha cabeça a vida toda e você esperava que eu simplesmente fosse viver tranquilamente até ela explodir sem mais nem menos!?—Não me orgulho, mas minha voz começou a aumentar.

—E como eu poderia adivinhar que você iria se encontrar com um demônio logo aqui!? Eu só queria te proteger!

Respiro fundo, uma discussão agora não vai ajudar em nada.

—Eu entendo que você quis me proteger, mas por mais que as suas intenções fossem boas, elas não me ajudaram e não vão me ajudar agora, eu preciso que você me conte tudo o que sabe, o papai te contou alguma forma de resolver isso? Você sabe onde o codex foi parar?—Falei com toda a calma que pude expressar, não quero discutir sobre isso agora.

Minha mãe suspirou, parecendo também se acalmar e encarou o relógio na parede por um tempo, como se estivesse revisitando o passado, tentando encontrar alguma coisa, qualquer coisa, que me fosse útil no movimento lento dos ponteiros.

—A única coisa que eu consigo me lembrar é que ele me pediu pra te contar o seu nome de batismo, disse que seria importante.

—O que?

—Anjos e demônios não são nomeados como os humanos, nós recebemos um nome de batismo e o carregamos como um título, mas diante de outras pessoas em um contexto casual, usamos nomes comuns, alcunhas ou honoríficos.—Eros me respondeu antes que minha mãe tivesse a chance.—No meu caso, decidi disfarçar o meu nome de batismo no meu sobrenome comum.

Ouvi uma risada anasalada vinda da minha mãe, era quase como se ela tivesse notado a presença dele só agora.

—E pensar que o único motivo de virmos morar aqui foi porque os anjos não teriam coragem de invadir o seu território, e o no fim foi exatamente você que trouxe essa maldição na vida do meu filho...

Havia um desdém incomum na sua voz, algo que eu jamais tinha ouvido vindo dela.

—Se quer culpar alguém, culpe o seu marido por ter usado o próprio filho como receptáculo pra um anjo morto.

Eu pude ver a pele alva do rosto da minha mãe se avermelhar com o comentário, mas decidi botar um fim antes que isso virasse algo pior. Me levantei, fazendo com que a atenção fosse voltada para mim.

—Mãe! Esquece esse assunto um pouco, o que tá feito, tá feito, eu preciso que você me diga o que sabe, qual é o meu nome de batismo, e por quê o meu pai achou importante que eu soubesse?

Minha mãe me olhou nos olhos ainda vermelha de raiva, pude ver uma vasta gama de sentimentos conflitantes nas suas íris azuis.

—Azrael, seu nome é Azrael, mas eu não sei de mais nada além disso, sinto muito...

Bem, isso com certeza não me ajuda.

—Will...—Suas unhas jogaram os cachos dourados para trás, uma mania que eu reconheço, ela está nervosa.—Eu sinto muito por ter mentido, mas você precisa entender o meu lado, eu já tinha perdido o seu pai, a verdade podia muito bem fazer o mesmo com você...

—Eu já te perdoei...—Desviei meus olhos, olhar pra ela agora só vai fazer o meu coração se apertar mais.—Mas isso não significa que eu esqueci ou vou esquecer o que fez tão cedo. No fim você só prolongou uma dor que eu poderia já estar pronto pra enfrentar.

Não havia mais nada a ser dito, ela havia me ferido escondendo a verdade, nenhuma desculpa vai mudar isso...

Peguei a chave do opala e entreguei pro Eros.

—Preciso pensar, andar por ai, te vejo no internato, ok?

—Vou ficar mais um pouco, conversar com a sua mãe, tentar encontrar algum detalhe que ela possa ter perdido. Te vejo mais tarde.

Assenti, era meio estranho ver o Eros sério, mas é bom saber que está de cabeça nisso. Dei uma última olhada pra ela, que parecia ter envelhecido dez anos desde o início da conversa e saí.

Logo quando passei pela porta, me deparei com Dante encostado no carro com um cigarro nos lábios.

—Não foi a reunião familiar mais calorosa, né?

—Veio falar merda pra mim quando eu já tô de cabeça cheia, eu vai me dizer algo útil?

—Ei, relaxa moleque, não precisa vir com essa agressividade toda, só vim te dizer pra gente ir a luta.

—"A gente"?

—Se depender de mim, você vai ser o serafim mais forte de todos.—Ele se levantou, jogou o cigarro no chão e pisou em cima, depois desapareceu e reapareceu frente a frente comigo.—Tá pronto, "Azrael"?

—Pra que?

—A gente vai atrás desse livro, eu e você, vamos salvar as nossas vidas, não importa quantos anjos e demônios fiquem no nosso caminho, o que me diz, parceiro?

Ele estendeu a mão na minha direção e eu apertei sem exitar.

—Vamos nessa, porra!

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⏰ Última atualização: 5 days ago ⏰

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