[Primeira obra da saga Lovely Sins]
Estar preso em um internato no auge da vida adulta normalmente seria um porre, e no caso de William é um porre. Estando no seu segundo ano na Quentin, uma escola interna para garotos, William Rupert de 19 anos aca...
—Que merda foi aquela? Aquele cara era o Gabriel? Pra que todas aquelas perguntas?
—Will, se você quer que eu responda cada pergunta idiota que você faz, vai precisar primeiro achar o meu códex.
—Não tô pedindo pra me dizer o que se passa exatamente na cabeça dele, só quero sua opinião.
—Eu sei lá, o cara é meio perturbado, vai ver ele queria ver se você não é que nem os otários que maltrataram o Asmodeus no passado.
—Pra que discutir sobre moralidade comigo então? Era mais fácil ter ido direto ao ponto.
—Ele não me parece do tipo que aceita meias verdades. Entenda uma coisa, Will, não dá pra conhecer uma pessoa de verdade com perguntas de sim ou não simples, você tem que cutucar e incomodar o cara ao máximo e observar como ele reage, pelo menos é assim que eu faria se fosse detetive que nem ele.
—Estranho, ele não estava quando aconteceu a reunião com os Morningstar e do nada aparece pra mim...
—Pensa nisso depois, acabei de me lembrar, o Eros não parou de te ligar desde ontem, ele deve estar morto de preocupação.
—E você só me fala isso agora!?
Peguei meu celular e realmente, o Eros me encheu de mensagens e ligações a partir das sete e só parou às três e trinta e três da madrugada. Mandei só um "desculpa, tô indo pro dormitório" e saí correndo pro lado de fora.
—Cuidado!—Meu corpo se mexeu sozinho, desviando de um soco de surpresa desferido contra mim por um rosto familiar.
—Cê tem muita coragem de voltar aqui!—Era o segurança que jogou a gente pra fora ontem, acho que ele não tá feliz em me ver.
Ele se aproxima cada vez mais, dá pra perceber que ele quer partir pra cima.
—Dante!
—Relaxa, tô com você moleque!
Perdi o controle do meu corpo no momento que ele lançou o punho na minha direção. Dante segurou seu pulso e o quebrou com um único movimento. Ele se afastou segurando o pulso e gritando de dor e raiva. Com a outra mão, Dante acertou um soco no queixo, o derrubando na hora, e então eu voltei ao controle.
—Puta merda.—Xinguei enquanto conferia o pulso do homem, ele ainda tá vivo.
—Não se preocupa com ele, é melhor voltar logo pro Asmodeus, vai por mim, nada é mais assustador que um ccubo com raiva.
—E sabendo disso, você não respondeu nenhuma mensagem dele?
—Will, na boa, eu posso até estar te ajudando de bom grado e por obrigação, mas não abusa. Sua vida amorosa é exatamente isso: SUA. Se você não queria preocupar o seu namorado, devia ter avisado que ia dormir fora.
—Mas pra meter a minha pica em um stripper aleatório você é bom, né?
Por mais babaca que ele seja, ele tem razão em uma coisa, o Eros com raiva é assustador, e olha que eu nem vi esse lado dele ainda.
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Cheguei ao internato 15 minutos depois, acabei encontrando o opala estacionado perto dali, o que significa que o Eros tá aqui mesmo. Outra coisa, ele leu a minha mensagem mas não respondeu, o que é um péssimo sinal.
Ao adentrar o pátio, acabei dando de cara com uma cena inusitada. O Matt, o Mike e a Ava conversando. O diferencial é que os três tão conversando super entrosados, o que é estranho, já que antes mesmo dela ter se abrido sobre o gênero, esses dois não tinham qualquer contato com ela por motivos óbvios.
O que me incomodou mesmo foram os olhos dela. Prateados. Ela virou uma súcubo. O Eros transformou ela sem nem me dizer nada ou me convidar pra participar, outro péssimo sinal.
Eles acenaram pra mim quando passei, mas o olhar da Ava tinha algo diferente, algo parecido com pena e talvez pesar. Aceitei isso como uma mensagem silenciosa: Você fez merda, vai ter que encarar as consequências.
Outra coisa estranha é que o Oliver não tá por aqui, claro, ele pode estar pegando algum cara daqui no quarto dele. Ou ele pode ter ficado com medo da ira do meu namorado e vazou.
Quando cheguei no meu quarto, acabei me surpreendendo. O quarto estava completamente normal, sem nenhum móvel quebrado nem nada do tipo. Claro, eu não acho que o Eros é esse tipo de pessoa, que destrói o que vê pela frente quando tá com raiva, mas pra alguém que carboniza as pessoas pra salvar outras, a ideia acabou passando pela minha cabeça.
O Eros, porém, não estava ali, e isso me deu um certo alívio.
Alívio esse que durou muito pouco. Quando já estava no centro do quarto, ouvi a porta bater com força atrás de mim.
Quando me virei, vi Eros parado à minha frente com os braços cruzados, os olhos dourados fumegando de raiva por trás das lentes vermelhas dos seus óculos. Ele não disse nada por um bom tempo, mas sua voz se fez presente quando abri a boca pra cortar o silêncio, falando com um tom ríspido e severo que eu não reconheci.
—Onde você esteve?
Engoli em seco enquanto considerava minhas opções, e depois de muito ponderar, cheguei a conclusão de que seria melhor falar a verdade.
—O D-Dante...—Gaguejou Will, strike um!—Quer dizer, eu pensei em voltar pro internato, mas...
Tentando enrolar pra achar uma desculpa? Strike dois! O olhar dele, que já não era dos melhores, ficou ainda mais severo. Seu dedo começava a cutucar no próprio braço, um sinal de impaciência.
—O Dante me deu a ideia de ir atrás de umas coisas antigas dele que podiam ser úteis e eu meio que esqueci de te avisar.—Meio que esqueceu? Strike três! Tá fora!
O olhar do Eros abaixou pude ver seus dentes se cerrando, fumaça começou a sair do chão abaixo dos seus pés e o cheiro do assoalho queimando impregnou o ambiente.
—Então você tá me dizendo—Não reconheci mais aquele tom de voz embargada pela raiva.—que enquanto eu e várias outras pessoas que se importam com você nos esforçarem pra te ajudar, nos arriscando pra salvar a sua vida...
Ele voltou seu olhar pra mim e acabei me surpreendendo. Lágrimas rolavam por seus olhos.
—VOCÊ ESQUECEU DE ME AVISAR!?—Não consegui dizer nada, eu não conseguia, a vergonha não quis deixar.—Tem noção do quão preocupado eu fiquei!? Eu tenho me empenhado pra te salvar! Como você pôde fazer isso comigo!?
As lágrimas dele me afetaram também, acabei não percebendo quando as minhas comecaram a cair também. Apesar de toda a vergonha, consegui juntar forças pra dizer alguma coisa.
—Eu não queria te preocupar, eu só...—Ponderei no que falar por alguns instantes.—eu só não queria ficar sentado esperando outras pessoas resolverem tudo pra mim, me desculpa Eros...
—"Resolver tudo pra você"!? É assim que você vê a nossa ajuda!? A gente se importa com você, EU me importo com você, e é assim que você me trata!?—Conforme ele fala, a temperatura do quarto aumenta, eu consigo sentir o calor do inferno à minha volta.
—Me perdoa...
—Te perdoar!?—O olhar dele se suaviza, ele respira fundo, joga os cabelos pra trás e o deixa cair sobre os olhos de novo. O calor do quarto suaviza conforme Eros se acalma.—Sim, claro, vou te perdoar eventualmente, eu não tô com raiva, tô só decepcionado.
As palavras dele me cortaram, e como me cortaram, foram mais profundas do que qualquer lâmina sequer irá algum dia.
—Quer sair por aí e arriscar a sua vida a troco de nada? Vai lá, fica à vontade—Ele começou a chorar outra vez e eu não consegui conter as lágrimas também.—, mas preciso que entenda, eu já perdi muito na minha vida e se for pra perder você também, então que seja ainda estando vivo. Eu não vou assistir você se destruir.
Ele se virou pra porta, mas se virou pra mim antes de sair.
—Pensa nisso antes de se colocar em risco de novo, mon amour.