Tasteful Depravity

O Anjo de uma Asa

Em minha frente posso ver a silhueta de um homem, ele tem cabelos brancos e uma uma única asa de penas negras nas costas, são os únicos detalhes que percebo. Não posso ver o rosto dele. Ele vira em minha direção e uma voz soa em minha cabeça: Não, você não é... 

E então eu acordei. Esteva de volta no quarto do Eros e falando nisso, ele tá dormindo no meu peito pacificamente. Tenho que admitir que ele é fofo dormindo. Nossas malas já estão arrumadas e prontas pra nossa partida hoje. Eu gostei da viagem, apesar dos problemas com o Alastor e o Eros, mal posso esperar pela próxima vez. Me levantei com cuidado pra não acorda-lo e fui até a varanda, me debrucei contra o parapeito observando o nascer do sol. A imagem do anjo de uma asa não sai da minha cabeça, anjos e demônios existem, então esse sonho não pode ser só coincidência, talvez isso tenha relação com a conversa que o Alastor e a Mei tiveram? Não faço ideia. Senti mãos enlaçarem minha cintura e o calor de um corpo contra o meu, vindo logo antes de uma voz angelical soando no meu ouvido:

—Insônia, mon chérie?—Beijei seus lábios suavemente ao me virar.

—Tive um sonho estranho, tinha um anjo com uma asa só e uma frase estranha: "Não, você não é...", isso com certeza tem algum significado, não?

—A asa era preta e o cabelo branco?—Eros pareceu ter ficado sério do nada.

—Sim, como você sabe?

—Só existe um anjo com essa descrição, Dante.

—Tipo... o do Inferno de Dante?

—O próprio.

—Ele não era humano?

—Pois deixe eu te apresentar ao segundo maior mistério da criação: Dante, o escriba. Existem inúmeros registros sobre um ser chamado Dante, em alguns é um humano, em outros um demônio, mas a representação mais comum é a de um anjo. Tem um livro e pergaminhos que supostamente foram escritos pelo próprio e latim, mas nunca existiu um anjo, demônio ou humano chamado Dante. Os únicos anjos que têm asas pretas são os que caíram, ou seja, meu pai e alguns outros demônios que ajudaram ele, então todos presumem que ele morreu após ter caído por não ter suportado o peso da corrupção.

—Ele existe ou não existe?

—Se alguém soubesse a resposta pra essa pergunta não seria um mistério, só sei que o que você viu com certeza era o Dante. O que se sabe sobre esse cara é que ele supostamente era pra ser o ser mais próximo de Deus e é ele quem seria a ponte entre o nosso mundo e o criador.

—Como um mensageiro?

—Sim, mas ele é descrito como um escriba, pois ele seria responsável por manter registros sobre reuniões e eventos importantes nos três reinos, mas como eu já disse, ele não existe. Quem tem essa tarefa é a paciência, uma das sete virtudes, eles são anjos opostos nós pecados.—Percebi que Eros falou em um tom desdenhoso quando tocou no assunto dos tais anjos, acho que eles não se dão muito bem com eles.

—É impressionante o quanto você sabe sobre anjos, considerando que é um demônio.

—É preciso conhecer as pessoas que te querem morto pra sobreviver, além do mais, foram várias as vezes que eu e meus irmãos tivemos problemas com esses filhos da puta de ego inflado.

Algo me diz que os anjos não são pessoas muito agradáveis, o que é bem irônico. Eros me puxou pra dentro do quarto sem que percebesse. Eu até pensei que ele quisesse transar mais uma vez, mas nós só nos deitamos de frente um pro outro, os dedos dele fazem caricias no meu cabelo, seus olhos tem um olhar gentil que aquecem meu coração.

—Esquece essas coisas por um momento, tá? Esquece o Dante, os anjos, o Alastor. Foca no agora, no meu rosto, nos meus olhos, na minha voz, nos meus dedos. Deixe que eu tiro a sua mente de todos os problemas.—A voz dele era suave e me traz uma calma tão profunda que eu acabei me perdendo no dourado dos seus olhos.—Me deixa te hipnotizar? Talvez isso te acalme.