Feridas na Alma

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Infelizmente(Ou felizmente. Depende do ponto de vista.) nossa estadia na mansão Morningstar teve que ser prolongada. Apesar do acontecimento do dia anterior, os ânimos na casa se acalmaram. Ninguém gosta da ideia de ter anjos na mansão, mas acho que por eles perceberem que a reunião provavelmente vai durar algumas horas no máximo, devem ter achado que não vai ser tão ruim assim. Eros até me chamou pra ajudar ele a praticar dança de colo... como cobaia, claro. Sinceramente, eu acho meio contra produtivo testar algo que causa tesão em alguém que fica com tesão tão fácil quanto eu, mas quem sou eu pra questionar os métodos de treino dele. Só sei que, como sempre, ele é eficiente no que faz. Minha ereção não desceu por um segundo sequer. E eu acho que já sabem o que aconteceu depois não é?

Eros inclinado e se segurando no poste e gemendo enquanto eu o fodo com um punhado do seu cabelo firmemente em minhas mãos. Fomos rápidos e gememos alto enquanto ambos gozamos ao mesmo tempo. O puxei pela cintura pra cama e beijei seus lábios profundamente. Ficamos algum tempo assim, nos recuperando do estase pós sexo, fiquei encarando seu rosto, seus olhos lindos e brilhantes, lábios carnudos e levemente rosados. Eros arqueou uma sobrancelha enquanto sorria pra mim.

—Se hipnotizou sozinho, mon chérie?

—É só que... não sei, eu me sinto sortudo de estar com você.

—Por que isso? Você é bonito, engraçado, inteligente, não é como se você não fosse capaz de namorar alguém.

—Talvez, mas não tem ninguém como você.—Dessa vez eu me surpreendo em ver, pela primeira vez, o rosto dele se avermelhar com algo que eu disse.

Eros desviou o olhar por um momento e então sua expressão se tornou estranhamente séria.

—Will—Senti um peso estranho na voz dele e um aperto no meu coração, espero que ele não pergunte sobre...—, você sabe tanto sobre mim, mas eu não sei quase nada sobre você...

Merda... essa pergunta não... começo a suar frio procurando alguma desculpa.

—Não tem nada pra contar, você já deve ter visto a maior parte da minha vida na minha mente, eu nasci e cresci em Quinton, tive uma vida completamente normal, tô cursando direito na Quentin e perdi meu pai muito recentemente...—Menti descaradamente, eu sei que ele sabe que eu menti, mas espero que ele não me pressione mais.

—Will...—A decepção dele é perceptível na voz.—Me deixa eu te explicar uma coisa, eu não consigo só ouvir pensamentos, eu posso sentir emoções também e isso pode me fazer sentir o que as pessoas sentem. O problema é que alguns eventos na sua vida podem deixar emoções que podem te afetar por um longo tempo e na maioria das vezes essas emoções não são positivas. Quando eu olho pra pessoas assim, é como olhar uma ferida aberta, uma mancha escura visível na alma.

Meu coração começa a bater tão forte que consigo ouvi-lo no meu ouvido.

—Sabe o que eu vejo quando olho pra sua alma, Will?—Não digo nada, eu já sei a resposta, mas não consigo dizer nada, existe um nó na minha garganta.—Eu vejo uma alma atormentada por uma mancha tão escura, tão grande... ela quase toma completamente o seu ser...

Não digo nada. Não consigo dizer. Eu não queria lembrar disso, tem lágrimas prestes a escaparem dos meus olhos.

—Eu nunca tentei ver essa parte da sua vida, eu sabia que isso te machucava muito então eu respeitei sua dor. Você pode me contar se quiser, mas eu vou entender se não.

Por mais que eu não quisesse, algo em mim me faz querer contar. É uma sensação torturante, lutar pra não soltar as palavras que tentam incessantemente sair. Algo que não consigo controlar são minhas lágrimas, que rolam livres pra fora. Sinto seus dedos acariciando meu cabelo.

—Tá tudo bem, eu sei que dói, mas se você continuar acumulando esses sentimentos vai ser pior.—As palavras dele me machucam tanto, ele não faz ideia...

—E-Eu não consigo...—Consigo milagrosamente sussurrar entre soluços.

Eros me segura contra seu peito em silêncio, apenas acariciando meu cabelo e me deixando soltar tudo pra fora. Ele não vai entender, é Asmodeus, qualquer problema que eu tiver é minúsculo perto dos dele. Não posso contar, simplesmente não posso!

—Eu tô aqui, Will. Eu não vou te julgar, não vou minimizar seus sentimentos.—Suas mãos são gentis enquanto ele segura meu rosto pra olhar em meus olhos.—Você me ajudou Will, eu me senti muito melhor com meu passado por sua causa, porque você esteve lá pra me ouvir. Tá na hora de eu fazer o mesmo.

Com isso, acabo desistindo. Se for pra eu o perder também pela a minha fraqueza, que seja, mas eu preciso tirar isso do peito.

—Já tive uma namorada. Ela era uma amiga de infância, eu a via como o amor da minha vida. Sempre estive lá por ela, sempre deixei que desabafasse e jogasse toda carga emocional da vida em mim. Era cansativo, mas pra mim não tinha problema, eu queria estar lá por alguém que eu amava.—Precisei de uma pausa, falar sobre isso é difícil demais—Ela parecia me apoiar da mesma maneira também, mas ai eu meu pai morreu. A morte dele me pegou de surpresa. Eu nunca tinha perdido alguém antes, nunca tinha ido a um velório, vê-lo em um caixão foi um choque enorme, eu chorei por ele na frente dela, varias vezes. Talvez esse tenha sido meu erro.

A próxima parte era a pior, eu senti meu coração se apertar cada vez mais quanto mais eu falava.

—Do nada a relação esfriou. Ela mal respondia minhas mensagens, começou a arranjar desculpas pra não sair comigo, quando nós realmente estávamos juntos, estava sempre distante, quando eu perguntava se alguma coisa tinha acontecido era sempre "tá tudo bem". Um dia eu finalmente descobri a verdade, nas suas palavras eu ter chorado e ainda chorar pelo meu pai era um exagero, que eu "devia virar homem de uma vez e superar". A gente discutiu, ela jogou na minha cara todas as minhas inseguranças, invalidou os meus sentimentos. Ela basicamente listou as coisas que me afastavam da noção que ela tinha do que um homem deveria ser, dizendo que eu não era "macho" o bastante.

Eros me abraçou forte, me envolvendo com o cheiro do seu perfume enquanto as lágrimas manchavam seu peito.

—Eu achava que ela era o amor da minha vida, via todo um futuro ao lado dela. É patético eu estar afetado por isso até hoje hoje mas-

—Will!—Eros segurou meu rosto com força, seus olhos também possuíam lágrimas as quais ele se apressou em limpar. Não tinha raiva na sua voz ou olhar, mas era algo intenso.—Seus sentimentos não são patéticos! Eles importam tanto quanto os de todo mundo, tu foi traído por alguém que fingiu se importar com você, ninguém se sentiria bem com isso, não importa se foi à três anos, três dias ou três horas. Aquela vagabunda não te merece! Você é uma pessoa boa que quando ama, o faz o mais intensamente possível, tem empatia, compaixão e caráter. Quem é ela pra dizer o que é ser homem ou não!?

Apesar das palavras dele me arrancarem mais lágrimas ainda, são de felicidade e alivio. Eu achei mesmo que a história iria se repetir. Dessa vez eu o abracei e chorei em seu ombro. Não consigo evitar de sentir que posso confiar completamente nele agora. Eros me viu no meu estado mais vulnerável e ao invés de me machucar ainda mais como ela fez, teve compaixão.

—Nós dois estamos quebrados, precisamos de ajuda. Vou ligar pra Amanda quando voltarmos pra cidade, ela é terapeuta. Vou providenciar tudo, nem adianta recusar. Te dou minha palavra mon chérie, tudo vai ficar bem.

Eros me apertou ainda mais forte contra o peito ao dizer isso, e meu coração não demora em acreditar.

Tasteful DepravityOnde histórias criam vida. Descubra agora