Tasteful Depravity

Pergunte ao Demônio

Depois da noite incrível que tivemos, aluguei um hotel pra nós. Eros não conseguiu ficar longe de mim, não que eu quisesse que ele ficasse, claro. É estranho pensar que um dos príncipes do inferno tá dormindo no meu peito, na verdade, é estranho pensar que ele sequer me deixou fode-lo. Deve parecer esquisito também eu ter aceitado tudo tão fácil, a verdade é que eu não aceitei, ainda tenho muitas perguntas. Qual é, não é todo dia que alguém cético como eu descobre que o sobrenatural existe, até porque se demônios existem, os anjos e Deus também devem existir, e quem melhor pra me responder essas questões que um dos regentes do submundo?

Depois que acordamos, aproveitamos o restaurante do hotel pra tomar café da manhã. Eu escolhi um simples queijo quente, uma fatia de bolo de chocolate e café preto e Eros optou por três ovos cozidos, um pedaço de torta de blueberry e chocolate quente. Enquanto comíamos, pensei em uma maneira natural de tirar minhas dúvidas, mas ele se adianta:

—Diga o que pensa Will, sua mente não é segredo pra mim, já estive aí dentro várias vezes.—Ele diz levando um pedaço da torta à boca, com um sorriso convencido.

—Você… lê minha mente? Desde quando?

—Desde o primeiro momento em que nos conhecemos.

—Isso… é meio invasivo…

—E olhar meu only fans e o da Laura não é?

—É, aí eu perdi no argumento, ainda sim, eu me sentiria mais à vontade se você não fizesse isso… com muita frequência.

—Vou tentar me comportar.

—Enfim, eu ainda tô em choque com o que você me contou ontem, eu ainda tenho perguntas.

Eros se inclinou no assento, tirou os óculos e os deixou sobre a mesa, cruzando as pernas. Seus olhos me encaravam sem expressão.

—Pergunte o que quiser, te responderei dentro do possível.

—Como assim, dentro do possível?

—Há aspectos da criação que são um mistério até pra maior das divindades.—Ele me responde com uma seriedade assustadora, acho que agora estou falando com Asmodeus.

—Achei que você fosse neto direto de Deus.

—Não é assim que Deus funciona Will, ele não é um indivíduo ou sequer tem forma física, conceitos mortais como parentesco e linhagem não podem ser aplicados a ele.

—Então se ele não é alguém, o que ele é?

A pergunta parece tê-lo deixado desconfortável, ele coça o queixo e desvia o olhar sem dizer nada por um tempo. Quando volta a me encarar, seus olhos possuem uma intensidade um tanto intimidadora.

—Essa… é uma pergunta difícil de se responder Will, aquele que os mortais conhecem como Deus é o maior mistério do universo, então não existe uma resposta correta…

Minhas mãos estão suando, o tom de voz dele me passa a ideia de que esse assunto é algum tabu pra anjos e demônios e diante desses três gigantes, não passo de uma formiga.

—Em tempos antigos ele era chamado de ”Mente Superior”, os anjos o descrevem como uma presença absoluta, ele é, e ao mesmo tempo não é, é o ar que respiramos, a luz que enxergamos, o começo e o fim, o bem e o mal, o pecado e a fé—Ele bebe um gole de chocolate quente antes de continuar.—Ele está em todo lugar, em todos nós, sem ele não somos nada e ele não é nada sem nós, a Mente Superior é como uma rede que liga tudo e todos em uma única consciência.

Quando ele para de falar, não consigo dizer mais nada, porque o que ele disse é mais confuso do que não saber nada sobre o assunto.

—Entende porque não dá pra explicar Deus? Ele não é algo ou alguém, ele é tudo.