Capítulo 35

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Eu entrei em um sonho muito louco, ou em um universo paralelo, onde o homem que sou apaixonada tem uma coleção de carros que nem em duas vidas teria dinheiro para comprar

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Eu entrei em um sonho muito louco, ou em um universo paralelo, onde o homem que sou apaixonada tem uma coleção de carros que nem em duas vidas teria dinheiro para comprar. Uma casa que mantem a vida dupla e agora ele ficou estranho por perguntar de novo do carro destruído dentro da carroceria do caminhão.

O que se escondia por trás daquele carro, que eu não conseguia compreender. Não podia ser pior do que toda a história que ele me contou agora. Podia?

-Esse carro não é de corrida, mas adaptei ele para essa noite. Esse carro eu comprei para presentear a minha ex pelo aniversário dela. E o mantenho guardado desde o término da nossa relação. – Fiquei muda com a revelação. Sim, poderia ser pior de tudo que descobri. Ele destruiu o carro nessa corrida. Nem sabia se queria saber o motivo. Levantei do sofá e me abracei, magoada.

-Você queria provar algo com isso? – Perguntei de costas para ele, mesmo não tendo esse direito.

-Claro que não, Alice. – respondeu ainda sentado.

-Não parece. – Respondi um pouco mais alto do que eu gostaria, mas estava chateada. Ele se aproximou, podia sentir sua presença.

-Alice. – Tentou me segurar pelo pulso, mas me livrei do seu toque.

-Fala. – Gritei. – Me fala o motivo desse carro está ainda com você.

-Alena e eu tivemos uma história de mais de dez anos. E comprei o carro como presente de aniversário para ela. O modelo foi ela que escolheu, mas nunca soube que cheguei a comprá-lo. Ele estava na casa dos meus pais e entregaria no dia do seu aniversário. Um dia antes da sua festa de aniversário e dois meses antes da conclusão da especialização, eu a flagrei com o seu amante. Ninguém me contou. Eu vi. – Ele falou com a voz grossa como se lembrar daquilo ainda fosse doloroso demais. – Ela tinha um relacionamento com um dos donos do hospital que trabalhava, e ele além de casado era o seu mentor da especialização. Um homem que eu já havia participado de jantares acompanhado da sua esposa.

-Isso você já falou. Eu quero saber a motivo do carro está com você.

-O carro é o meu lembrete diário de que ela levou o meu coração embora junto com ela. – Arfei com suas palavras.

-Se você não tem um coração, por que me escolheu para contar seu segredo? – Perguntei chateada.

-Porque você me deu ele de volta ao meu peito. – Balancei a cabeça negando sua fala.

-Não, Bernardo, eu não te dei nada. Absolutamente nada.

-Sim você fez. Em cada encontro, cada beijo, cada conversa e mensagens, você me devolveu aquilo que achava que estava perdido para sempre.

– Eu não sou um brinquedo, Bernardo. E não sou como a sua ex. – Continuei. – Eu te pedi tão pouco e as únicas coisas que recebi foram migalhas de afeto. Mensagens aleatórias, e indiferença na presença da sua família. – As lágrimas banhavam meus olhos, mas eu estava deixando a minha raiva me guiar neste momento, esperava que ele não agisse como o Igor e me desse um soco, mas eu queria falar. - A única coisa que te pedi foi para sair comigo sem me esconder, não te pedi nenhum sacrifício da sua parte. – E fechei os pulsos, as unhas pressionando as palmas das minhas mãos. – Se bem que é um sacrifício para você sim. Eu não sou uma modelo de mulher padrão. Eu não tenho um emprego glamuroso, não tenho dinheiro sobrando na conta e não tenho dezesseis carros na garagem. Aliás, dezessete.

-Alice, não fala assim, eu não te trouxe para provar nada, eu te trouxe para encerrar algo que a muito tempo ficou preso dentro de mim. Como uma doença que não tinha cura. Eu te contei algo da minha vida que nem minha família sabe. Porque você está sendo a minha cura.

-Eu não sou a sua cura, Bernardo. Eu não sou a merda do seu tratamento. – As lágrimas escorreram no meu rosto uma atrás da outra e ele segurou minha mão. Eu tentei me afastar, mas tive minha cintura circulada por seu braço. Comecei a esmurrar seu peito tentando me soltar, mas ele era mais forte que eu.

-Linda, você vai acabar se machucando. Para, por favor.

-Me solta, Bernardo. – Gritei e ele continuava me segurando firme. – Me solta, porra. – E as lágrimas desciam mesmo eu não querendo. – Me solta... – falei desabando no peito dele.

-Eu não vou te soltar, Alice. – falou no meu ouvido. Ficamos assim parados no meio da sala até meu choro diminuir e eu ficar calma o suficiente para entender aquela situação na minha frente.

Pedi para ser levada embora daquele lugar, eu precisava ficar sozinha. Não queria falar mais nada e precisava pensar. Entrei dentro do caminhão, e encostei a cabeça no encosto do banco. Olhei para o retrovisor e vi ele travando os pneus e as abas que tinha aberto para descermos anteriormente.

Ao entrar no veículo ele pegou a minha mão e depositou um beijo nos meus dedos.

-Me desculpe por não ser o que você imaginava. – falou, e vi ali que ele realmente estava vulnerável. Mas, foi muita informação para que eu processasse de uma vez só.

A volta foi mais demorada do que a ida. Ele me deixou na porta de casa. E me despedi dele sem intimidade. Segui para o meu apartamento, e só me dei conta das horas, quando vi os primeiros raios de sol na janela da sala. Fui em direção ao banheiro e debaixo do chuveiro chorei de frustração e mágoa.

O que Bernardo esperava de mim, afinal de contas?

Ele quer uma amiga que o entenda e respeite suas escolhas erradas, ou quer me mostrar o motivo de não me querer como namorada e voltar a ser meu amigo de foda.

Todos têm uma desculpa e a dele ganhou em disparada pelo não-relacionamento. Preferia ficar com o fato de eu ser a garota gorda, mas isso já estava batido. Eu fui para cama com ele mais vezes do que fui com o Igor. Ele foi honesto o tempo todo sobre não passar de sexo casual, mas como sempre aceitei as migalhas, mas agora a ex tem mais recordações do que eu. E nunca conseguiria competir com ela. Nunca.

Respeitaria o segredo dele, como amiga, mas, daquele momento em diante não seria mais do que isso na vida dele. Eu merecia ser prioridade na minha própria vida.

Mandei mensagem para minha amiga, avisando que estava com uma crise de enxaqueca e não poderia ir ao trabalho. Ela queria vir até meu apartamento, mas falei que já tinha me medicado, se eu estivesse melhor iria a clínica na parte da tarde. 



Alice não aceitou muito bem as explicações do Ursinho.  É bem complicado quando temos um histórico de relacionamentos fracassados para ter como medida. 

Votem e comentem. Beijinhos.


My care bear( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora