Capítulo 2 - Olhos de Mar Profundo

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A primeira coisa que senti ao despertar foi o toque frio da areia grudada no meu rosto.

Minha cabeça latejava, e o mundo ao meu redor estava girando lentamente, como se tudo fosse um sonho.

Pisquei várias vezes, tentando me situar, até que eu finalmente me dei conta de que eu tinha desmaiado - no meio da praia.

Lentamente, ergui o corpo, sentindo cada músculo protestar contra o movimento.

A praia estava deserta, como antes, mas agora os raios de sol penetravam nos meus olhos, e estava bem menos frio.

Eu levei a mão ao peito, sentindo uma dor leve onde o amuleto havia cortado minha pele. O corte ainda latejava, mas não era grave. O amuleto, no entanto, não estava mais comigo.

Olhei ao redor, desesperada, e finalmente o vi: ele estava ali, parcialmente enterrado na areia, ainda com aquele brilho fraco e misterioso. Com a respiração ofegante, estendi a mão para pegá-lo novamente.

Ao tocar o metal, uma onda de calor percorreu meu corpo, tão súbita que quase larguei o amuleto de volta na areia.

Algo estava definitivamente errado com aquilo.

De repente, senti algo vibrar no bolso da minha calça. Meu coração deu um salto. Por um momento, o som das ondas e o peso da areia deixaram de existir enquanto eu tirava o celular, confusa e atordoada. A tela brilhava através dos muitos grãos de areia grudados nela, mostrando um número desconhecido.

Apertei o botão para atender, mas a voz do outro lado surgiu antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa.

— Senhorita Kinsley? — A voz masculina era firme, profissional, mas havia uma urgência sutil nela. — Meu nome é Jacques Lemoine, sou advogado. Precisamos conversar imediatamente.

O nome não me era familiar, e minha mente ainda estava nebulosa após o desmaio, o que tornava tudo mais difícil de processar.

— Desculpe... advogado? Sobre o quê? — Minha voz soou rouca, fraca.

— É sobre seu pai — ele respondeu, sem hesitação.

Meu pai...

— Meu pai? — repeti em um sussurro, como se dissesse a palavra em voz alta pudesse desfazer o que ele acabara de dizer.

— Sim, senhorita Kinsley. Receio ter más notícias. Ele foi encontrado morto ontem à noite, em uma praia numa ilha pouco habitada chamada Meia Lua.

Meia Lua. O frio me atingiu como uma onda gélida. Meu corpo inteiro parecia congelar enquanto eu tentava processar as palavras do advogado.

— Há muito mais que você precisa saber, mas seria melhor falarmos pessoalmente. — A voz dele estava firme, mas com uma certa compaixão. — Eu poderia me encontrar com você amanhã? Sei que isso é muito para processar.

Eu queria responder, dizer algo, mas as palavras estavam presas. Meu pai... morto? Ele havia se afastado da gente há tanto tempo, e agora, tudo o que restava dele era essa notícia devastadora?

— Senhorita Kinsley? — Ele insistiu, esperando uma resposta.

— Sim, eu... amanhã, tudo bem. — Minha voz mal saiu, quase um sussurro, mas foi o suficiente para ele confirmar o encontro.

— Certo. Nos encontraremos na sua cidade, em Lattes, às 9h. — E, antes que eu pudesse perguntar mais, ele finalizou. — Sinto muito pela sua perda. Estarei com todos os detalhes amanhã. Tenha um bom dia.

O telefone ficou mudo, e eu continuei segurando-o perto do ouvido, tentando absorver o que acabara de acontecer.

Meu pai estava morto, e um advogado tinha detalhes que eu deveria ouvir.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora