Capítulo 23 - Inveja

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O rapaz estava imerso em um livro, suas páginas se virando suavemente sob seus dedos enquanto a luz fraca da lâmpada balançava suavemente.

O porão, com suas pilhas de livros e sombras dançantes, era o seu refúgio, um mundo onde ele poderia escapar da realidade dura que o cercava.

O homem sempre dizia para ele ficar ali, longe do que poderia ser considerado "perigoso". Mas, naquele momento, algo quebrou a rotina silenciosa do porão.

Um som estranho flutuou até seus ouvidos, uma gargalhada distante que parecia muito feliz.

O garoto franziu a testa, surpreso e intrigado.

O riso soava como se estivesse vindo de algum lugar do andar de cima, e ele não pôde deixar de sentir uma pontada de curiosidade.

Ele se levantou lentamente, deixando o livro de lado, e subiu as escadas, o coração acelerado com a possibilidade de descobrir o que estava acontecendo.

Cada passo parecia ecoar em um silêncio carregado, mas a gargalhada continuava, mais alta e mais clara, como um chamado irresistível.

Ao chegar ao topo da escada, ele hesitou por um momento, ouvindo atentamente.

A porta do porão se fechou atrás dele com um estalo, e o garoto olhou para o corredor à sua frente.

O riso parecia ter se intensificado, ressoando por todo o espaço, e ele se sentiu atraído, como se aquela risada estivesse prometendo algo que ele nunca havia experimentado.

Ele caminhou cautelosamente, com os pés quase fazendo barulho no chão de madeira.

A risada parecia vir de uma sala à esquerda, e ele se aproximou, com a expectativa crescendo em seu peito.

O que poderia estar acontecendo?

Quem estaria lá?

Quando chegou à porta, ele parou e colocou o ouvido contra a madeira.

O som da gargalhada agora misturava-se com conversas abafadas, uma energia vibrante que contrastava com o silêncio opressivo do porão. O garoto respirou fundo e, com um impulso de coragem, empurrou a porta levemente, espiando o que estava acontecendo do outro lado.

Ele não estava preparado para o que viu.

À medida que a porta se afastava, a cena diante dele se revelava.

Uma mulher loira com lindos olhos verdes, estava sentada à mesa, com seu sorriso iluminando o ambiente — Charlotte.

Nos braços dela, uma bebezinha dormia tranquilamente, com suas pequenas mãozinhas fechadas em punhos, parecendo tão inocente e serena.

A mulher conversava com outras pessoas ao redor da mesa, sua risada suave misturando-se com as vozes animadas.

O garoto ficou paralisado por um momento, absorvendo a cena.

A alegria daquela mulher e a pureza da bebê eram como uma visão de um mundo que ele havia sonhado, mas que sempre parecia fora de alcance.

O riso da mulher era doce, e o olhar que ela lançava à bebezinha estava repleto de amor e carinho.

O garoto sentiu uma pontada em seu peito, uma mistura de desejo e nostalgia.

Ele se lembrou das histórias de amor que havia lido em seus livros, aquelas que falavam de conexões profundas e do tipo de felicidade que parecia tão distante para ele.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora