Capítulo 18 - O Frio Sempre Volta

38 5 1
                                    

Atchim!
Eu a observei ali, sentada no sofá, envolta até a cabeça em um cobertor, tremendo a cada espirro que rasgava o silêncio.

Lily parecia tão frágil, com o corpo estremecendo, como se o frio implacável estivesse sugando sua força. O resfriado a havia dominado por completo.

Seus olhos estavam semicerrados, o nariz entupido, e o som abafado de sua respiração ecoava pela sala.

A cada novo espirro, parecia que ela perdia um pouco mais da batalha contra a febre.

Os lenços amassados estavam espalhados ao redor dela como pequenos soldados derrotados.

Era óbvio que ela estava sofrendo, mas, como sempre, teimava em não pedir ajuda.

Maldita chuva... — ouvi sua voz baixa, quase um sussurro.

Ela se encolheu ainda mais debaixo do cobertor, puxando-o com força ao redor de seu corpo.

Meu coração apertou ao vê-la daquele jeito.

Parte de mim ainda se divertia com a ideia de vê-la tão vulnerável, mas outra parte, aquela que eu não gostava de reconhecer, odiava vê-la sofrer.

— Maldita chuva, hein? — comentei, com um tom sarcástico, sentando-me ao lado dela. — Quem diria que uma simples brisa fria e algumas gotas de água poderiam derrubar você assim.

Lily me lançou um olhar rápido, com seus olhos azuis agora sem o brilho usual, cansados e irritados.

Ela não respondeu, apenas se encolheu mais, deixando escapar um espirro forte que a fez gemer de dor logo em seguida.

Suspirei, sabendo que não era um bom momento para provocá-la, mas era divertido...

— Você está parecendo um passarinho molhado, sabia? — continuei, pegando o termômetro que estava na mesa e segurando seu pulso suavemente para medir sua temperatura. — Eu já vi demônios deitarem e aceitarem o fim com mais dignidade.

— ...tomanocu...

Ela resmungou algo quase inaudível, e eu senti um leve sorriso brincar em meus lábios.

Mas, quando olhei para ela, encolhida sob o cobertor, tossindo e espirrando, aquela culpa familiar voltou a me assombrar.

— Isso é por minha culpa, não é? — murmurei, mais para mim mesmo do que para ela, mas Lily sempre tinha aquela capacidade irritante de ouvir o que não deveria.

Ela me olhou, cansada, mas seus olhos ainda mantinham aquele brilho de desafio.

Você não tem o poder de controlar o clima, tem? — Sua voz estava fraca, mas carregada de ironia, mesmo quando mal conseguia respirar direito.

Sorri.

— Na verdade eu tenho...

Por isso digo que—VOCÊ O QUE?Ela bufou e depois começou a tossir, me fazendo erguer uma sobrancelha.

— De onde acha que vem tantas tempestades? — perguntei como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Espera... Você é o responsável por toda essa chuva?! — Ela ficou boquiaberta.

— Exato, onde eu estiver ela também estará. É como se fosse uma sombra minha, entende?

Lily o olhou de soslaio, ainda com o nariz entupido e aparentemente curiosa sobre o que eu havia acabado de dizer.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora