Capítulo 28 - O que deixei no Limbo

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Cheguei à cafeteria às 19:10, meia hora atrasada para o horário combinado.

Para ser honesta, eu nem ligava.

Sabia que Vincent sempre se atrasava, então não tinha pressa em encontrá-lo. Talvez estivesse até desejando que ele também estivesse atrasado dessa vez.

Mas, para minha surpresa, assim que entrei e senti o cheiro forte de café moído, meus olhos pousaram nele.

Ele estava lá, sentado no fundo da cafeteria, olhando distraidamente para a janela.

Um nó formou-se no meu estômago, algo que eu não esperava sentir.

Por algum motivo, vê-lo ali antes de mim mexeu com meus nervos.

Me aproximei da mesa com passos hesitantes, sentindo o coração acelerar um pouco mais a cada movimento.

Assim que Vincent me viu, seus olhos se iluminaram de uma forma que me deixou desconcertada. Havia um brilho ali, algo familiar, mas que eu não sabia mais como interpretar.

Ele sorriu, um daqueles sorrisos que sempre foram tão fáceis para ele, mas que agora me pareciam diferentes.

Talvez fosse só a minha percepção que tivesse mudado, ou talvez fosse a minha própria confusão interna que distorcia tudo.

— Lily — ele disse suavemente, enquanto se levantava levemente da cadeira em um gesto de gentileza. — Fico feliz que você tenha vindo.

Eu dei um leve aceno com a cabeça, sem saber ao certo o que dizer.

— Demorei muito? — perguntei, tentando soar casual, enquanto me sentava à sua frente.

Senti o olhar dele sobre mim de forma mais intensa do que o habitual.

Vincent sorriu, aquele sorriso tranquilo, mas os olhos dele me examinavam como se estivessem tentando decifrar algo.

— Não, nem tanto — ele respondeu, balançando a cabeça. — Lily... você está diferente. Talvez... mais bonita.

Eu senti um calor subir pelo meu rosto. Aquilo me pegou de surpresa. Não esperava ouvir isso, especialmente naquele momento.

Baixei os olhos por um instante, tentando evitar o olhar dele, mas o comentário ecoava na minha cabeça.

— Diferente como? — perguntei, mas sem querer que ele realmente explicasse.

Vincent me observou por um instante, como se estivesse considerando a pergunta antes de fazê-la.

— Você sempre teve olhos azuis, não é? — ele perguntou, um pouco curioso.

Eu senti um frio na barriga. A pergunta parecia simples, mas a profundidade dela me pegou de surpresa.

— Sim, sempre foram azuis — respondi, tentando manter a leveza na voz. — Mas... eles mudaram um pouco, ultimamente.

Vincent arqueou uma sobrancelha, interessado.

— Mudaram como? — ele insistiu, a expressão dele se tornando mais séria.

Um silêncio pesado pairou entre nós. Eu hesitei, lembrando da cor azul profunda que agora refletia não só a beleza, mas também um pacto sombrio.

— Apenas... mais intensos — disse, decidindo não entrar em detalhes sobre o que realmente estava acontecendo.

Era uma história que eu ainda não estava pronta para contar, e talvez jamais contaria.

Vincent olhou nos meus olhos, um misto de preocupação e curiosidade em seu olhar.

— Intensos, é? — ele murmurou. — Isso é interessante.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora