Capítulo 14 - Levada pela Névoa

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Quando voltei para casa, o crepúsculo já se instalava, mas uma névoa densa e espessa cobria quase toda a ilha.

A brisa marítima soprou levemente, e por um momento, tudo parecia estar em paz. O que era raro, considerando que sempre havia algo ou alguém para me tirar do sério.

Eu havia me afastado por algumas horas, preparando um presente para Lily.

Algo que ela não esperaria, mas que eu esperava que ela apreciasse.

Parecia ridículo para alguém como eu, o antigo dragão-serpente, gastar tanto tempo pensando no que poderia fazer para agradá-la.

Mas, de alguma forma, a aprovação dela importava. Muito mais do que eu gostaria de admitir.

Ao entrar na casa, o som das minhas botas ecoou no chão de madeira.

Tudo estava calmo, e eu me permiti relaxar por um momento, acreditando que ela ainda estaria descansando ou talvez perdida em seus pensamentos. Afinal, a noite já se aproximava, e com a névoa que frequentemente envolvia a ilha àquela hora, ela dificilmente teria saído sem me esperar.

Deixei o presente cuidadosamente sobre a mesa da cozinha, ansioso para ver a reação dela. Olhei ao redor, imaginando que logo ela apareceria.

— Lily? — chamei casualmente, com a voz ecoando pela casa.

Nenhuma resposta.

Continuei andando pela casa, sem pressa, esperando encontrá-la a qualquer momento.

Verifiquei os cômodos um por um, acreditando que ela estaria talvez no quarto ou perdida em algum livro.

Nada.

Ela devia estar em algum lugar próximo, talvez explorando os arredores. Lily sempre foi curiosa, e a ilha a fascinava.

Mas, quando voltei para a sala e senti o peso daquele silêncio, algo me incomodou.

Meu vínculo com ela... estava fraco. Algo estava errado.

Meu olhar se fixou no horizonte além da janela. A névoa, densa e misteriosa, começava a engolir a paisagem.

Franzi o cenho, e uma onda de inquietação percorreu meu corpo.

— Lily? — Chamei novamente, dessa vez com uma ponta de urgência.

No fundo, algo dentro de mim já sabia. Ela não estava ali.

E não foi por escolha própria.

Eu vasculhei cada canto da casa, chamando o nome dela repetidamente, mas apenas o silêncio me respondia.

Um tipo de silêncio que fazia o ar parecer mais pesado, mais ameaçador. A cada passo, a tensão dentro de mim aumentava. Ela tinha desaparecido sem deixar vestígios.

Estiquei minha percepção, buscando sentir a essência dela, a alma que eu deveria ser capaz de localizar facilmente.

Mas não havia nada. Era como se ela tivesse sido arrancada da realidade, sumindo completamente do meu alcance.

Meu peito se apertou, e uma sensação incômoda de vazio se instalou.

— Isso não pode estar acontecendo... — sussurrei para mim mesmo.

O medo — uma emoção que raramente experimentava — começou a tomar forma. Eu sabia que tinha inimigos por toda parte, e o que mais me aterrorizava era o pensamento de Lily caindo nas mãos de um deles.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora