Capítulo 31 - Um garoto

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A chuva caía pesada, cobrindo tudo com um manto cinzento que tornava impossível ver muito à frente.

O garoto, que já não era mais o mesmo, andava lentamente pela terra encharcada, seus passos deixando marcas profundas na lama.

O céu continuava a trovejar, como se a própria natureza estivesse ressentida pela tempestade que havia começado com sua transformação.

O ar estava denso, e o cheiro de terra molhada misturava-se com algo metálico — como se o próprio mundo estivesse sangrando.

O chão ao redor da ilha, que antes parecia firme e seguro, agora estava repleto de rachaduras profundas.

Elas se espalhavam como teias de aranha, cruzando a terra em todas as direções, algumas tão grandes que pareciam fendas prontas para engolir qualquer um que ousasse se aproximar.

A própria ilha estava partida, destruída pelo poder que havia sido liberado momentos antes.

O garoto, porém, não prestava atenção às rachaduras sob seus pés.

Ele estava perdido, não apenas no espaço, mas dentro de si mesmo.

Os ecos da batalha, da transformação, ainda reverberavam em sua mente, e agora, tudo o que restava era um vazio imenso e insuportável.

Seus dentes afiados roçavam uns nos outros enquanto ele tremia a cada passo que dava.

Mas ele não tremia por causa do frio — porque ele não sentia frio. Não mais.

Desde sua transformação, a sensação de temperatura havia se tornado irrelevante para ele.

Havia apenas uma coisa que ele conseguia sentir com clareza, e essa coisa era a dor.

Uma dor que ia além do corpo, além dos ferimentos que havia sofrido. Era uma dor que queimava nas profundezas de sua alma, um fardo insuportável que o fazia querer gritar, mas não havia ninguém para ouvir. Ninguém para ajudar.

Ele continuava a andar, os olhos azuis, ainda brilhando com um tom sinistro, agora estavam perdidos na chuva, sem foco.

Seu corpo estava tenso, com o peso da cruz de ouro que fora amarrada em suas costas ainda deixava marcas visíveis em sua pele, e ele sentia o peso de cada passo como se estivesse afundando em um abismo.

— Ajuda... — ele murmurou baixinho, sua voz perdida no vento.

Mas ele sabia que não haveria resposta. Não havia ninguém ali. Ninguém para salvá-lo de si mesmo. O mundo estava vazio ao seu redor, assim como ele se sentia por dentro.

Enquanto caminhava, a chuva martelava sobre ele, cada gota como um pequeno golpe em sua pele.

E apesar de tudo, ele não parava.

Mesmo que seus joelhos cedessem, mesmo que seus pés deslizassem na lama, ele continuava.

Porque parar significava ceder, significava se entregar ao caos que o consumia.

E ele ainda não estava pronto para isso.

Mas a cada passo que dava, a dor se tornava mais forte, mais intensa, como se seu próprio corpo estivesse se rebelando contra ele.

Ele precisava de ajuda.

Precisava de alguém. Mesmo que sua mente dissesse que não havia mais esperança, seu coração — ou o que restava dele — ansiava por algo que ele ainda não conseguia entender.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora