Capítulo 10 - Como se Humilhar Tentando Desfazer um Pacto

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Depois de um tempo, tomei coragem para me levantar do sofá.

Eu não sabia ao certo o que fazer, mas a ideia de ficar parada me deixava inquieta. Decidi arrumar os estragos que meu pai havia deixado pela casa.

As lembranças de portas quebradas e móveis revirados ainda estavam frescas na minha mente, e a bagunça deveria estar ali para me confrontar.

Mas, ao andar pelos cômodos, fui tomada por um choque inesperado.

Tudo estava... intacto.

Como se nada tivesse acontecido. As portas estavam no lugar, sem sinais de terem sido arrombadas, e os móveis perfeitamente alinhados. Nenhum vestígio de destruição, nenhuma lembrança física do caos da noite anterior.

Eu parei no meio da sala, perplexa. Como isso era possível? Poderia ser alguma façanha do demônio?

Pensei em confrontá-lo sobre isso, mas minha barriga começou a roncar, e me recordei de que minha última refeição foram os biscoitos que comi com minha tia e a faroleira.

Fui para a cozinha, e decidi cozinhar Ratatouille, um prato que minha mãe adorava, e preparar aquilo me fazia sentir mais próxima dela.

Peguei os legumes frescos que Alessia havia trazido na última visita e comecei a cortá-los cuidadosamente.

Enquanto os ingredientes cozinhavam e o aroma delicioso tomava conta da cozinha, eu me senti, por um breve momento, em paz.

Mas, como tudo na minha vida ultimamente, aquela paz não durou muito.

Isso parece... interessante — disse Levi, inclinando-se ligeiramente para sentir mais de perto o aroma. — Nunca provei algo assim.

O cheiro de azeite, manjericão e alho parecia ter invocado algo. Quando virei a cabeça, vi Levi parado ali, sorrindo com o olhar fixo na comida.

Eu dei um pulo com a sua aparição.

Ah, Jesus! — Eu dei um pulo com a sua aparição. — Você não come, não é? O que você quer com a minha comida?

Ele deu de ombros.

Quem te disse que eu não como? — O verme sorriu para mim com uma declaração claramente pervertida — É claro que eu como, e como muito bem...

— Você não vai tocar no meu ratatouille — murmurei, meio que para mim mesma, continuando a mexer o prato com cuidado.

Levi me observou com um olhar divertido, ainda mais interessado na determinação que eu tinha em proteger minha comida.

Veremos, Lily... veremos.

Suspirei profundamente, tentando me concentrar no ratatouille.

Mexia o molho com uma colher de pau, mas sentia o olhar de Levi queimando nas minhas costas.

Ele permanecia ali, imóvel, como uma sombra que não sumia.

Era impossível ignorar. Cada vez que eu tentava focar na comida, ele soltava um comentário sarcástico ou se aproximava ainda mais, fazendo o ar ao meu redor parecer mais denso.

Você faz isso parecer tão importante — ele disse, arrastando as palavras. — É só comida, Lily.

— Pra você, talvez — respondi, com irritação evidente na voz.

Levi sorriu, claramente se divertindo.

Parece que está dando muito valor para uma coisa tão... efêmera.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora