Capítulo 5 - Encontro com o Medo

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— Suas lágrimas partem o meu coração, minha Lily...

Palavras gélidas sopram no meu pescoço, e sinto o meu corpo inteiro se paralisar, de maneira que me sinto sufocar com o ar. Levanto os meus olhos para o meu reflexo no vidro da janela, e vejo uma grande sombra atrás de mim. Uma sensação de terror me envolveu, e tive a certeza inegável de que algo sinistro estava ali, me observando.

 Vire-se...

A voz era grave e pesada, parecia ser masculina. Eu rezei para que tudo aquilo não passasse de um pesadelo, mas de repente senti duas mãos grandes passarem por minhas costas, percorrendo a minha cintura e parando em minha barriga, acariciando minha pele através do fino tecido da minha camisola.

Sinto-o recostar em mim num abraço íntimo, me adornando como se eu fosse uma posse sua, e pousar o seu queixo em meu ombro, o que fez a alça de minha camisola cair um pouco.

Eu fechei os meus olhos com força, tentando bloquear a visão daquela presença amedrontadora que estava atrás de mim. Meu coração ainda batia descontroladamente, ecoando no silêncio do quarto.

 VIRE-SE...  ordenou com firmeza.  Eu quero ver o seu rosto.

Ele afrouxou o abraço, e agora além das batidas do meu coração, o meu choro inaudível a abafado também podia ser ouvido.

 O que está esperando, Lily? Não ouviu o que eu disse?

Não importava o que ele dissesse, meu corpo não se mexeria nem se eu quisesse fugir atravessando a janela de vidro do quarto, e as ordens dele só faziam o meu pânico aumentar, então eu voltei a rezar baixinho, mas era alto o suficiente para ele ouvir.

Repentinamente, ele me segurou pelos ombros, e me virou para que eu ficasse de frente para ele.

Apertei os meus olhos com mais força. Eu não queria encarar seja lá quem fosse o desgraçado que estava me acariciando da maneira mais nojenta possível no escuro.

— Abra os olhos, Lily... eu não vou te machucar...

A voz dele era assustadora, mas ao mesmo tempo era calma e segura. Por algum motivo, o meu coração se acalmou um pouco, mas eu não entendi o porquê. O invasor estava tão próximo a mim, que o menor dos movimentos nos fariam encostar um no outro.

Reunindo as poucas forças que me restaram, eu abri os olhos devagar.

Senti um calafrio percorrer a minha espinha quando vi o estranho abrir um sorriso sádico. Seus olhos azuis brilhantes pareciam se intensificar com uma luz sombria, refletindo algo além da compreensão humana. O ambiente no quarto parecia encolher ao nosso redor, e a tempestade lá fora trovejava como um eco distante da crescente tensão dentro daquele espaço confinado.

Meu coração começou a bater mais rápido, o medo que eu havia começado a controlar, retornou com força total. Recuei involuntariamente me batendo no para peito da janela, enquanto fixava os meus olhos no estranho cujo sorriso parecia mais perturbador do que antes.

— O que você quer...? — consegui articular, com uma voz trêmula e fraca.

O sorriso do estranho se alargou, uma expressão de prazer macabro que enviou arrepios por todo o meu corpo. Ele deu um passo em minha direção, e cada movimento parecia deliberado e ameaçador..

Achei que aquele era o meu fim, pois ele me tinha indefesa e vulnerável nas mãos, mas em vez de ser agressivo como eu temia, ele me segurou suavemente em seus braços.

Seu toque não era violento, mas gentil, e seus lábios encontraram os meus em um beijo que, surpreendentemente, não era áspero nem invasivo.

Era um beijo leve como uma brisa suave acariciando os lábios, deixando um rastro de ternura e calor. 

Ele acariciava a minha bochecha com suas mãos firmes e ásperas, e um ato que eu deveria repudiar, mas acalmou por inteira...

Ele se afastou do meu rosto, e ainda segurando o meu queixo disse:

 Você é mais linda do que ele havia me dito... estou sem palavras...





~





Acordei de volta à minha cama, ofegante e tremendo. Meu coração ainda batia descompassado, e a sensação do beijo do homem com olhos azuis brilhantes ainda ecoava em minha mente. Levei as mãos ao meu rosto, tentando controlar a respiração acelerada.

 Levei as mãos ao meu rosto, tentando controlar a respiração acelerada

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— Um pesadelo... — murmurei para mim mesma, enquanto olhava em volta, tentando me reconectar com a realidade. — Um maldito pesadelo...

A camisola de cetim branco estava úmida de suor, grudando-se à minha pele. Eu me levantei devagar da cama, me sentindo frágil e vulnerável, mas aliviada por saber que tudo não passara de um sonho perturbador.

A luz fraca do abajur ao lado da cama lançava sombras na parede, criando formas estranhas que pareciam se mover. Ainda tremendo, caminhei até a janela e a abri, deixando entrar um sopro suave de ar fresco da noite.

Eu permaneci ali por alguns minutos, deixando o vento noturno acalmar meus nervos. Aos poucos, o medo foi se dissipando, substituído pela consciência de que estava segura em meu próprio quarto.

Com um suspiro profundo, eu decidi que talvez fosse hora de tentar voltar a dormir. A experiência do pesadelo ainda ecoava em minha mente, mas agora eu estava determinada a não deixar que aquilo a perturbasse mais do que o necessário.

— Eu preciso voltar a dormir, amanhã será um dia cheio.

Fecho a janela, e me dirijo de volta para a minha cama, e envolta pelo aconchego dos meus lençóis quentes, fechei os meus olhos, e retornei ao meu sono reparador.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora