Eu lembro daquela noite mais escura do que o céu sem estrelas.
A chuva estava forte, batendo contra as janelas, e o vento assobiava como se estivesse com raiva.
Eu estava no meu quarto abraçada com a minha boneca, olhando a porta entreaberta.
Mamãe estava no corredor, andando rápido, pegando coisas e enfiando tudo em uma mala, como se a casa fosse desabar.
— Vai ficar tudo bem, querida — ela disse quando me viu.
Mas o rosto dela estava pálido, e a voz soava estranha, como se estivesse com medo.
De repente, eu ouvi um barulho muito forte lá de baixo.
Era o papai, gritando o nome da mamãe com raiva. Ele sempre ficava bravo, mas daquela vez parecia pior.
Mamãe parou na porta e ficou olhando para a escada, com os olhos arregalados. Ela segurou minha mão com força e começou a me puxar, rápido.
— Não solta minha mão, tá bom? — Ela falou baixinho, me puxando para as escadas.
Eu segurei firme, sem entender direito o que estava acontecendo. Só sabia que o papai não estava nada feliz.
Quando descemos as escadas, eu vi o papai no final delas, de pé na sala, com uma cara assustadora.
— Eu aceito que vá embora, Charlotte — ele disparou, com uma frieza que arrepiou a minha espinha. — Aceito que me deixe aqui, após todos os luxos e coisas boas que dei a você. Mas não vai levar minha filha...
Minhas mãos tremeram quando pensei na possibilidade de ser deixada por minha mãe.
Não que eu não amasse o meu papai, mas ele estava doente. Muito doente.
— Thomas — disse a mamãe, tremendo de medo mas com bravura em sua voz. — Você enlouqueceu se pensa que vou partir sem minha filha.
Hoje eu penso que a mamãe deveria ser muito corajosa para conseguir enfrentar o meu pai.
Na minha cabeça de cinco anos, o papai sempre foi grande.
Mas naquela noite, ele parecia ainda maior, quase como um gigante.
Ele tinha os olhos arregalados, e toda vez que ele gritava, parecia que os olhos iam pular para fora.
As bochechas dele estavam vermelhas, o rosto inteiro inchado, como se ele estivesse preso dentro da própria raiva.
O cabelo dele, normalmente bem penteado, estava todo desgrenhado, caindo sobre a testa e grudando na pele suada, e tinha algo nos olhos dele que me fazia querer olhar para qualquer lugar, menos para ele.
Quando ele olhava para mim e para mamãe, era como se ele não nos enxergasse mais, como se estivesse vendo outra coisa, uma coisa feia que ele odiava.
Papai avançou em direção à mamãe, com a mão levantada como se fosse bater.
Eu fiquei com medo de verdade, mas antes que ele pudesse atingir ela, algo estranho aconteceu.
Era como se o ar ao redor dele tivesse ficado pesado, e ele parou de repente, como se tivesse batido numa parede invisível.
— Demônio intrometido... — ele murmurou como se não quisesse que ouvíssemos.
Ele tentou andar, mas não conseguiu dar um passo à frente.
Ele estava preso ali, sem entender o que tinha acontecido.
Papai olhou ao redor, furioso, mas parecia que algo o segurava.
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O Demônio do Farol
Fanfiction★DARK ROMANCE★ +18!!! Lily sempre soube que sua vida não era fácil, mas nada a preparou para o dia em que sua tia a expulsou de casa após a trágica notícia da morte de seu pai. Em meio ao desamparo, uma revelação surpreendente chega através de um ad...