Capítulo 6 - Manto Vermelho

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Pela manhã, acordei exausta, com a sensação de que a noite não havia sido nada mais que uma continuação de meus pesadelos. O cansaço me pesava, e eu me levantei com dificuldade.

As horas de sono interrompido e os sonhos perturbadores deixaram marcas visíveis em meu rosto e mente.

Assim que abri a janela do quarto, a vista não ofereceu o alívio que eu esperava. Ao longe, na praia, um caranguejo gigante se movia lentamente, com suas garras enormes destacando-se contra a areia.

Era uma visão desconcertante e surreal que parecia saída diretamente de um pesadelo. A criatura, apesar de estar a uma distância considerável, dominava a paisagem com seu tamanho descomunal.

Fechei a janela rapidamente, tentando afastar a imagem perturbadora da minha mente.

Eu precisava estar apresentável e concentrada para lidar com as responsabilidades que viriam,  hoje era meu primeiro dia como administradora do farol.

Desci as escadas com passos um tanto pesados, mas ao abrir a janela da cozinha, a brisa do mar entrou, fresca e revigorante.

O aroma salgado e o som das ondas quebrando na costa eram uma lembrança reconfortante das manhãs que eu costumava ter perto da praia em Lattes.

A sensação do ar fresco no meu rosto trouxe um breve alívio, afastando um pouco a sensação de fadiga e os pesadelos da noite.

Era incrível como, apesar de toda a estranheza e das dificuldades que eu estava enfrentando, a familiaridade da brisa marítima ainda tinha o poder de acalmar meus nervos e me fazer sentir um pouco mais em casa.

Tomei um momento para apreciar a vista, observando as ondas e o céu que começava a clarear, antes de me voltar para preparar o que precisava para o dia.

Fechei a janela, deixando o som do mar como uma trilha sonora suave enquanto me preparava para enfrentar meu primeiro dia como administradora do farol.

A beleza da manhã e a lembrança dos dias passados junto à praia me deram uma pequena dose de ânimo, e eu senti que estava, de alguma forma, um pouco mais pronta para encarar o que o dia reservava.

Saí de casa dirigindo-me ao farol que, de algum modo, parecia imponente e convidativo ao mesmo tempo.

A subida pelas escadas do farol parecia interminável, mas finalmente cheguei ao topo, onde encontrei a faroleira, que estava em completo alerta.

Ela estava se movendo nervosamente de um lado para o outro, com os olhos fixos em algum ponto distante.

Acidentalmente eu acabei a assustando quando entrei, provocando uma reação brusca da faroleira.

Ela me lançou um olhar de surpresa e alívio ao me ver, mas logo seu semblante se fechou novamente, e o medo parecia dominar suas feições.

— O que está acontecendo? — perguntei, tentando acalmar a situação.

A faroleira respirou fundo, como se lutasse para se manter calma, e finalmente desabafou:

— Esses monstros... Eles estão enlouquecendo minha mente. Eu não posso mais suportar. Eu preciso me demitir, quero sair daqui.

Ela parecia estar em um estado de completa exaustão e desesperança, e eu pude ver que a situação estava mais além do que uma simples mudança de turno poderia resolver.

— Monstros? - repeti, tentando entender melhor o que ela estava dizendo.

Ela me olhou com uma mistura de desespero e frustração, como se as palavras fossem difíceis de formar.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora