Anne Green
A cozinha era rústica, com uma iluminação amarela e aconchegante. Combinava perfeitamente com a chuva que caía lá fora, trazendo um toque de ambiente romântico, até que eu poderia dizer que era o cenário perfeito para um casal apaixonado cozinhar um jantar romântico em uma noite de inverno.
Mas esse não era o nosso caso.
Estávamos apenas com fome, procurando algo fácil e saboroso para preparar, aproveitando que, antes de Sara e Marcos virem para cá mais cedo, eles foram ao mercado e compraram algumas coisas. E eu pude comprovar que a minha intuição estava certa: Marcos e Sara combinaram uma maneira de eu e Isaque ficarmos a sós na casa de campo. E eu não duvido que eles olharam a previsão do tempo, deduzindo que seria uma noite de chuva.
Isaque estava escorrendo o macarrão em cima da pia, enquanto eu estava concentrada na panela no fogão. Dourei a cebola e o alho e depois coloquei os camarões na panela. Esperei dourá-los para depois pôr o extrato de tomate caseiro que Isaque havia preparado há alguns minutos.
Enquanto esperava os camarões ficarem prontos, observava Isaque cozinhar e o quanto ele ficava tão atraente cozinhando. Eu não sabia que ele gostava de cozinhar até vê-lo tão empenhado na cozinha.
— Vou adicionar o requeijão e o creme de leite — disse, indo até à geladeira, concentrado. — Aprenda com o chefe — lançou-me uma piscadela, ao mesmo instante que sua boca elevou-se em um sorriso travesso, voltando para o fogão.
Meneei a cabeça soltando um riso abafado, achando graça do seu comentário pretensioso.
— Deixa que eu coloco o queijo — peguei o queijo muçarela em cima do balcão e adicionei ao camarão. — Agora só esperar derreter — proferi, mexendo a panela.
Senti as borboletas festejarem em meu estômago quando Isaque se aproximou por trás de mim, e senti sua mão quente e macia segurando minha mão enquanto mexia os camarões com uma espátula. Ele começou a mexer delicadamente comigo, enquanto meu coração galopava em meu peito, ao mesmo tempo em que eu sentia seu cheiro muito próximo, e seu nariz se aproximando do meu pescoço. Sua outra mão livre acariciou suavemente minha cintura, e neste momento eu já estava abstraída e precisei me afastar depressa, antes que minha carne cedesse ao desejo de beijá-lo.
— O queijo está derretido — articulei desligando o fogo e me afastando rapidamente.
Ele colocou suas mãos nos bolsos da calça e suspirou, vindo até mim.
Encostei na ilha de cozinha e fiquei parada, fitando seus olhos hipnotizadores se aproximarem, enquanto eu orava em meu coração:
"E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos de todo mal. Amém"
Isaque não é um mal, mas é uma tentação que preciso ficar longe fisicamente.
— Anne, por que toda vez que me aproximo você se afasta? — indagou.
Cruzei os braços e o fitei, na tentativa fracassada de ter palavras o suficiente para argumentar com ele.
— Você mesmo disse que deveríamos nos afastar, e ainda disse que não iria me pôr em um jugo desigual. Como quer que eu me aproxime? — inquiri, ainda lhe olhando nos olhos.
Suas mandíbulas contraíram-se e seu olhar tornou-se profundo. Ele pôs as suas mãos em cima da ilha, cercando-me com os braços, e ficou à minha frente, encarando-me, minimizando novamente o espaço que havia entre nós. Quando pisquei para tentar dizer algo, ele emitiu, com sua voz grave e rouca, quase que em um sussurro:
— Diz que não sente nada por mim — as palavras soaram em sua voz aveludada como uma flechada certeira em meu coração, fazendo-me engolir em seco ao perceber que estava sem saída.
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Entre a Fé e o Amor
RomanceUm homem cristão, filho de pastores e herdeiro de uma grande empresa renomada, renunciou a sua fé quando passou por duas grandes perdas. Embora seu coração estivesse endurecido, uma jovem mulher veio para trazer luz à sua vida e ajudar-lhe a restaur...