Capítulo 28 | Quase Beijo

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Anne Green

O filme acabara de começar e eu comecei a atacar os chocolates. Isaque, ao mesmo tempo que prestava atenção no filme, ficava rindo ao me ver devorando os chocolates.

— Está gostando do filme? — perguntou próximo ao meu ouvido, inclinando-se para perto, com sua voz grave que poderia deixar qualquer uma arrepiada.

— Não gostei da parte que o policial atirou na família inocente — comentei olhando para a grande tela, numa tentativa frustrada de ignorar sua habilidade de fascínio.

— Infelizmente acontece até na realidade — ele disse voltando a focar no filme.

A sala do cinema estava com uma boa quantidade de pessoas, até porque fomos no segundo dia do lançamento do filme. Por isso, ficou um pouco difícil de encontrar nossos colegas.

Eu e Isaque demos a sorte de sentar na última fileira que não tinha muitas pessoas, porém eu estava começando a ficar nervosa, porque estávamos só nós dois, um ao lado do outro, em um escuro romântico e intrigante. Cada vez mais ele se aproximava para perto, disfarçadamente. Ele comentava sobre o filme na intenção de se aproximar, e isso estava fazendo eu sentir borboletas no estômago.

— Você não vai comer chocolate? — perguntei oferecendo uma barra de chocolate para ele, na intenção de disfarçar o clima que estava havendo entre nós.

Eu devia me controlar. Eu sou cristã e não posso cair na lábia de Isaque. Eu preciso lembrar-me que não serei apenas uma diversão para ele.

— Cadê o de amendoim? — indagou, e eu prontamente peguei o chocolate com pedaços de amendoim na sacola e entreguei a ele, despertando-me dos meus pensamentos viajantes.

Eu estava devorando tanto os chocolates que passou a vontade de comer os salgadinhos.

Passando-se alguns minutos do filme, eu não segurei o sorriso em uma cena engraçada em que o cachorro impediu que o policial atirasse em um açougueiro só porque ele vendia carne, e percebi Isaque me estudando com os olhos, fazendo-me recuar o sorriso de imediato.

Meu coração quase saltou pela boca quando ele se aproximou bem mais para perto de mim, fazendo-me suspirar em seu perfume amadeirado. Isaque colocou seu forte braço por trás de mim, no banco do cinema, e inclinou-se bem perto do meu ouvido. Nesse instante eu já estava hipnotizada em seu cheiro e no calor da sua proximidade, sentindo calafrios incontáveis e o coração batendo cada vez mais forte.

Quando eu estava me acostumando com a sua proximidade e seu cheiro extremamente confortante, voltei a sentir grande agitação dentro de mim quando ele virou o seu rosto para mim, bem perto, e ficou me olhando por alguns segundos.

Finalmente tive a coragem de virar em sua direção para olhar em seus olhos claros como mel, percebendo então que nossas bocas estavam bem próximas e, em rápidos instantes, meus olhos desceram para contemplar o quão perfeito é o desenho de seus lábios. Subi novamente os meus olhos para os seus e ele não parava de me encarar, profundamente, a ponto de me deixar excessivamente corada. Deixei de prestar atenção em tudo ao meu redor, focando apenas na existência de Isaque ao meu lado, quando, com uma voz grave e aveludada, disse baixinho:

— Posso te dizer uma coisa? — perguntou, com um sorriso galante. Eu assenti com a cabeça, hipnotizada. Ele, delicadamente, veio em direção ao meu ouvido e disse, ainda baixinho, arrepiando-me os cabelos: — Toda vez que você sorri, eu sinto uma vontade incontrolável de te beijar — e voltou seus olhos aos meus, dessa vez um olhar diferente e decidido, descendo para os meus lábios, como se a qualquer instante eu fosse descobrir como é o beijo de Isaque Campbell.

Meu estômago entrou em festas e o meu coração foi a mil quilômetros por hora. Minha respiração tornou-se descontrolada e senti minhas bochechas queimarem. Seu comentário foi suficiente para me fazer perder os sentidos de tudo ao meu redor. Ao passo que ele se aproximava mais do meu rosto, senti sua mão atrás de mim descer ao meu ombro, acariciando-o com seus dedos, era uma boa sensação.

Pude sentir sua respiração bem perto e os seus olhos cor de âmbar encarando os meus azuis brilhantes. Eu precisava, em rápidos instantes, lutar de uma forma bruta contra os meus desejos carnais que estavam quase vencendo. Eu queria ceder, eu queria sentir o toque de seus lábios nos meus, mas precisava lembrá-lo que não sou uma das que ele se envolve apenas para se divertir.

Em poucos dias que nos conhecemos, não deu tempo para Isaque sentir algo por mim, e uma noite no cinema me beijando seria uma diversão calorosa para ele. Eu preciso me afastar, mesmo tão fraca a ponto de querer ficar. É nessa hora que preciso mortificar a minha carne.

Enquanto guerreava contra a tentação de ceder ao beijo, senti seus lábios quentes tocarem levemente os meus. Eram macios, agradáveis de sentir, mas não passou de um leve toque, mesmo com sede de ir adiante. Nesse mesmo instante, um estrondo assustou todos que estavam na sala, interrompendo um quase beijo. Era um bombardeio no filme, para a minha sorte.

Me afastei abruptamente e recuperei meus sentidos, atordoada.

— E-eu p-preciso ir ao banheiro — falei me levantando, como uma desculpa para sair de perto dele naquele momento, porque eu não sabia como reagir, nem o que falar, nem mesmo o que estava sentindo.

Saí da sala do cinema e fui até o banheiro, sem olhar para trás. Percebi que Layla e Sara vieram atrás de mim.

— Anne! — Layla exclamou, me fazendo parar no corredor que vai para o banheiro próximo ao cinema.

— Você saiu disparada — disse Sara me dando um abraço.

— Só vou ao banheiro — respondi objetivamente, ainda me recuperando da cena que me deixou hipnotizada e completamente desconcertada.

Meu pensamento estava apenas nele. Seu cheiro estava impregnado em meu nariz, me fazendo suspirar cada vez que eu sentia.

Entramos no banheiro feminino e eu ajeitei meu cabelo em frente ao espelho, captada pela minha própria mente. Eu estava tentando fazer com que aquela sensação calorosa passasse, mas eu estava tão nervosa e ansiosa que não consegui. Eu só conseguia lembrar dos seus lábios tocando os meus e o que seria um quase beijo, e em como deve ser bom beijá-lo.

Layla tentou me fazer perguntas, preocupada, mas eu prometi que lhe contaria em outra hora, porque não conseguia pensar em mais nada, nem mesmo explicar-lhe a situação, visto que nem eu estava conseguindo decifrar-me. Naquele instante, no banheiro, em que olhei em meus próprios olhos, desvendei algo que temi que se tornasse realidade. Levei a mão à boca quando percebi o que estava acontecendo. Arregalei os olhos quando lembrei-me da frase que um dia escutei na multimídia do meu carro:

"Primeiro Deus vai sacudir, para depois pôr em ordem".

Pai, Isaque faz parte dos Teus planos para mim? Quando orei por Daniel, na verdade, era para ter orado por Isaque? Será que, através de mim, Isaque irá voltar para Ti? Será que Layla estava certa quando disse que eu posso ser um instrumento para fazê-lo voltar? Será que um dia ele será meu? Será que devo recuar ou prosseguir? Ele não é cristão, mas já foi um dia, e possa ser que ele volte. O que eu faço? Se eu continuar com isso, será jugo desigual e pecarei contra Ti. Enquanto não respondes, Pai, irei me afastar dele para que eu não me apegue a ele. Contudo, que seja feita em mim a Tua vontade — conversei com Deus em pensamento ainda em frente ao espelho, enquanto as meninas conversavam sobre alguma outra coisa.

Eu estava perdida, completamente atraída por Isaque, e me senti vencida quando percebi que, realmente, eu estava sentindo algo por Isaque Campbell.

Aconteceu o que eu mais temia: me apaixonei.

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