Capítulo 03 | Boa Sorte

198 21 22
                                    

Anne Green

— Com licença, desculpe interromper. — A voz masculina preencheu a sala de forma tranquila, mas firme.

— À vontade. — Isaque respondeu sem hesitar, enquanto ajustava os papéis sobre a mesa.

— Opa! — O homem me cumprimentou com um meio sorriso, levantando a sobrancelha como se já soubesse de algo que eu não.

Retribuí com um aceno de cabeça e um sorriso discreto, ainda tentando entender a dinâmica.

Ele era carismático, com a barba impecavelmente alinhada e cabelos castanho-escuros levemente bagunçados, mas no ponto certo.

— Não vai me apresentar sua assistente, Sr. Campbell? — brincou, o tom provocativo não disfarçava a cumplicidade entre os dois.

Apesar do tom formal, era evidente que eles eram mais que colegas de trabalho. Havia uma amizade ali, dessas que se permite uma certa zombaria.

— Anne Green. — Isaque respondeu com uma seriedade que destoava do clima, me deixando no papel de observadora silenciosa.

— Prazer, Marcos. — Ele se virou para mim, estendendo a mão com um sorriso divertido. — Boa sorte trabalhando com o Sr. Campbell. Vai precisar. — Ele lançou um olhar cúmplice para Isaque, mal disfarçando o tom de gozação.

Isaque balançou a cabeça, sorrindo com resignação. Não resisti e soltei uma risada leve, mas continuei no meu silêncio estratégico.

— E aí, o que você quer, Mark? — Isaque foi direto ao ponto, mudando o foco.

— O relatório, esqueceu? Te mandei mensagem ontem no WhatsApp. — Marcos respondeu, como se aquilo fosse óbvio.

— Ah, já deixei com a Gabi. Você mandou a mensagem ontem à noite, então passei pra ela logo que cheguei. — Isaque explicou.

— Me atrasei hoje, tive que passar na casa da Melissa pra levar os remédios dela. — Marcos completou com um suspiro, enquanto se sentava numa das cadeiras ao lado.

Eu fingia que estava concentrada nos papéis à minha frente, mas na verdade, estava mais interessada na conversa deles. Aquela sensação de eu já tinha visto Marcos em algum lugar.

— A Mel tá melhor? — Isaque perguntou com um toque de preocupação na voz. — Mandei mensagem pra ela ontem e ela disse que estava com febre.

— Melhorou um pouco. A febre passou, mas ainda está com enjoo e mal-estar. — Marcos fez uma careta, visivelmente preocupado.

— Já pensou na possibilidade dela estar grávida? — Isaque levantou a questão com naturalidade, fazendo Marcos rir.

— Cara, não tem chance. E o engraçado é que até algumas pessoas da igreja já perguntaram isso. Eu falei: "Gente, a gente nem casou ainda!" — Soltou uma gargalhada, mas havia algo de pensativo no tom.

Isaque riu junto, e foi aí que me lembrei. Igreja. Era isso. Já tinha visto Marcos na igreja. Eu queria perguntar, mas deixaria isso pra uma hora mais oportuna.

— Seria divertido eu virar tio logo. — Isaque comentou, inclinando-se sobre a mesa e me lançando um olhar de soslaio, que retribuí de forma rápida antes de voltar a fingir que estava concentrada nos papéis.

— Vai com calma, Isaque. Primeiro o casamento, depois os filhos. — Marcos retrucou, levantando-se com um sorriso.

— Filhos são uma bênção. Já o casamento... — Isaque fez uma pausa dramática, o suficiente para deixar o ar de provocação no ar. — Nem tanto.

— Que pessimismo, cara! — Marcos riu, mas Isaque apenas lançou um sorriso irônico, deixando o comentário no ar.

— A Gabi reservou o almoço no restaurante de sempre. Vai? — Isaque perguntou, mudando de assunto.

— Vou sim, mas vou almoçar rápido. Depois vou ver a Melissa. — Marcos respondeu já se dirigindo à porta. — Você vai?

— Vamos. — Isaque respondeu, olhando diretamente para mim. A sugestão era clara. Ele estava contando comigo.

— Vamos? — questionei, franzindo a testa de leve.

Ele se levantou, apoiando-se na mesa e colocando as mãos nos bolsos da calça, o que o deixou ainda mais charmoso, sem fazer esforço.

— Sim, — ele disse com um tom audacioso. — Quero que você conheça melhor a equipe.

— Quando eu desejei boa sorte, não era brincadeira. — Marcos olhou para mim com um sorriso travesso, como quem sabe de algo que eu ainda não sei.

— Tudo bem. — Respondi, um pouco surpresa, mas tentando manter a compostura.

— Se estivesse no escritório da Sara ou do Daniel, talvez tivesse mais sorte. Mas assistente do Isaque? Você vai precisar de paciência. — Marcos brincou, rindo.

— Não se preocupe. Vou fazer de você a funcionária mais feliz do mundo. — Isaque me lançou um sorriso confiante e uma piscadela rápida.

Senti as borboletas que estavam adormecidas no estômago começarem a despertar novamente. Disfarcei com um sorriso sem graça, ainda não à vontade o suficiente para entrar na brincadeira.

— Tenho uma reunião agora, mas volto cinco minutos antes do almoço. — Ele pegou o celular na mesa. — Como é seu primeiro dia, relaxa. Foca no que te pedi, e depois a gente vai almoçar.

— Certo. — Respondi, objetiva.

Assim que eles saíram, soltei um suspiro profundo, inclinando a cabeça para trás, tentando aliviar a tensão. O perfume dele ainda pairava no ar, e eu tentava me concentrar no trabalho, embora estivesse difícil não pensar na dinâmica que começava a se formar entre nós.

Enquanto Isaque estava fora, mergulhei no contrato, revisando cada detalhe para garantir que tudo estava de acordo com as normas. Abri várias pastas no notebook até encontrar um arquivo chamado "Normas do Contrato", o que simplificou bastante o processo e aliviou minha ansiedade. A sensação de progresso era satisfatória.

Algumas horas depois, ainda pela manhã, resolvi levantar para pegar um café. Aproveitei o fato de estar sozinha na sala para relaxar um pouco, longe da presença constante de Isaque, o que me deu uma pequena dose de liberdade e confiança.

Mas esse breve momento de tranquilidade foi interrompido pelo som da porta se abrindo. Uma mulher de cabelos ruivos entrou, seus olhos imediatamente fixos em mim, como se já soubesse quem eu era.

Entre a Fé e o Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora