Capítulo 12 | Cartão de Visita

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Anne Green

Entramos na sala de reunião em silêncio, ainda envolvidos por aquela tensão não verbalizada. O ambiente já estava movimentado, com algumas pessoas sentadas e outras de pé, em conversas amenas enquanto aguardavam o início. Isaque, sem perder sua postura de liderança, dirigiu-se diretamente à cadeira do Presidente, reservada para quem lidera as reuniões mais importantes da empresa.

Com naturalidade, ele puxou a cadeira logo à direita da sua para mim, indicando com um gesto sutil que me sentasse ali, ao seu lado, deixando claro que, mesmo como uma recém-chegada, ele me colocava em uma posição de destaque.

Assenti e me acomodei, mas não pude evitar notar que algumas pessoas perceberam o gesto. Comentários discretos começaram a circular pela sala, sussurros que me deixaram um pouco desconfortável. Não queria que surgissem especulações, mas era impossível controlar as impressões que esse simples ato poderia causar.

Isaque, no entanto, parecia imune a isso. Sentou-se, abriu seu MacBook e começou a revisar os pontos do roteiro da reunião. Sua postura era impecável, autoritária, e o respeito que as pessoas ali tinham por ele era evidente. Cada movimento era preciso, cada gesto, calculado.

— Está à vontade? — ele perguntou, a preocupação em sua voz contrastando com a firmeza de sua expressão.

— Sim — respondi, com um sorriso discreto, organizando os papéis que ele havia me dado anteriormente. Estava revisando os gráficos e tópicos que seriam discutidos.

De repente, uma mulher asiática, com os cabelos na altura dos ombros, se aproximou de Isaque, entregando-lhe alguns documentos.

— Sr. Campbell, como o senhor pediu — disse ela com profissionalismo. Isaque agradeceu e a mulher se retirou sem fazer alarde.

Enquanto ele revisava os papéis, a presença de Gabi se anunciou com sua voz fina e insinuante.

— Isaque, você sabe quem está na recepção querendo te ver? — A frase, carregada de uma familiaridade desconfortável, fez com que Isaque desviasse a atenção para ela.

— Quem? — ele perguntou, sem demonstrar muito interesse.

— Julia Henning — ela disse, erguendo as sobrancelhas, como se esperasse uma reação maior da parte dele. Por um momento, Isaque ficou em silêncio, seu maxilar travado, claramente incomodado com a menção.

Ele respirou fundo, e a irritação começou a transparecer em seus olhos.

— Marcos! — sua voz, forte e determinada, chamou a atenção de todos na sala, interrompendo as conversas paralelas. Marcos, que estava por perto, prontamente se aproximou.

— Gabi tem que abrir a boca, né? — Marcos disse, lançando um olhar repreensivo para a ruiva.

— Eu não quero ela na minha sala. Impeça isso de todas as formas! — Isaque ordenou, sua voz carregada de fúria. Era evidente que a simples menção de Julia trazia memórias que ele preferia evitar.

— Vou avisar na recepção — Marcos respondeu rapidamente, se retirando com passos apressados.

Nesse momento, Gabi se inclinou para sussurrar algo ao ouvido de Isaque. Não consegui ouvir o que ela dizia, mas sua mão deslizou pelos ombros dele de forma familiar, enquanto seus cabelos ruivos e enrolados bloqueavam minha visão. Isaque, no entanto, não parecia receptivo. Seus olhos estavam distantes, ignorando completamente os gestos dela. Ele estava claramente em outra sintonia, perdido em seus próprios pensamentos, e o toque de Gabi não parecia ter efeito.

Logo, a reunião começou. Isaque, demonstrando um autocontrole notável, retomou o foco e conduziu os tópicos com maestria. Seu tom firme, mas educado, guiava a discussão, e as pessoas ao redor ouviam atentamente. Senti um misto de alívio e admiração ao vê-lo controlar a situação, deixando para trás qualquer vestígio de irritação.

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