Capítulo 60 | À Beira do Colapso

113 9 21
                                    

Isaque Campbell

Por mim, eu jamais teria colocado aquele terno sufocante, nunca teria passado perfume nem pisado neste restaurante. Mas lá estava eu, seguindo ordens. Precisava de respostas, e sabia que elas estavam no Ravello. A Maserati reluzente já estava estacionada na entrada, e eu fixo no volante, com a mente em um turbilhão. Será que teria coragem de cruzar aquela porta ou simplesmente fugir? A vontade de apertar o start stop e sumir era esmagadora, mas desobedecer... Ah, isso não era uma opção.

Fechei os olhos, o peso da obrigação me esmagava, e em meio àquele caos interior, murmurei:

“Senhor, Tu sabes que eu não queria estar aqui. Mas o Senhor mandou, então obedeci. Peço que me dê essa resposta logo, porque minha paciência com Gabriela se esgota a cada segundo. Mas que seja no Teu tempo, não no meu. Dá-me sabedoria, Senhor, para lidar com ela. Que Tua paz vá à minha frente, para que não aconteça como da última vez. Amém.”

Suspirei, buscando um resquício de paz que não parecia querer me encontrar. Ajeitei a lapela do terno, guardei o celular no bolso e saí do carro. Entreguei a chave ao manobrista e comecei a caminhar. Cada passo me lembrava que eu estava indo na direção que menos queria.

O peso no meu peito só aumentava à medida que eu entrava naquele restaurante italiano. O aroma de manjericão e molho de tomate deveria despertar meu apetite, mas o gosto amargo da situação deixava tudo sem sabor. Eu não queria estar ali. Não queria ver Gabriela, e muito menos sentar à mesa com ela. Mas havia algo maior que me impelia a seguir adiante.

O restaurante era de uma elegância sufocante. A música suave no fundo só aumentava a sensação de estar preso. O host, com seu sorriso mecânico, me olhou com uma formalidade que apenas pesava mais sobre meus ombros. Falei meu nome, e em segundos, ele confirmou a reserva.

— Por aqui, senhor — disse ele, com uma educação que parecia zombar da minha agonia.

Cada passo rumo à mesa era como uma âncora me arrastando para o fundo. Eu via o salão repleto de pessoas alegres, casais felizes, grupos rindo despreocupadamente. Nada daquilo fazia sentido para mim. E então, a vi. Gabriela, com aquele sorriso que me fez gelar. Um sorriso que me lembrava tudo que eu tentava desesperadamente esquecer.

Mas ali estava eu. Obedecendo.

Sentei-me sem uma palavra sequer, com o peito apertado, quase sem conseguir respirar, e pedi apenas uma água.

— Você me convida para jantar e só vai pedir água? — ela perguntou com aquele sorriso falso, enquanto o garçom esperava, impassível.

Eu tentava não olhar para ela, focando no cardápio como se ali estivesse a solução para todos os problemas. Mas nada me atraía, a comida era o menor dos meus problemas. Escolhi qualquer coisa, algo simples, só para passar a noite.

Gnocchi ao sugo. Simples e direto. Do jeito que eu gostaria que essa conversa fosse.

— Eu vou querer uma lasanha à bolonhesa com muuuito queijo — ela disse ao garçom, ainda sorrindo falsamente. — E um suco de laranja.

O silêncio entre nós era sufocante. Eu sabia que precisava falar, mas como? O que dizer quando não se quer estar ali? E então, ela quebrou o silêncio de forma abrupta.

— Por que me convidou, Isaque? Está arrependido?

Aquela pergunta fez o arrependimento se instalar de vez no meu peito. Arrependido? Eu estava arrependido desde o momento em que tudo começou.

— É... — tropecei nas palavras. — Já que sou o pai do bebê que você espera, precisamos conversar sobre isso.

A frase saiu fria e dura, muito mais do que eu pretendia. Gabriela me olhou, seus olhos buscando algum sinal de suavidade em mim que não existia.

Entre a Fé e o Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora