Capítulo 22 | Tumulto

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Isaque Campbell

— Isaque, o que aconteceu ontem à noite? Eu e você… — Gabriela franziu o cenho, o olhar confuso enquanto percebia que estava deitada na minha cama.

Eu, em silêncio, terminei de passar perfume, ajustando o relógio no pulso e me preparando para sair.

— Lógico que não. Você estava bêbada. — Respondi de forma direta, tentando não alimentar qualquer expectativa.

Ela ergueu a cabeça do travesseiro, apertando os olhos como se tentasse organizar as memórias desconexas.

— Sério? Bebi tanto assim?

— Sim. Tentei te impedir, mas você não quis. — Suspirei, lembrando da noite complicada. — Tive que te trazer para cá, antes que seus pais te vissem daquele jeito. Te coloquei na cama e dormi no sofá.

A lembrança da noite anterior ainda estava fresca. Ela tinha insistido para irmos ao bar mexicano, quase implorando. Relutante, acabei cedendo. Lá, Gabriela exagerou nas margaritas, enquanto eu mal consegui tomar um gole. Por mais que tentasse me distrair, a bebida não descia, e o ambiente começou a me dar nos nervos. Só queria ir embora, mas não podia deixar Gabriela à mercê de qualquer bêbado com más intenções.

Ela sempre fazia isso: quando bebia além da conta, fugia para o meu apartamento para evitar o confronto com os pais, que odiavam esse comportamento. Cristãos rígidos, eles nunca aceitaram o estilo de vida desregrado da filha mais velha.

Gabriela afundou o rosto no travesseiro, como se tentasse se esconder da ressaca e da vergonha.

— E por que você não bebeu?

Calcei os tênis, sentado na ponta da cama.

— Você sabe que não gosto de álcool.

Em silêncio, ela se aproximou por trás de mim, ajoelhando-se na cama. Suas mãos deslizaram pelos meus ombros, e senti seus lábios tocarem meu pescoço.

— E por que não dormiu na cama comigo? — sussurrou, enquanto seus dedos bagunçavam meu cabelo e seus beijos deslizavam pela minha pele.

Fechei os olhos por um instante, tentando manter o controle.

— Porque eu não ia me aproveitar de você bêbada.

— Isaque… — A voz dela soou como uma promessa. — Você sabe que pode ter o que quiser comigo, a qualquer hora.

Levantei-me de repente, afastando-me dela. Gabriela me lançou um olhar ferido, como se não entendesse a rejeição.

— Gabi, precisamos conversar. — Eu já adiava essa conversa há tempo demais.

— Fala, meu bem… — Ela sorriu, despreocupada, como se ainda não tivesse percebido o que estava por vir.

Suspirei fundo.

— Acho melhor a gente se afastar.

O sorriso dela vacilou.

— Como assim, se afastar? Do nada? Somos amigos há anos e...

— Não estou falando da nossa amizade, Gabi. Estou falando do que temos além disso.

O rosto dela se transformou, o choque e a raiva misturados em seus olhos.

— Você não quer mais ficar comigo? É isso? Simples assim?

Eu mantive a calma, mesmo vendo o desespero surgir nela.

— Não quero te iludir. Não seria justo.

Ela riu, um som amargo.

— Isso foi de uma hora pra outra? Ou você se apaixonou por alguém? Não me diga que é a tal da Anne Green!

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