Capítulo 8: A Jornada de Estefani

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O vento cortante soprava com força, como se tentasse empurrar Estefani de volta, desafiando cada passo que ela dava na neve. Seus olhos ardiam, e o frio penetrava em suas roupas, atingindo seus ossos. Fazia dias que ela não encontrava abrigo adequado, e a cada noite a escuridão parecia engolir sua esperança. No entanto, ela continuava avançando, guiada pela determinação de reencontrar Paulo.

O caminho era traiçoeiro. A neve cobria os buracos e pedras, escondendo armadilhas invisíveis que faziam Estefani tropeçar e cair várias vezes. Ela se levantava, limpava o gelo de suas roupas e seguia em frente, cada passo uma vitória contra o desespero que ameaçava dominá-la. Às vezes, as lágrimas congelavam em seu rosto antes de tocarem o chão, mas ela as enxugava rapidamente, não por vergonha, mas para conservar cada gota de calor que ainda restava em seu corpo.

À medida que avançava, a paisagem ao redor mudava de nevascas incessantes para uma calmaria gelada. Estefani sabia que isso significava que ela estava entrando em uma área de clima mais severo. Os mantimentos que carregava estavam diminuindo rapidamente. Suas mãos, embora enluvadas, estavam vermelhas e doloridas. Ela precisava de abrigo e calor, mas tudo o que via ao seu redor era um vasto deserto branco.

Enquanto caminhava, ela pensava em Paulo. Sentia falta de seu toque, de seu sorriso, da maneira como ele a olhava, como se ela fosse a única pessoa no mundo. As lembranças lhe traziam conforto, mas também aumentavam a angústia de não saber se ele estava bem, se ainda estava tentando alcançar o Polo Sul, ou se o destino havia sido cruel com ele. A incerteza era uma tortura silenciosa.

Em um momento de fraqueza, Estefani caiu de joelhos, o peso do mundo esmagando seus ombros. Fechou os olhos e respirou fundo, tentando acalmar seu coração acelerado. Ela se lembrou de uma noite estrelada em que, deitados lado a lado, Paulo lhe disse: "Enquanto a lua no céu brilhar, eu sempre vou te amar." As palavras de Paulo ecoaram em sua mente, aquecendo seu coração e trazendo uma faísca de esperança. Com um esforço tremendo, ela se levantou, inspirando profundamente o ar gelado, que queimou em seus pulmões. Ela não podia desistir agora; não depois de tudo que havia passado.

Quando o dia finalmente começou a ceder para a noite, Estefani avistou uma pequena cabana abandonada no horizonte. Seu coração disparou com a visão do abrigo. Com passos mais rápidos, ela se aproximou da construção, que parecia ter sido deixada às pressas, talvez por alguém que também fugia da catástrofe. A cabana oferecia pouca proteção, mas para Estefani, era como um oásis no deserto gelado. Ela entrou rapidamente, fechando a porta atrás de si para bloquear o vento.

Dentro da cabana, ela encontrou alguns pedaços de madeira e, com esforço, conseguiu acender uma fogueira. O calor do fogo foi um alívio indescritível para seus membros congelados. Estefani se aninhou perto das chamas, segurando as mãos estendidas para aquecer. Enquanto o fogo crepitava suavemente, ela se permitiu fechar os olhos por um momento, sentindo a exaustão pesar em seu corpo.

Algum tempo depois, o som de passos na neve do lado de fora a acordou de um leve cochilo. Seu coração pulou no peito, e ela se levantou rapidamente, olhando pela pequena janela. Uma figura solitária se aproximava. Estefani pegou uma faca pequena que encontrara na cabana e ficou na defensiva. Quando a porta se abriu, um homem entrou, tremendo de frio. Ele parecia tão assustado quanto ela.

"Por favor, eu não quero problemas. Só preciso de um pouco de calor," disse ele, a voz fraca e trêmula.

Estefani o observou por um momento, antes de baixar a faca. "Entre. Compartilhe o fogo comigo, mas mantenha distância," ela respondeu, com firmeza. O homem agradeceu, aproximando-se do fogo e estendendo as mãos para aquecer.

Nos dias seguintes, eles viajaram juntos, compartilhando histórias e esperanças. O homem, cujo nome era Miguel, estava a caminho do sul, buscando um refúgio seguro. A companhia dele trouxe algum alívio para Estefani, que começava a se sentir menos sozinha. No entanto, quando chegaram a uma bifurcação, Miguel decidiu seguir uma rota diferente, acreditando que seria mais rápida. A despedida foi difícil, mas ambos sabiam que cada um tinha um caminho a seguir.

Sozinha novamente, Estefani sentiu a solidão apertar seu peito. As lágrimas ameaçaram cair, mas ela as conteve. A lua cheia apareceu no céu, iluminando a paisagem branca. Estefani olhou para ela, lembrando-se novamente da promessa de Paulo. "Enquanto a lua no céu brilhar, eu sempre vou te amar," sussurrou, sentindo uma nova onda de determinação preencher seu coração.

Continuando sua jornada, Estefani se deparou com um grande rio congelado. O gelo parecia frágil em alguns pontos, mas ela não tinha outra escolha. Precisava atravessar. Com cuidado, testou cada passo antes de avançar. O som do gelo estalando debaixo de seus pés fez seu coração disparar, mas ela continuou, concentrando-se em cada movimento.

Atravessar o rio foi um teste de coragem e paciência. Em vários momentos, o gelo cedeu ligeiramente, e Estefani teve que parar e esperar até sentir-se segura para continuar. Quando finalmente chegou à outra margem, seus joelhos estavam fracos, e sua respiração, pesada. Ela se virou para olhar o rio, agradecendo silenciosamente por ter passado.

Com a noite se aproximando, Estefani encontrou uma pequena caverna onde se abrigou. Exausta, mas segura, ela se aconchegou em sua manta, olhando para o céu estrelado através da entrada da caverna. Fechando os olhos, ela murmurou uma oração silenciosa, pedindo forças para continuar, para que um dia, ela e Paulo pudessem se reencontrar sob o mesmo céu estrelado.

O vento uivou do lado de fora, mas dentro da caverna, Estefani sentiu uma calma que há muito tempo não sentia. Ela sabia que a jornada ainda seria longa e difícil, mas a cada passo, sentia-se mais forte, mais determinada. Enquanto a lua brilhasse no céu, ela continuaria lutando, guiada pela promessa de amor e pela esperança de um reencontro.

E assim, Estefani fechou os olhos, sonhando com o dia em que finalmente veria Paulo novamente.

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