O vento frio cortava as ruas desertas enquanto Paulo, Erik e João Carlos corriam para o prédio do governo. Era um edifício imponente, de concreto cinza e janelas espelhadas, que parecia inabalável diante do caos que se desenrolava no mundo lá fora. Dentro dele, os três amigos esperavam encontrar ouvidos atentos e mentes abertas para suas descobertas.Assim que chegaram, foram direcionados a uma pequena sala de conferências. Ali, debaixo das luzes fluorescentes, Paulo organizou os documentos e dispositivos que trazia. Seus dedos tremiam levemente ao conectar o laptop ao projetor. O olhar preocupado de João Carlos se encontrou com o de Erik, que esboçou um sorriso encorajador, mas todos sabiam o quanto era crucial aquele momento.
— Obrigado por nos receberem — começou Paulo, tentando esconder a ansiedade em sua voz. — Somos um grupo de pesquisadores independentes que tem monitorado as condições climáticas globais e identificamos padrões alarmantes que indicam um desastre iminente.
À medida que Paulo avançava na apresentação, mostrando gráficos de temperaturas crescentes, padrões anômalos de precipitação e a alteração rápida das correntes oceânicas, ele podia sentir o ceticismo dos poucos presentes na sala. Alguns cochichavam entre si, outros apenas olhavam para ele com expressões fechadas.
Quando a apresentação terminou, um dos oficiais presentes, um homem de meia-idade com um semblante cansado e cético, se levantou.
— Vocês esperam que acreditemos que um grupo de amadores descobriu algo que milhares de cientistas pelo mundo inteiro não conseguiram prever? — disse ele, sua voz carregada de desdém. — Não temos tempo para teorias da conspiração.
Os três amigos saíram da reunião com os ombros caídos. João Carlos socou a parede, frustrado.
— Estamos perdendo tempo aqui, Paulo! Eles nunca vão nos ouvir! — gritou, ecoando pelas paredes do corredor vazio.
— Não podemos desistir agora, João. — respondeu Paulo, tentando manter a calma. — Precisamos encontrar outra maneira de alertar as pessoas.
Nos dias que se seguiram, eles tentaram se reunir com diferentes departamentos governamentais e ONGs. Cada encontro, no entanto, terminava de maneira semelhante: portas fechadas, olhares desconfiados e nenhuma ação concreta.
Certo dia, depois de mais uma tentativa fracassada, Erik tentou animar os amigos.
— Vamos dar um jeito de nos fazer ouvir. Não podemos ser os únicos a ver o que está acontecendo.
Diante da falta de resposta das autoridades, Paulo sugeriu que eles levassem sua mensagem diretamente ao público. Com recursos limitados, começaram a gravar vídeos explicativos, usando mapas, imagens de satélite e dados coletados ao longo dos últimos meses.
— Precisamos alcançar o máximo de pessoas possível — disse Paulo enquanto ajustava a câmera. — Se o governo não vai nos ouvir, o povo talvez nos escute.
Erik começou a editar os vídeos e a publicá-los em plataformas de mídia social, enquanto João Carlos tentava entrar em contato com pequenos canais de mídia independente.
No entanto, a resposta foi morna. Os vídeos ganharam algum interesse, mas logo foram suprimidos por outras notícias, teorias da conspiração e a enxurrada constante de informações.
— Não é suficiente — murmurou Paulo, exausto. — O tempo está passando, e ninguém está nos levando a sério.
O estresse começou a afetar o grupo. A frustração de João Carlos se transformou em desânimo.
— Talvez eles estejam certos — disse ele, num momento de fraqueza. — Talvez seja impossível mudar alguma coisa. Estamos lutando contra o impossível.
Erik, sempre otimista, tentou reverter o clima.
— Precisamos continuar tentando, João. Se desistirmos agora, estaremos dando razão a eles. Devemos isso a nós mesmos e ao mundo.
Paulo ficou em silêncio por um momento, sentindo o peso das palavras de seus amigos. Ele sabia que Erik tinha razão, mas também entendia o cansaço de João Carlos. Eles estavam num impasse, e o tempo era um luxo que não podiam se dar ao luxo de desperdiçar.
No dia seguinte, enquanto trabalhavam em mais um vídeo, receberam uma ligação inesperada. Era de uma pequena organização ambientalista que havia visto um dos vídeos de Paulo e queria ouvir mais sobre suas descobertas.
— Eu acredito que vocês podem estar em algo importante — disse a mulher ao telefone. — Nossa organização tem um pequeno alcance, mas talvez possamos ajudar a espalhar sua mensagem.
Essa pequena fagulha de esperança foi o suficiente para reacender o espírito do grupo. Eles sabiam que o tempo estava contra eles, mas essa oportunidade era tudo o que precisavam para continuar.
Paulo, Erik e João Carlos trabalharam sem parar, colaborando com a organização para montar uma apresentação mais robusta e alcançar um público maior. Cada passo, cada nova pessoa que acreditava neles, era uma vitória na luta contra a incredulidade.
Enquanto eles continuavam sua busca por alguém que os ouvisse, uma coisa era certa: eles não iriam parar até que o mundo soubesse da verdade.
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Terra Partida
Ficção CientíficaEm um mundo à beira do colapso, Paulo, um apaixonado por geofísica, começa a perceber sinais alarmantes de um desastre iminente. Trabalhando no Japão, ele se apaixona por Estefani, sua colega de trabalho. Antes de viajar para o Brasil, Paulo alerta...