Capítulo 30: Silêncio no Fim da Linha

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O rádio emitia um crepitar irregular enquanto Paulo, com as mãos trêmulas, tentava ajustar a frequência. A cada tentativa, o som distante da estática ecoava pela casa de campo abandonada, o ambiente escuro e empoeirado ao redor dos três amigos aumentando a sensação de isolamento. Eles estavam à beira do esgotamento, tanto físico quanto emocional.

"Alinne, se você está me ouvindo... aqui é Paulo. Preciso falar com você sobre Pedro," disse ele, com a voz firme, mas carregada de urgência. A resposta, no entanto, não veio. O silêncio do rádio parecia zombar de sua esperança.

Paulo insistiu mais uma vez: "Alinne, por favor, responda."

Nada além do som frio e indiferente da estática.

Ele desligou o rádio com um suspiro pesado e olhou para Erik e João Carlos. "Talvez ela esteja longe do rádio," disse, tentando racionalizar o silêncio.

Mas João Carlos, sentado desconfortavelmente em uma cadeira de madeira, a perna gravemente ferida e o rosto contorcido de dor, soltou uma risada amarga. Ele estava à beira de perder a paciência, a dor e a exaustão alimentando sua frustração. "Ou talvez seja tarde demais!"

As palavras dele atravessaram Paulo como uma facada. Ele virou-se rapidamente, os olhos carregados de irritação e o peito inflamado pela raiva contida. "O que você quer dizer com isso?" perguntou, sua voz subindo.

João Carlos encarou Paulo com um olhar firme, sem esconder o ressentimento. "Você sabe exatamente o que eu quero dizer. Eu te disse para ler essa maldita carta para ela dias atrás! Mas você hesitou, Paulo. E agora? Agora pode ser tarde demais. Talvez Pedro tenha morrido em vão. Talvez Alinne nunca vá ouvir o que ele queria dizer. Quem sabe ela nem esteja viva para ouvir?"

Paulo sentiu a raiva ferver por dentro. Seu coração batia acelerado. Ele deu um passo à frente, sua postura ameaçadora. "Você acha que eu não me importo? Acha que foi fácil para mim tomar essa decisão? Eu planejei entregar essa carta pessoalmente! Eu queria honrar a memória de Pedro do jeito certo. E agora você me acusa de quê? De não me importar? De ser responsável por tudo isso?"

João Carlos não recuou. Sua voz, embora tingida pela dor física, estava cheia de amargura. "Eu só estou dizendo que, se você tivesse agido mais rápido, talvez as coisas fossem diferentes agora. E se você está certo e ela está longe do rádio, tudo bem, mas... E se ela não estiver? E se simplesmente for tarde demais para todos nós?"

Paulo se aproximou ainda mais, seu rosto a centímetros do de João Carlos. "Cuidado com o que você está insinuando."

A tensão entre os dois era palpável, prestes a explodir. Erik, que até então observava em silêncio, percebeu o perigo iminente e se levantou rapidamente, colocando-se entre os dois.

"Ei, calma, vocês dois! Isso não vai levar a lugar nenhum," disse Erik, a voz firme, mas conciliadora. "Nós estamos todos exaustos, com medo e machucados. Mas brigar entre nós não vai nos ajudar. Temos um objetivo aqui, e precisamos de cada um de nós de cabeça fria pra conseguir sair dessa."

João Carlos bufou, desviando o olhar de Paulo. Seu rosto ainda expressava a dor e a frustração, mas ele não tinha forças para discutir mais. Paulo, por sua vez, respirou fundo, tentando recuperar o controle sobre suas emoções. A tensão no ar era pesada, e o silêncio que se seguiu parecia mais sufocante do que antes.

Erik, ainda tentando mediar, olhou para Paulo e depois para João Carlos. "Paulo fez o que achou melhor. João, eu sei que você está sofrendo, mas nós ainda temos tempo. A comunicação falhou agora, mas isso não significa que é o fim. Vamos tentar de novo. Temos que manter a esperança e a calma. Alinne está lá fora, e Pedro acreditava que ela iria ouvir a mensagem. Vamos continuar acreditando nisso."

Paulo assentiu lentamente, ainda sentindo o calor da discussão fervendo em seu peito. "Ele tem razão," disse, a voz mais calma agora. "Não podemos nos dar ao luxo de brigar agora. Eu vou tentar de novo. Ela está lá fora. Eu vou entregar essa mensagem, custe o que custar."

João Carlos permaneceu em silêncio por um longo momento antes de soltar um suspiro resignado. Ele passou a mão pelo rosto, exausto, e olhou para os dois amigos. "Você está certo. Eu só... estou com medo de que o tempo esteja acabando. Cada hora que passa, parece que estamos mais longe de conseguir."

Erik deu um leve sorriso, tentando manter o clima positivo. "Vamos conseguir, cara. Já chegamos até aqui. Vamos sair dessa juntos."

O grupo caiu em silêncio, o peso do que enfrentavam ainda pairando no ar. Lá fora, a noite já havia caído, e o vento uivava através das frestas da velha casa de campo. O rádio estava desligado por enquanto, mas todos sabiam que Paulo tentaria novamente. E dessa vez, ele estaria pronto para o que quer que viesse.

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