O trio estava exausto quando finalmente avistaram o aeroporto de Curitiba no horizonte. O céu cinzento refletia o estado de espírito de Paulo, Erik e João Carlos, que se arrastavam pela pista com a dor da perda ainda fresca em seus corações. Alinne havia partido, e cada um lidava com o luto à sua maneira. A jornada, no entanto, não podia parar.Ao chegarem ao terminal abandonado, as enormes janelas de vidro estavam quebradas e a estrutura do lugar parecia desgastada pela catástrofe que assolava o planeta. Não havia sinal de vida, nem mesmo de atividades recentes. O silêncio do lugar era esmagador, aumentando o peso que já carregavam.
"Precisamos encontrar um avião, algo que possamos usar para seguir viagem até o Polo Sul," disse Paulo, quebrando o silêncio, mas sua voz soava distante, como se parte de sua mente estivesse em outro lugar.
Erik olhou ao redor, procurando algo útil enquanto segurava o braço de João Carlos para ajudá-lo a andar com sua perna quebrada. Apesar da dor visível no rosto, João Carlos não reclamava. Ele se recusava a ser um fardo, insistindo que poderia continuar. Sua resistência surpreendia os outros.
"Ali! Olha só!" exclamou Erik, apontando para um hangar ao longe, onde um pequeno avião, aparentemente em boas condições, estava estacionado. Era um monomotor, simples e velho, mas parecia ser a única esperança.
Os três se aproximaram, e João Carlos se apoiou em uma parede para observar mais de perto. "Esse avião... parece ser um Cessna 172. Não é muito grande, mas serve. O combustível está baixo, mas se conseguirmos abastecer, ele pode nos levar até o Chile," disse ele, com uma confiança inesperada.
Paulo franziu a testa. "Você tem certeza que consegue pilotar isso? Você nunca pilotou um avião de verdade."
João Carlos, mesmo com a perna quebrada, sorriu de canto. "Nunca pilotei, mas estudei bastante. Já li todos os manuais possíveis e fiz simulações. Se algo der errado, pelo menos morreremos tentando."
Erik soltou uma risada nervosa. "Bem, não tenho muitas opções. Prefiro confiar em você do que ficar aqui esperando o mundo acabar."
Com a decisão tomada, eles começaram a preparar o pequeno avião. O combustível restante seria o suficiente para alcançar Santiago, no Chile, onde esperavam poder abastecer e reavaliar o plano. O tempo era curto, e o Polo Sul ainda parecia distante.
***
O voo para o Chile foi relativamente tranquilo, considerando as condições do planeta. Eles haviam passado por turbulências, mas nada que João Carlos não conseguisse controlar. Quando finalmente avistaram o Aeroporto Internacional Arturo Merino Benítez, em Santiago, uma sensação de alívio passou por todos. Porém, o local estava tão devastado quanto o aeroporto de Curitiba.
Após pousarem com segurança, Erik, Paulo e João Carlos desembarcaram e começaram a explorar o lugar. O silêncio era perturbador. Eles caminharam entre os destroços e hangares, procurando algo que pudesse ser útil – combustível, suprimentos, qualquer coisa.
Erik se afastou do grupo para explorar uma área do terminal. Minutos depois, ele surgiu montado em uma cadeira de rodas motorizada, com um sorriso malicioso estampado no rosto.
"Olha, João Carlos! Sua perna quebrada não é mais um problema!" disse ele, enquanto manobrava a cadeira de rodas ao redor do grupo. "Agora, se rasparmos sua cabeça, podemos te chamar de Professor Xavier dos X-Men!"
Paulo, que estava no meio de uma busca por combustível, olhou para cima e não conseguiu conter uma risada. "Erik, você é ridículo."
João Carlos, mesmo com a perna engessada e a dor ainda presente, deu um sorriso. "Não sei se nos X-Men's teria algum personagem palhaço igual a você!" respondeu ele, tentando segurar o riso.
E, pela primeira vez desde a morte de Alinne, eles riram juntos. Foi um momento de leveza no meio de tanta tristeza. Mesmo diante do caos e da destruição, ainda havia espaço para humanidade, humor e amizade.
Com o avião abastecido e uma nova esperança renovada, eles se prepararam para seguir viagem.
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Terra Partida
Science FictionEm um mundo à beira do colapso, Paulo, um apaixonado por geofísica, começa a perceber sinais alarmantes de um desastre iminente. Trabalhando no Japão, ele se apaixona por Estefani, sua colega de trabalho. Antes de viajar para o Brasil, Paulo alerta...