Capítulo 26: Correntes de Desespero

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A manhã em Auckland estava um caos absoluto. O aeroporto, que outrora era um movimentado centro de transportes, agora parecia um cenário apocalíptico. Entre as ruínas, Estefani e Alinne haviam encontrado algum abrigo temporário e estavam tentando encontrar uma forma de escapar. O desespero estava estampado nos rostos dos sobreviventes ao redor, e a luta pela sobrevivência se tornava cada vez mais intensa.

Enquanto procuravam por um piloto, Estefani e Alinne avistaram um homem idoso, Julian Arkwright, cercado por seguranças. Ele parecia ser uma das poucas pessoas ainda no controle da situação. Estefani sentiu um frio na espinha ao se aproximar dele, suas intenções eram claras: ele estava no poder e poderia ter acesso a um voo.

"Senhoritas," começou Arkwright com uma voz autoritária, "sou Julian Arkwright. Tenho os meios para sair desta ilha, mas o que eu preciso em troca é... você." Seu olhar fixou-se em Estefani com uma intensidade desconcertante.

Estefani sentiu um nó no estômago. "Você está dizendo que só conseguiremos um voo se eu concordar em viajar com você?"

"Exatamente. E tempo é essencial. Minha oferta é generosa dada a situação."

Alinne agarrou o braço de Estefani, seu rosto uma máscara de preocupação e fúria. "Você não pode aceitar isso! É uma afronta!"

Estefani respirou fundo, sentindo o peso da decisão. Ela sabia que essa poderia ser a única chance de escapar, mas a ideia de se submeter às condições de Arkwright era repulsiva. O amor e a promessa a Paulo eram tudo que a mantinham firme.

"Vou considerar sua oferta," respondeu Estefani, com um olhar resoluto. "Me dê alguns minutos."

Arkwright assentiu, com um sorriso que deixou claro que ele estava satisfeito com o desespero dela. "Não demore. Meu avião parte em breve."

Estefani e Alinne se afastaram, buscando um lugar mais tranquilo para discutir a situação. "Não podemos aceitar isso, Estefani," disse Alinne, sua voz tremendo. "Há de haver outra maneira."

"Eu sei," respondeu Estefani, com uma voz quase inaudível. "Mas Paulo está contando comigo. E precisamos ir ao Polo Sul."

***

Enquanto isso, em Curitiba, o grupo de Paulo avançava pela cidade devastada. As ruas estavam desertas, exceto por alguns grupos dispersos de sobreviventes e destruição por todos os lados.

"Precisamos achar uma rota para o aeroporto," Erik disse, consultando um mapa com sinais fracos de GPS. "Se encontrarmos o caminho, talvez possamos pegar um voo."

João Carlos dirigia a caminhonete, sua expressão preocupada. "Mas como encontraremos uma pista de aeroporto neste caos?"

De repente, um grupo de pessoas armadas com bastões e ferramentas se aproximou, gritando slogans radicais. "Polo Sul é uma farsa!" "A verdadeira salvação está no Norte!"

"São fanáticos," Erik murmurou, observando com preocupação. "Eles acreditam que o Norte é a única saída."

Antes que pudessem agir, o líder dos fanáticos, um homem imponente com um bastão de metal, se aproximou da caminhonete. Ele e seus seguidores arrancaram Paulo, Erik e João Carlos de dentro do veículo.

"Vocês acham que vão escapar para o Polo Sul enquanto todos aqui tentam sobreviver?" O líder gritou. "Vocês são os verdadeiros traidores!"

Paulo levantou as mãos em um gesto de paz, tentando acalmar a situação. "Estamos tentando encontrar uma forma de sobrevivência. O Polo Sul é o único lugar que parece seguro."

"Seguro?" O líder riu sarcasticamente. "Vocês não entendem nada! O Polo Sul é uma mentira. Só o Norte pode nos salvar."

"Não é verdade," protestou Erik, tentando manter a calma. "Temos evidências de que o Polo Sul é uma das poucas regiões que não foram devastadas."

"E nós devemos acreditar em você?" O líder desdenhou. "Não há tempo para mentiras. Vocês querem ir ao Polo Sul? Então terão que ir a pé."

O grupo de fanáticos avançou e o líder brandiu seu bastão. Com um golpe brutal, ele atingiu a perna de João Carlos. O som do osso quebrando foi cruelmente nítido, e João Carlos caiu no chão, gritando em dor.

"João Carlos!" Paulo gritou, indo para ajudar o amigo, mas foi impedido pelos fanáticos que cercavam o grupo. João Carlos se contorcia no chão, suas mãos se apertando na perna quebrada enquanto os gritos de dor ecoavam pelo campo de batalha.

O líder olhou para Paulo e Erik, com um sorriso frio. "Tirem seu amigo chorão daqui. E boa sorte! O caminho até o Polo Sul é longo e repleto de perigos."

Com o coração pesado e a mente tumultuada, Paulo e Erik tentaram erguer João Carlos e, com muito esforço, começaram a caminhar pela cidade em ruínas. Cada passo parecia mais difícil, o peso da perda e da dor esmagando-os.

A visão de João Carlos, agonizante e lutando para se manter consciente, lembrava a Paulo do quanto estavam em perigo. E enquanto eles seguiam em direção ao desconhecido, a esperança de reencontrar Estefani e sobreviver à crise global parecia mais distante do que nunca.

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