A Terra rugia com uma fúria selvagem. O céu, outrora azul, agora estava coberto por densas nuvens de cinzas vulcânicas e tempestades elétricas que cruzavam o firmamento como serpentes flamejantes. O chão tremia com uma intensidade violenta, como se o planeta estivesse tentando se livrar de uma dor profunda e inimaginável.Paulo, Pedro, Erik e João Carlos tinham chegado à pequena comunidade de Santa Helena na noite anterior. Eles estavam exaustos de sua jornada e precisavam desesperadamente de abrigo. Ao chegar, foram recebidos calorosamente pelos moradores, que ofereceram comida e um lugar para descansar.
Pedro rapidamente se enturmou com um menino de 12 anos chamado Léo, que vivia com sua avó na comunidade. Léo era um garoto curioso e destemido, que não demorou a se apegar ao carisma natural de Pedro. Durante a noite, os dois conversaram sobre tudo: desde as aventuras de Pedro ao redor do mundo até as histórias que Léo ouvira de sua avó sobre a vida antes dos desastres começarem.
Pedro, sorrindo, prometeu ao garoto que um dia o levaria para ver o mar. "E quando você estiver lá, a primeira coisa que vai fazer é pegar uma onda. Isso vai mudar sua vida!", ele disse, fazendo Léo rir.
Erik, sempre com uma piada pronta, interrompeu a conversa: "É claro que ele vai querer surfar! Só espero que ele seja melhor nisso do que você foi em cozinhar aquele jantar ontem. Acho que quase todos nós morremos de intoxicação alimentar, mas pelo menos morreríamos rindo, né?"
Todos riram, aproveitando o momento de leveza antes da tempestade que sabiam que estava por vir.
Naquela noite, enquanto todos dormiam, a Terra começou a mostrar sinais de que o "Dia D" estava prestes a começar. Estrondos profundos ecoaram no subsolo, e o ar estava carregado de uma tensão quase elétrica.
Quando a manhã chegou, o caos havia começado. Um terremoto violento abalou Santa Helena, fazendo casas ruírem como castelos de cartas. O chão se abriu, criando fendas enormes que engoliram tudo em seu caminho. Pedro, ao sentir a terra tremer, correu para fora, seguido por Paulo, Erik e João Carlos.
— Precisamos ajudar essas pessoas! — gritou Pedro, a voz cheia de determinação.
Pedro viu Léo preso sob os escombros da casa de sua avó. Sem hesitar, ele correu para o garoto, cavando freneticamente com as mãos nuas, ignorando a dor e o sangue que escorria de seus dedos.
— Eu vou tirar você daqui, Léo! — Pedro disse com firmeza, enquanto tentava liberar o garoto.
Erik e João Carlos trabalhavam rapidamente para estabilizar outras áreas da comunidade, tentando salvar o máximo de pessoas possível. Erik, sempre tentando trazer um pouco de humor, gritou para João Carlos enquanto puxava uma idosa para longe de uma parede desmoronando: "Quem diria que viraríamos heróis no fim do mundo, hein? Se soubesse, tinha trazido minha capa de super-herói!"
João Carlos respondeu com um sorriso cansado: "Só não me peça para usar collant, Erik. Prefiro enfrentar o apocalipse vestido assim."
Enquanto isso, Estefani, Alinne e o piloto estavam em um pequeno avião de carga, tentando fazer a perigosa viagem até a Nova Zelândia. O avião, não projetado para longas distâncias, tremia violentamente enquanto atravessava uma tempestade elétrica. Relâmpagos iluminavam o interior da cabine, e o vento rugia como uma fera tentando derrubá-los do céu.
O piloto, com o rosto coberto de suor e os olhos fixos nos instrumentos, lutava para manter o avião estável. — Este avião não foi feito para isso! — ele gritou, sua voz cheia de tensão. — Mas eu vou fazer o meu melhor para nos manter no ar!
Alinne, sentada ao lado dele, segurava o mapa com mãos trêmulas. — Precisamos nos manter no curso, ou nunca chegaremos à Nova Zelândia. Estefani, veja se consegue encontrar algo para nos ajudar a estabilizar o avião.
Estefani vasculhou rapidamente a cabine em busca de qualquer coisa útil. Encontrou um velho manual de voo e começou a folheá-lo freneticamente, tentando encontrar instruções que pudessem ajudar. — Temos que manter a calma! — ela disse, mais para si mesma do que para os outros. — Podemos sair dessa!
De volta à comunidade de Santa Helena, a situação estava ficando desesperadora. A fenda no chão estava se alargando, engolindo tudo em seu caminho. Pedro, com Léo finalmente nos braços, correu para longe dos escombros, tentando chegar a uma área segura.
Erik e João Carlos conseguiram puxar mais algumas pessoas para fora dos escombros, mas sabiam que não teriam muito tempo antes que o chão se abrisse ainda mais.
Paulo, que estava ajudando a resgatar os feridos, viu que a situação estava piorando rapidamente. Ele gritou para os outros: — Precisamos sair daqui! A fenda está se expandindo muito rápido!
Pedro viu uma velha caminhonete ainda funcionando e gritou para todos: — Entrem na caminhonete! Vamos sair daqui agora!
Todos correram em direção à caminhonete. Pedro, com Léo ainda nos braços, ajudou a colocar o garoto no banco de trás e subiu na frente com os outros. Erik, assumindo o papel de motorista, deu partida e acelerou pela estrada cheia de escombros.
A fenda atrás deles se alargava, e o som da Terra se partindo era como um trovão contínuo. Erik, com as mãos firmes no volante, murmurou: "Só mais um pouquinho... Só mais um pouquinho e estaremos fora de perigo..."
A caminhonete acelerou para longe da fenda, que continuava a se alargar, destruindo tudo em seu caminho. Eles conseguiram chegar a uma colina, onde pararam para recuperar o fôlego.
Lá de cima, viram a devastação que o "Dia D" havia trazido. A pequena comunidade que os acolhera agora era apenas ruínas e fumaça.
Pedro, ainda segurando Léo, olhou para o garoto. — Nós conseguimos, Léo. Nós conseguimos.
O garoto olhou para Pedro com os olhos cheios de lágrimas e gratidão. — Obrigado, Pedro. Você é meu herói.
Pedro sorriu, sentindo um misto de alívio e tristeza. — Não sou um herói, Léo. Só estou tentando fazer a coisa certa.
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Terra Partida
Science FictionEm um mundo à beira do colapso, Paulo, um apaixonado por geofísica, começa a perceber sinais alarmantes de um desastre iminente. Trabalhando no Japão, ele se apaixona por Estefani, sua colega de trabalho. Antes de viajar para o Brasil, Paulo alerta...