Capítulo 32 - O Último Adeus

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A brisa fria do Polo Sul cortava o ar como facas invisíveis. Estefani tremia, mas não apenas pelo frio. Alinne estava ali, deitada em seu colo, com os olhos semiabertos e o sangue escorrendo pela neve, tingindo-a de vermelho. O tiro fora certeiro, e o velho magnata, que se revelara a verdadeira ameaça, já estava morto a alguns metros de distância, seu corpo imóvel após dar seu último esforço para disparar o tiro fatal. Estefani olhou para trás, sua mente em um turbilhão, mas voltou-se rapidamente para sua amiga.

"Alinne... aguenta firme, por favor..." implorou Estefani, suas mãos manchadas de sangue enquanto tentava desesperadamente estancar a ferida. "Nós chegamos tão longe... não pode terminar assim."

Alinne ofegava, sua voz mal saindo. "Estefani... eu... eu cheguei até aqui... vou encontrar Pedro... como prometi..."

"Não!" Estefani gritou, as lágrimas já enchendo seus olhos. "Você vai sobreviver! Nós vamos sobreviver juntas. Não pode me deixar agora..."

Alinne sorriu fracamente, sua pele ficando cada vez mais pálida. "Sabe que talvez... talvez esse seja o meu fim. E está tudo bem... porque eu vou ver Pedro de novo... Ele deve estar esperando por mim."

Estefani soluçava, balançando a cabeça em negação. "Não, Alinne... você vai resistir... Você tem que..."

De repente, um barulho interrompeu o desespero de Estefani. O rádio transmissor no bolso de Alinne começou a dar sinal, um zumbido baixo e insistente. Estefani, com mãos trêmulas, alcançou o rádio e o segurou perto do ouvido, sua voz trêmula ao responder.

"Alô? Paulo? Sou eu, Estefani..."

A resposta veio quase imediatamente, a voz de Paulo cheia de urgência. "Estefani! Graças a Deus! Tenho tentado falar com Alinne há dias... preciso... preciso ler para ela uma carta que Pedro deixou para ela. Onde ela está?"

Estefani engoliu em seco, seus olhos voltando-se para o rosto pálido de Alinne. Sua voz saiu embargada pela emoção. "Então... então sugiro que seja rápido. Ela... ela não tem muito tempo."

O silêncio do outro lado durou um segundo que pareceu uma eternidade. Paulo parecia ter sido atingido pela gravidade das palavras de Estefani, mas rapidamente retomou o fôlego. "Deixe-me ler agora, por favor."

Estefani segurou o rádio perto de Alinne, que com um esforço sobre-humano conseguiu segurá-lo em suas mãos trêmulas. "Anda, Paulo..." disse ela, com uma risada fraca. "Ninguém merece morrer com essa curiosidade... Diga logo o que Pedro escreveu pra mim."

Paulo respirou fundo e começou a ler, a voz dele hesitante no início, mas ganhando força à medida que as palavras de Pedro tomavam vida:

"Oii Linda! Que saudades de você... Ainda lembro de cada momento nosso, juntos no nosso carro, conversando sobre qualquer coisa que vinha na nossa mente... Parados ali no estacionamento do kombini... Ah, como é incrível a nossa química, não é? A forma como tudo entre a gente sempre foi tão fácil, tão natural. E como não pensar nos seus beijos? Esse seu sorriso que me derrete todo só de lembrar, e aqueles seus olhos... sempre brilhando quando eu começava a falar, seja sobre qualquer bobagem, ou algo mais profundo. Sempre amei a maneira como você me escuta, e eu sempre fui fascinado em te ouvir também."

As lágrimas corriam pelo rosto de Alinne, cada palavra penetrando fundo em sua alma. Estefani, ao seu lado, chorava silenciosamente enquanto apertava a mão da amiga, sentindo a vida escapando lentamente de seu corpo.

Paulo continuou:

"Cada detalhe seu me conquistou, cada pedacinho de quem você é fez com que eu me apaixonasse mais e mais. Fiz tantas declarações, de tantas formas, só para tentar mostrar o quanto eu te amo. Até música para você eu fiz! Mas, infelizmente ou felizmente, nunca foi fácil pra gente, não é? Talvez o nosso amor não fosse para ser vivido como o de outras pessoas. Talvez o nosso tenha sido destinado a algo maior. A gente, dois teimosos, enfrentando tudo, nos arriscando, nos amando, mesmo sabendo dos riscos. Era tanto amor... é tanto amor!"

Alinne apertou o rádio com força, o sorriso se misturando com a dor. "Pedro... seu sonso..." ela sussurrou, enquanto Paulo continuava:

"E talvez, só talvez, esse amor seja tão grande, tão forte, que até a Terra se partiu ao meio por não conseguir suportar o peso de tanta paixão. Pode ser que um planeta só, ou uma vida só, seja pouco para tudo o que ainda temos para viver. Mas eu estou indo na frente... vou procurar um novo lugar, um novo planeta, ou talvez um novo plano, quem sabe? Um paraíso, ou uma nova encarnação. Eu não sei o que vem depois daqui, mas o que eu sei é que vou estar lá, esperando por você. Não se apresse e não se preocupe, linda... Quando for a sua hora, eu estarei te esperando, pronto para a gente se amar de novo. Do jeito que sempre deveria ser. Porque isso... isso é menos que o mínimo que você merece. Lembra?.."

Paulo respirou fundo, lutando para terminar a leitura da carta. "Te amo. Beijos, linda."

O rádio ficou em silêncio por um momento. As lágrimas agora corriam livremente pelo rosto de Alinne. Ela olhou para Estefani, que chorava junto, segurando-a com todo o carinho que podia. Com o pouco de força que restava, Alinne levou o rádio aos lábios pela última vez e sussurrou:

"Seu bobo... estou indo, lindo..." E com essas palavras, Alinne fechou os olhos, seu corpo finalmente relaxando nos braços de Estefani.

O silêncio que se seguiu foi devastador. Estefani não conseguia parar de chorar enquanto o vento gélido assobiava ao redor delas, como se o próprio mundo lamentasse a perda de Alinne. O rádio estava mudo, e Paulo do outro lado também ficara em silêncio, compreendendo o que havia acontecido.

No horizonte, a lua brilhava suavemente sobre o gelo. Estefani olhou para ela, lembrando-se da promessa que Alinne e Pedro fizeram um ao outro. Agora, eles finalmente estavam juntos novamente.

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