Dias se passaram desde que Estefani e Alinne chegaram à Nova Zelândia. As condições estavam longe de serem ideais, mas elas conseguiram encontrar abrigo e suprimentos suficientes para se manterem seguras enquanto aguardavam notícias de Paulo e do restante do grupo. As noites eram longas e cheias de incerteza, mas a esperança de reencontrar Paulo as mantinha firmes.Estefani ajustou o rádio, tentando obter uma comunicação clara com Paulo. "Paulo, você está aí? Paulo, por favor, responda", ela pediu, sua voz carregada de ansiedade. Houve um momento de estática antes de a resposta dele vir, abafada e distante.
"Estou aqui, Estefani. Como estão vocês?" A voz de Paulo, embora reconfortante, parecia tensa e cansada.
"Estamos bem, considerando as circunstâncias", respondeu Estefani, trocando um olhar preocupado com Alinne, que estava visivelmente ansiosa. "Mas precisamos saber... o que está acontecendo por aí? Não ouvimos nada do Pedro há dias. Onde ele está?"
Houve um silêncio prolongado do outro lado da linha. Paulo hesitou, o peso da verdade o esmagando. "Ele... está em uma missão de reconhecimento", ele finalmente disse, sua voz soando estranhamente plana.
Estefani franziu o cenho, sentindo que algo estava errado. Alinne, ao seu lado, balançou a cabeça, o rosto pálido e os olhos marejados. "Ele está escondendo alguma coisa", sussurrou ela, as palavras mal saindo da boca.
"Paulo", Estefani insistiu, sua voz ficando mais firme. "Você precisa nos dizer a verdade. O que aconteceu com o Pedro?"
No acampamento de Paulo, Erik e João Carlos se entreolharam. Eles sabiam que a mentira não poderia continuar. "Você precisa contar a elas, Paulo", disse Erik, sua voz baixa e cheia de urgência. "Elas têm o direito de saber."
"Eu sei", Paulo suspirou, passando a mão pelo cabelo. "Mas eu não sei como dizer isso. Elas estão tão longe... e vulneráveis. Tenho medo do que essa notícia vai fazer com elas."
João Carlos colocou a mão no ombro de Paulo. "Elas são fortes. Já passaram por tanta coisa. Melhor saberem agora, antes que ouçam de outra forma."
Enquanto ponderava suas opções, Paulo começou a mexer em seus pertences, tentando encontrar as palavras certas. Foi então que seus dedos encontraram um envelope amassado no fundo de sua mochila. Ele o puxou para fora e reconheceu a caligrafia de Pedro. Com um aperto no coração, ele abriu o envelope e puxou um mapa e algumas anotações.
O plano de Pedro era meticuloso. Ele havia traçado uma rota detalhada para sair de Santa Helena, Paraná, em direção a Curitiba, onde esperavam encontrar algum avião que os levasse até Punta Arenas, no Chile. De lá, poderiam pegar um cruzeiro ou voo para a Antártida, onde esperavam iniciar sua expedição ao Polo Sul. Paulo sentiu uma mistura de tristeza e gratidão. Pedro tinha pensado em tudo, até o último detalhe.
Com o plano de Pedro em mãos, Paulo sabia o que precisava fazer. Ele se levantou, com determinação renovada. "Eu vou contar a verdade para elas. É hora."
Ele voltou para o rádio e ajustou a frequência, ouvindo a respiração ansiosa de Estefani do outro lado. "Estefani... Alinne... Eu tenho algo para contar a vocês. Algo que não queria que soubessem assim, mas é necessário."
Houve um silêncio pesado antes de Paulo continuar. "Pedro... ele... morreu. Ele se feriu há alguns dias, enquanto salvava uma senhora idosa que estava presa nos escombros. Ele conseguiu tirá-la de lá, mas, ao fazer isso, caiu em cima de uma ponta de ferro."
A respiração de Alinne ficou entrecortada, e as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. "Pedro..." ela murmurou, sua voz cheia de dor e desespero. "Ele... ele era tudo para mim... como pude não saber?"
Estefani imediatamente colocou a mão sobre o ombro de Alinne, tentando oferecer conforto. "Alinne, eu sinto muito. Não sabia o quanto ele significava para você. Pedro era um homem incrível, e sua perda é devastadora para todos nós, mas especialmente para você."
Alinne soluçava, os ombros tremendo com o peso da dor. "Eu... eu não posso acreditar. Ele fez tanto... e eu nem sabia o que estava acontecendo."
"Ele tentou proteger todos nós", Estefani disse suavemente. "Ele era corajoso e nunca quis nos preocupar com seu sofrimento. Ele queria que todos nós seguíssemos em frente, e é isso que vamos fazer. Devemos honrar sua memória e continuar a luta, como ele gostaria."
"Eu não sei se consigo", Alinne chorou. "Eu sinto tanta falta dele. Ele era tudo para mim."
Estefani apertou o ombro de Alinne com mais firmeza. "Você é mais forte do que imagina. Pedro acreditava em você. Acredite também. Temos um plano agora, algo que Pedro nos deixou. Vamos seguir em frente, por ele e por nós."
Paulo, ouvindo a conversa, sentiu a dor refletida nas palavras de Estefani. Ele sentia que, de alguma forma, estava falhando em confortar Alinne como deveria. "Alinne, eu sinto muito. Eu não deveria ter escondido isso. Prometo que faremos o que Pedro queria. Vamos encontrar um caminho para o Polo Sul, como ele planejou."
Alinne respirou fundo, tentando se recompor. "Está bem. Vamos seguir em frente. Pedro não queria que parássemos. Vamos honrar sua memória, seguindo seu plano."
O capítulo termina com Paulo desligando o rádio, sua mente cheia de pensamentos conflitantes. Erik e João Carlos o observam em silêncio, respeitando o momento. Eles sabiam que a jornada seria longa e cheia de desafios, mas com o plano de Pedro, eles tinham um caminho a seguir. E essa era a última esperança que precisavam, enquanto Alinne começava a encontrar a força necessária para enfrentar o que estava por vir.
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Terra Partida
Science FictionEm um mundo à beira do colapso, Paulo, um apaixonado por geofísica, começa a perceber sinais alarmantes de um desastre iminente. Trabalhando no Japão, ele se apaixona por Estefani, sua colega de trabalho. Antes de viajar para o Brasil, Paulo alerta...