Capítulo 23: Adeus, Amigo

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O vento soprava forte, carregando a poeira e o desespero da paisagem devastada. Ao redor de Pedro, os amigos se reuniram, formando um círculo de dor e angústia. Ele estava caído no chão, o rosto pálido e coberto de suor frio. Seus olhos, mesmo cansados, brilhavam com uma mistura de dor e determinação.

Pedro respirava com dificuldade, cada inalação uma batalha contra o corpo debilitado. Ele tentava manter a voz firme enquanto falava, mas era evidente que cada palavra custava-lhe um esforço enorme.

"Enquanto... tentava descer a colina... os tremores..." ele pausou para engolir em seco, sentindo o gosto metálico do sangue na boca. "Fui pego de surpresa. A queda... atingi algo afiado... sinto que a infecção se espalhou..."

O grupo ouviu em silêncio, absorvendo a gravidade da situação. As nuvens escuras no céu prenunciavam uma tempestade iminente, e os tremores se intensificavam, balançando o solo sob seus pés. Paulo olhou ao redor, o coração pesado. Eles precisavam seguir em frente, mas como poderiam deixar um amigo para trás?

"Pedro," Paulo disse, sua voz firme, mas trêmula, "nós não podemos deixá-lo aqui. Vamos encontrar um jeito de te carregar. A gente consegue."

Pedro balançou a cabeça com dificuldade, seus olhos encontrando os de Paulo. Ele tentou se erguer, mas logo desabou novamente, soltando um grito abafado de dor. Reunindo forças que pareciam surgir de um lugar profundo dentro dele, Pedro agarrou o colarinho de Paulo, puxando-o para mais perto.

"Presta atenção," Pedro sussurrou com uma intensidade que cortava como uma lâmina. "Não me obrigue a enfiar uma bala na minha cabeça. Estou mandando vocês seguirem sem mim... Eu já estou morto! Eu sou militar, Paulo. Eu sei quando um ferimento é grave... e a infecção... não há mais nada que possa ser feito."

As palavras de Pedro atingiram Paulo como um soco no estômago. As lágrimas começaram a escorrer livremente pelo seu rosto, enquanto ele balançava a cabeça em negação. "Pedro, por favor... não faz isso. A gente precisa de você!"

Pedro soltou o colarinho de Paulo, seu corpo tremendo. Sua respiração tornou-se um pouco mais suave, mas cada vez mais fraca. Olhando para o céu que começava a escurecer, ele deixou um sorriso cansado surgir em seus lábios.

"Meu amigo," Pedro murmurou, a voz falhando. "Tenho uma novidade boa para você. Não se preocupe... caso você não consiga e também venha a morrer... você poderá continuar amando Estefani pela eternidade. Pois o lugar que estou indo... já dá pra notar que também consigo ver a Lua."

As palavras finais de Pedro trouxeram lágrimas aos olhos de todos. Um silêncio pesado pairou sobre o grupo, quebrado apenas pelo som distante dos trovões e dos ventos que começavam a uivar ao redor deles.

Reunindo suas últimas forças, Pedro tirou uma carta amassada de dentro do bolso, as mãos tremendo. Ele estendeu a carta para Paulo, seu olhar fixo no amigo, carregado de urgência e uma despedida silenciosa.

"Paulo..." Pedro sussurrou, quase inaudível. "Entregue isso para Alinne... Se achar que não vai encontrar ela... pelo menos leia para ela no rádio... apenas faça com que ela saiba de tud..."

A frase ficou incompleta. A cabeça de Pedro caiu para o lado, os olhos se fechando lentamente. Seus braços caíram inertes ao chão, e o corpo relaxou, finalmente em paz.

Por um momento que pareceu uma eternidade, ninguém se moveu. Paulo olhou para o amigo caído, sentindo como se o mundo tivesse parado. Ele segurava a carta de Pedro com força, os dedos cerrados ao redor do papel frágil. Lágrimas escorriam silenciosamente pelo seu rosto, misturando-se com a poeira e o suor.

Erik, que estava ao lado de Paulo, colocou uma mão reconfortante em seu ombro. "Nós vamos fazer isso, Paulo. Vamos honrar o sacrifício dele."

Paulo assentiu lentamente, engolindo o nó na garganta. Ele sabia que Erik estava certo. Eles tinham que continuar, por Pedro, por Alinne, por Estefani, por todos aqueles que ainda tinham uma chance de sobreviver.

Olhou para o céu escuro, onde a Lua começava a aparecer entre as nuvens pesadas. "Enquanto a Lua no céu brilhar, eu sempre vou te amar," sussurrou, ecoando a promessa que ele e Estefani haviam feito um ao outro. E, com um último olhar para Pedro, Paulo se levantou, a carta firmemente segura em sua mão.

"Vamos," ele disse aos outros, sua voz firme apesar das lágrimas. "Pedro está certo. Temos que seguir em frente."

O grupo se moveu lentamente, deixando para trás o corpo de Pedro, mas levando consigo a memória e o sacrifício de um amigo que deu sua vida para que eles pudessem ter uma chance. O vento continuava a soprar, mas agora parecia carregar uma promessa. Uma promessa de que, não importa o que acontecesse, eles continuariam lutando. Para Pedro, para Estefani, para todos que haviam perdido e para aqueles que ainda poderiam salvar.

E, enquanto caminhavam, a Lua brilhava sobre eles, uma lembrança constante do amor, da esperança e do sacrifício que os guiava.

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