Capítulo 18: O Clamor da Terra

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As nuvens de poeira rodopiavam furiosamente pelo céu enquanto Estefani e Alinne se abrigavam atrás de uma formação rochosa, tentando se proteger da tempestade de areia que parecia não ter fim. O vento uivava como se a própria Terra estivesse gritando em agonia. Ambas estavam exaustas, com os rostos cobertos de poeira e os olhos ardendo, mas sabiam que precisavam continuar.

Alinne olhou para Estefani e, mesmo com o rosto coberto pela máscara improvisada que usava para se proteger da areia, seus olhos demonstravam preocupação e determinação.

— Precisamos encontrar abrigo mais seguro, Estefani — disse Alinne, segurando o braço da amiga para chamar sua atenção. — Não podemos ficar aqui por muito tempo. A tempestade está ficando pior.

Estefani assentiu, ciente de que Alinne estava certa. Ela olhou ao redor, procurando algum sinal de um lugar mais protegido. Entre as rajadas de vento, ela avistou o que parecia ser a entrada de uma caverna a alguns metros de distância. Com um aceno de cabeça, ela indicou a direção para Alinne, que prontamente concordou.

As duas correram com dificuldade contra o vento cortante, protegendo os olhos da areia e dos pequenos detritos que voavam. Ao chegarem à caverna, Estefani respirou aliviada ao sentir a proteção das paredes rochosas ao seu redor. Alinne entrou logo atrás, verificando o interior antes de relaxar um pouco.

— Isso deve nos manter seguras até que a tempestade passe — disse Alinne, se encostando na parede da caverna. — Mas precisamos decidir o que fazer a seguir. A situação lá fora está piorando rápido demais.

Estefani assentiu, tentando controlar a respiração acelerada. — Eu sei. E cada vez mais sinto que o tempo está contra nós. Precisamos continuar nossa jornada para o Polo Sul o mais rápido possível.

Alinne balançou a cabeça em concordância, mas sua expressão era de preocupação. — Concordo, mas temos que ser cuidadosas. Se continuarmos sem reabastecer nossos suprimentos ou sem saber o que nos espera pela frente, podemos não chegar longe.

O silêncio caiu entre elas enquanto ponderavam suas opções. A amizade que tinham desenvolvido ao longo dos últimos dias havia se tornado uma fonte de força para ambas, mas também as havia colocado em uma posição difícil. Cada uma delas queria proteger a outra, mas sabiam que os desafios que estavam por vir seriam maiores do que qualquer coisa que já haviam enfrentado.

Estefani finalmente quebrou o silêncio. — Alinne, eu sei que você quer ajudar outros sobreviventes, mas sinto que precisamos focar em chegar ao Polo Sul. Cada minuto conta agora.

Alinne olhou para Estefani, vendo a determinação nos olhos da amiga. Ela entendia o desespero de Estefani em encontrar Paulo, porque sentia o mesmo em relação a Pedro. Com um suspiro, ela cedeu.

— Eu sei, Estefani. Eu também quero encontrar Pedro, e você tem razão, cada minuto importa. Mas, ao mesmo tempo, se não estivermos preparadas, não chegaremos a lugar nenhum.

Estefani suspirou, sabendo que Alinne tinha razão. — Então, o que você sugere?

Alinne pensou por um momento antes de responder. — Precisamos de informações. Se pudermos encontrar um rádio em funcionamento ou alguma outra forma de comunicação, talvez possamos descobrir o que está acontecendo e como podemos nos preparar melhor. Além disso, precisamos de suprimentos. A última coisa que queremos é ficar sem comida ou água no meio do nada.

Estefani concordou. — Certo, vamos nos concentrar nisso. Primeiro, vamos esperar essa tempestade passar, e depois procuraremos um lugar para reabastecer e talvez encontrar algum rádio ou estação de comunicação.

Elas se sentaram na entrada da caverna, observando a tempestade lá fora. O vento começava a diminuir, mas a tensão no ar era palpável. Ambas sentiam que algo terrível estava se aproximando, como um prenúncio do que estava por vir.

Quando a tempestade finalmente passou, Estefani e Alinne saíram da caverna e começaram a descer a encosta da montanha. O terreno era traiçoeiro, cheio de pedras soltas e rachaduras profundas causadas pelos recentes terremotos. Elas se moviam com cuidado, cada passo uma prova de sua determinação de continuar.

Após algumas horas de caminhada, avistaram uma ponte parcialmente destruída sobre um rio estreito, mas profundo. Era a única maneira de continuar em frente sem ter que fazer um grande desvio que poderia lhes custar preciosas horas.

Estefani hesitou ao ver a estrutura precária da ponte, mas Alinne avançou, inspecionando as tábuas e as cordas. — Parece instável, mas acho que podemos passar uma de cada vez. Vou na frente — disse Alinne, começando a atravessar com passos cuidadosos.

Estefani observou com apreensão enquanto Alinne cruzava a ponte, seus pés testando cada tábua antes de colocar todo o peso sobre ela. Quando Alinne finalmente chegou ao outro lado, ela se virou e acenou para Estefani, encorajando-a.

Respirando fundo, Estefani começou a atravessar. Cada passo fazia a ponte ranger e balançar, e ela sentia seu coração bater acelerado. Quando chegou ao meio, uma rajada de vento fez a estrutura tremer violentamente, e ela se agarrou às cordas com força, o medo a paralisando por um instante.

— Você consegue, Estefani! — gritou Alinne do outro lado, sua voz firme e encorajadora.

Reunindo toda a sua coragem, Estefani deu mais alguns passos e finalmente chegou ao outro lado. Alinne a ajudou a subir, e as duas se abraçaram, aliviadas.

— Nunca mais quero fazer isso de novo — disse Estefani, com um sorriso nervoso.

— Eu também não — respondeu Alinne, rindo. — Mas estamos juntas nisso, e vamos chegar ao Polo Sul, custe o que custar.

Enquanto continuavam sua jornada, Estefani avistou um objeto brilhante parcialmente enterrado na areia. Curiosa, ela se aproximou e desenterrou um rádio portátil, aparentemente ainda em funcionamento.

— Olha isso, Alinne! — disse Estefani, segurando o rádio. — Talvez possamos usar isso para descobrir mais sobre o que está acontecendo.

Alinne pegou o rádio e começou a girar o botão de frequência, tentando captar qualquer sinal. Após alguns momentos de estática, uma transmissão fragmentada surgiu:

— ... colapso ... placas tectônicas ... dia D ... evacuar imediatamente ...

O sinal falhou, mas a mensagem foi clara o suficiente para causar um calafrio em ambas. O "dia D" estava próximo, e elas precisavam chegar ao Polo Sul antes que fosse tarde demais.

Estefani e Alinne trocaram um olhar determinado, conscientes da urgência de sua missão. Elas continuaram caminhando, lado a lado, sabendo que a verdadeira prova de suas vidas estava apenas começando.

Ao anoitecer, as auroras voltaram a brilhar no céu, mas desta vez eram mais intensas e vibrantes, iluminando o horizonte com cores assustadoramente belas. As duas mulheres pararam para observar, sentindo uma mistura de admiração e temor. A Terra estava se preparando para algo, e elas sabiam que precisavam estar prontas para enfrentar o que quer que viesse.

Juntas, elas seguiram em frente, determinadas a sobreviver e a encontrar aqueles que amavam, enquanto o mundo ao redor delas continuava a se desfazer.

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