Capítulo 7: O Sacrifício

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Os ventos uivavam ao redor de Paulo, Erik e João Carlos enquanto eles atravessavam a espessa vegetação de uma floresta desconhecida. A noite já havia caído, e a escuridão dificultava a visão. Haviam se desviado de seu caminho original após terem sido perseguidos por um grupo de fanáticos religiosos que acreditavam que o fim do mundo era um castigo divino. Este grupo os perseguia implacavelmente, crendo que, ao sacrificá-los, poderiam aplacar a ira de seu deus e salvar suas próprias vidas.

Tudo começou há dois dias, quando os três caminhavam por um terreno montanhoso em busca de um ponto de referência que os ajudasse a seguir para o sul. O trio estava exausto e com fome, com suas provisões quase acabando. Ao avistar uma fumaça subindo no horizonte, suas esperanças foram renovadas. "Parece que há um acampamento por ali," comentou Erik, apontando para a coluna de fumaça. "Talvez possamos conseguir comida ou informações."

Com cuidado, avançaram em direção à fumaça, se movendo silenciosamente para não chamar atenção. Ao se aproximarem, perceberam que o acampamento era mais que uma simples fogueira. Havia barracas improvisadas, feitas de lonas e galhos, e um grande altar de pedra no centro, coberto com símbolos estranhos e desconhecidos. Homens e mulheres, de olhos febris e com roupas rasgadas, se moviam em um frenesi religioso ao redor do altar, cantando e murmurando orações em uma língua que Paulo não conseguia identificar.

Sentindo um calafrio percorrer sua espinha, Paulo fez sinal para que parassem. "Isso não parece certo," ele sussurrou, o desconforto evidente em sua voz. "Devemos sair daqui antes que nos vejam."

Mas era tarde demais. Um dos fanáticos, que parecia ser o líder, um homem alto e magro com uma longa barba grisalha, os avistou e ergueu a mão em direção a eles. "Intrusos!" ele gritou com uma voz rouca. "São enviados para nos testar, para provar nossa fé!"

Em um instante, o acampamento entrou em um alvoroço. Vários dos seguidores pegaram tochas e facas, avançando na direção de Paulo, Erik e João Carlos. Sem hesitar, os três se viraram e correram para dentro da floresta, ouvindo os gritos e passos frenéticos dos fanáticos atrás deles.

"Rápido, por aqui!" gritou João Carlos, puxando os outros dois para um caminho estreito entre as árvores. Correram o mais rápido que puderam, os galhos e folhas os arranhando enquanto passavam, mas os gritos continuavam a ecoar, cada vez mais próximos.

Paulo olhou para trás, respirando pesadamente, e viu os olhos cansados de Erik e João Carlos. "Precisamos encontrar um lugar seguro para nos escondermos até que a noite passe", sussurrou, tentando esconder o desespero na voz.

Os três continuaram a correr até chegarem a uma pequena caverna, oculta por galhos e arbustos. Sem hesitar, se arrastaram para dentro, tentando recuperar o fôlego. "Não temos muito tempo. Eles estão próximos", murmurou Erik, o medo visível em seu rosto.

Dentro da caverna, o silêncio era opressor. João Carlos, sempre o otimista do grupo, olhou para seus amigos com um sorriso forçado. "Olha, pessoal, não temos muita escolha aqui. Precisamos ser espertos e rápidos. Se ficarmos juntos, eles nos pegarão."

Paulo balançou a cabeça, a ideia de se separar parecia absurda. "Não podemos simplesmente abandonar um ao outro. Temos que encontrar uma maneira de sair daqui juntos."

Erik assentiu em concordância, mas João Carlos parecia estar em outro lugar, pensando profundamente. Finalmente, ele falou, com uma calma inquietante em sua voz. "Eu vou ficar para trás. Vou distrair-los e dar a vocês uma chance de escapar."

Paulo sentiu seu coração apertar. "João, você não pode... Não pode fazer isso. Precisamos de você. Eu... Eu preciso de você."

João Carlos colocou a mão no ombro de Paulo, apertando-o firmemente. "Você sabe que isso é o certo. Eu sou o mais lento de nós três. E, além disso, se eu puder dar a vocês uma chance de continuar, então vale a pena."

Erik tentou intervir, mas João Carlos já estava decidido. "Vocês dois precisam chegar ao Polo Sul. Precisam continuar, não importa o que aconteça. Eu já vivi o suficiente para saber que algumas coisas valem o sacrifício. E salvar vocês é uma dessas coisas."

Com lágrimas nos olhos, Paulo abraçou João Carlos, sabendo que esta poderia ser a última vez que o veria. "Obrigado, meu amigo. Não vamos esquecer o que você está fazendo por nós."

João Carlos apenas sorriu, com aquela calma que sempre o caracterizara, e virou-se para sair da caverna. Erik segurou Paulo pelo braço, puxando-o em direção à saída oposta. "Vamos, Paulo. Não podemos deixar o sacrifício dele ser em vão."

Os dois correram pela floresta, sem olhar para trás, ouvindo os gritos de João Carlos e dos fanáticos que o perseguiam. Paulo sabia que cada segundo que João Carlos ganhava para eles era uma oportunidade de seguir em frente, de cumprir a promessa de encontrar Estéfani no Polo Sul.

Depois de algum tempo, os gritos cessaram, engolidos pelo som do vento e das árvores. Paulo parou por um momento, olhando para o céu noturno, a lua brilhando suavemente acima. "Enquanto a lua no céu brilhar, eu sempre vou te amar," ele sussurrou, lembrando-se da promessa feita a Estéfani.

Com o coração pesado, mas com uma nova determinação, Paulo olhou para Erik. "Vamos continuar. Por João Carlos, por Estéfani, por todos nós."

E assim, eles seguiram em frente, sabendo que o sacrifício de João Carlos não seria esquecido, e que sua jornada estava longe de acabar.

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