Estefani mal conseguia respirar enquanto se aproximava do hangar onde o avião do velho magnata aguardava. O que ela estava prestes a fazer? Suas mãos tremiam ao segurar o pequeno pedaço de papel onde ele havia rabiscado a proposta: uma chance de embarcar no seu jato particular, rumo ao Polo Sul, em troca de algo que ela não queria sequer pensar. Era sua única opção. Ou era o que ela acreditava naquele momento, sufocada pelo desespero de chegar até Paulo.Assim que embarcou, Estefani sentiu o luxo opressivo da aeronave. O espaço VIP para onde o magnata a guiou era isolado, com assentos de couro macio, cortinas que garantiam privacidade total, e uma iluminação suave que apenas ampliava a sensação de confinamento. Cada detalhe parecia planejado para encurralá-la.
"Aqui estaremos mais à vontade", disse o velho com um sorriso que fez o estômago de Estefani revirar. Ele a convidou para sentar ao seu lado, enquanto ele próprio se acomodava, visivelmente satisfeito com a situação. Estefani tentou disfarçar seu pânico, mas a ansiedade pulsava em suas têmporas. Seu cérebro trabalhava a mil, buscando desesperadamente uma saída para o que estava por vir.
"Vou pedir algumas bebidas para relaxarmos", o magnata anunciou, pegando o interfone. "A viagem será longa."
Estefani murmurou um agradecimento, sua voz falhando um pouco. O que ela poderia fazer? Se ao menos houvesse algum jeito de escapar... Sua mente corria, mas seu corpo permanecia imóvel, paralisado pelo medo do que poderia acontecer.
Poucos minutos depois, a porta do compartimento VIP se abriu. Estefani olhou na direção da entrada, esperando ver uma aeromoça qualquer. Mas o que viu a fez congelar de surpresa. Ali, em um uniforme impecável de aeromoça, estava Alinne.
Estefani mal conseguiu esconder seu choque. Alinne, mantendo a postura e o profissionalismo exigidos pela situação, pisca discretamente para Estefani. Era um sinal. Um sinal para que ela mantivesse a calma e seguisse o plano.
Alinne colocou uma bandeja de bebidas e aperitivos sobre a mesa diante deles. "Aqui estão as bebidas que o senhor pediu", disse ela, sua voz firme e controlada.
Estefani, ainda atônita, estendeu a mão trêmula para pegar uma taça. "Obrigada", murmurou, lutando para manter a voz firme. Sentiu que precisava ganhar tempo, pensar em algo. "Vou ao banheiro... já volto."
O magnata acenou, absorto demais em sua própria satisfação para se importar com o nervosismo evidente de Estefani. Ela se levantou rapidamente e saiu do compartimento, a taça ainda em sua mão, as pernas trêmulas.
No corredor, Alinne a aguardava próxima à porta do banheiro. Assim que as duas se encontraram, Estefani explodiu em um sussurro ansioso: "Como assim você está de aeromoça? O que você está fazendo aqui?"
"Eu não podia deixar você nessa sozinha", Alinne respondeu, sem perder a calma. Sua presença trazia uma onda de alívio para Estefani, mas também um mar de perguntas. "Eu sabia que você estava em apuros e precisava de ajuda."
"Mas... e a verdadeira aeromoça?" Estefani questionou, ainda tentando entender como Alinne havia conseguido se infiltrar.
"Está 'dormindo' na cozinha do avião", disse Alinne com um sorriso sutil. "Dei a ela um pouco de sonífero que encontrei no ambulatório da aeronave. E, aliás, o nosso amigo milionário também vai dormir profundamente. Coloquei um pouco do mesmo sonífero na bebida dele."
Estefani olhou para Alinne, chocada, mas ao mesmo tempo aliviada. Era uma jogada arriscada, mas parecia que havia funcionado. "Eu não sei como agradecer", disse, sua voz quase falhando com a emoção. "Você me salvou."
Alinne segurou o braço de Estefani, seus olhos sérios. "Estamos juntas nessa. Agora, vá lá e finja que nada aconteceu. Precisamos garantir que ele esteja mesmo dormindo."
Estefani assentiu, tomando um fôlego profundo para se recompor. Ela voltou para o compartimento VIP, o coração ainda acelerado, mas com uma nova determinação. O velho magnata já estava recostado na poltrona, com os olhos fechados e a respiração pesada. O sonífero havia feito efeito mais rápido do que Estefani esperava.
Ela se sentou de volta ao seu lugar, observando o homem que agora estava inofensivo, roncando levemente. A adrenalina que antes a dominava começou a se dissipar, substituída por um cansaço profundo e uma sensação de alívio. Alinne havia garantido sua segurança, pelo menos por enquanto. A jornada ao Polo Sul continuava, mas agora, com uma nova esperança.
Enquanto o avião continuava sua rota, Estefani fechou os olhos por um momento, tentando se acalmar. Sua mente voltou a Paulo, à promessa que fizeram sob a lua. Ainda havia muito caminho pela frente, e a incerteza sobre o que os aguardava era grande. Mas, com a ajuda de Alinne, ela sabia que ainda tinha uma chance de encontrar seu amado e cumprir a promessa que fizera.
E, naquele momento, isso era tudo o que importava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Terra Partida
Science FictionEm um mundo à beira do colapso, Paulo, um apaixonado por geofísica, começa a perceber sinais alarmantes de um desastre iminente. Trabalhando no Japão, ele se apaixona por Estefani, sua colega de trabalho. Antes de viajar para o Brasil, Paulo alerta...