A brisa cortante do Polo Sul fazia o ar parecer lâminas afiadas. Estefani estava deitada na neve, seu corpo fraco e ferido devido ao acidente aéreo. Ao seu lado, o sangue de Alinne tingia a neve de vermelho. A dor era quase insuportável, e o frio intenso parecia penetrar cada fibra do seu ser. Com um esforço tremendo, Estefani tentou se levantar, mas o cansaço e a dor eram demais. Finalmente, sua visão ficou turva e ela apagou.Flash 1:
Em uma breve claridade de consciência, Estefani viu-se cercada por uma paisagem branca e os sons de motores distantes. Carros robustos, adaptados para a neve, se aproximavam rapidamente. Jeeps pretos cortavam a paisagem gelada com um propósito. Sua visão começou a se distorcer novamente e a escuridão tomou conta dela.
Flash 2:
Em outra vaga consciência, ela estava cercada por soldados encapuzados. Eles falavam entre si, suas vozes abafadas pela máscara de frio. Uma voz grave disse: "Parece que ela está viva. Estava no voo do coronel Julian Arkwright. Deve ser da elite. Vamos levá-la." As palavras eram carregadas de um tom de urgência e frieza. A escuridão voltou a se fechar ao redor de Estefani.
Flash 3:
O próximo flash trouxe uma sensação de movimento. Estefani estava deitada em uma maca dentro de um veículo em movimento. Os soldados estavam ao seu redor, conversando com um tom descontraído que contrastava com a situação. Um deles fez uma piada: "Se no recomeço do novo mundo essa aí for a nova Eva, vou me candidatar para ser o Adão."
Outro soldado riu e respondeu: "Então vai ter que ser uma Eva para vários Adãos, porque eu também quero."
A conversa se misturou com a névoa da inconsciência, e Estefani se deixou levar pela escuridão novamente.
Flash 4:
Estefani despertou com o som abafado de vozes ao redor. Seu corpo ainda estava pesado, e a dor persistia, mas algo na urgência da conversa dos soldados chamou sua atenção.
"Olhem para o céu! Um avião monomotor tentando pousar na neve!" disse um dos soldados, alarmado.
Ela forçou seus olhos a se abrir. Com dificuldade, sua visão ainda turva captou alguns soldados olhando pela janela do veículo, enquanto outros gritavam ordens. A menção do avião acendeu uma faísca de esperança em sua mente. Quem estaria naquele avião? A pergunta ecoava enquanto sua visão novamente se fechava.
Despertar Final:
O som de corpos sendo jogados dentro do veículo fez Estefani acordar de repente, seu coração acelerado. Seu corpo ainda doía intensamente, mas agora sua mente estava mais alerta. As portas se abriram com violência, e ela ouviu o barulho de botas pesadas, o impacto surdo de algo – ou alguém – sendo jogado no chão metálico.
"Pare de resistir!" uma voz masculina gritou.
Então, em meio ao caos, Estefani ouviu uma voz que a fez prender a respiração. Mesmo com o som abafado e o cansaço dominando seu corpo, ela reconheceu instantaneamente: *"Deixem-nos em paz!"* Era Paulo. Seu coração disparou.
Com o pouco de força que lhe restava, ela conseguiu se mover, seus olhos buscando desesperadamente a origem daquela voz. Entre a confusão de sombras e figuras, ela o viu. Paulo estava caído no chão, ofegante, enquanto um soldado o empurrava. Erik e João Carlos estavam ao lado, igualmente exaustos e feridos.
"Paulo..." Ela tentou chamar por ele, mas sua voz saiu fraca, quase inaudível. Mesmo assim, como se tivesse sentido sua presença, Paulo olhou em sua direção. Seus olhos se arregalaram ao vê-la, e ele tentou se levantar de imediato, ignorando a dor.
"Estefani!" Paulo gritou, sua voz cheia de emoção, enquanto lutava para se aproximar. Ele deu um passo vacilante em direção a ela, mas foi derrubado por um dos soldados. Apesar da dor evidente, Paulo forçou-se a levantar novamente, a determinação em seu olhar inabalável. Ele empurrou o soldado que tentou detê-lo e, finalmente, caiu de joelhos ao lado dela.
Sem hesitar, Paulo a envolveu em um abraço forte e desesperado. Estefani, ainda fraca, retribuiu o abraço com todo o amor que conseguia expressar naquele momento.
"Eu achei que tinha perdido você..." Paulo sussurrou com a voz trêmula, suas mãos tremendo enquanto seguravam o rosto dela.
"Eu também pensei... mas você está aqui," ela murmurou, com lágrimas escorrendo dos olhos.
O soldado que os observava fez uma tentativa de separá-los, bufando de frustração. "Não há permissão para contato! Mantenham a ordem!" ele gritou.
Mas nem Paulo nem Estefani o escutaram. Eles continuaram abraçados, ignorando o caos ao redor. Sentindo o calor um do outro, no meio da tempestade gelada, finalmente estavam juntos.
João Carlos, observando a cena ao lado de Erik, fez uma careta de dor ao se ajeitar no assento improvisado. "Esses dois estão em um filme de romance enquanto o mundo acaba," ele murmurou, arrancando uma risada cansada de Erik, apesar das circunstâncias.
O veículo voltou a se mover, balançando ao atravessar a paisagem branca e desolada do Polo Sul. A tensão no ar ainda era palpável, mas naquele momento, para Paulo e Estefani, tudo parecia mais suportável. O reencontro trouxe alívio, mesmo que temporário, em meio ao caos de suas vidas.
Enquanto o veículo avançava para um destino incerto, Paulo segurava a mão de Estefani com força. "Eu nunca vou te deixar," ele prometeu com firmeza.
"Eu sei," ela respondeu, fechando os olhos e, pela primeira vez em muito tempo, sentindo um pequeno lampejo de esperança.
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Terra Partida
Science FictionEm um mundo à beira do colapso, Paulo, um apaixonado por geofísica, começa a perceber sinais alarmantes de um desastre iminente. Trabalhando no Japão, ele se apaixona por Estefani, sua colega de trabalho. Antes de viajar para o Brasil, Paulo alerta...